O organismo pede socorro

É do bom senso que sempre se deve ingerir bebidas alcoólicas com moderação. Os malefícios do exagero no consumo já são do conhecimento de todos.

Estes efeitos quando combinados com o ato de dirigir, então, fazem uma associação “explosiva”. Some-se a isso, o período de Carnaval, fazendo todas essas recomendações escoarem pelo ralo. Se nada de pior acontecer, o risco de amanhecer, depois de uma noite de tragos largos, com a sensação de que a cabeça tem o dobro de verdadeiro peso tem um nome conhecido: ressaca.

Os efeitos do distúrbio passam por sensações estranhas no corpo, uma leve “amnésia” que faz o bebedor tentar se lembrar do que aconteceu na noite anterior, sem sucesso.

Às vezes, se levantar é a última coisa que a pessoa pensa em fazer. O primeiro pensamento equilibrado vem como uma promessa: “nunca mais eu vou beber.”. Esta quase sempre não cumprida.

A organização não governamental Cisa – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool alerta para a elevada prevalência dos casos de ressaca.

Estudos apontam que 75% das pessoas que consomem doses acima do limite já sofreram odo distúrbio pelo menos uma vez na vida.

Em relação aos jovens, 90% dos estudantes bebedores não frequentes haviam sofrido ressaca, enquanto 50% dos bebedores mais assíduos apresentaram o distúrbio no último ano.

Substâncias tóxicas

A ressaca está associada à intoxicação aguda de álcool e inicia-se cerca de seis a oito horas após o consumo, podendo durar até 24 horas. Júlio Coelho, especialista em cirurgia do Aparelho Digestivo, reconhece que a moderação ainda é a melhor forma de evitar os desconfortos da ressaca.

O mal-estar surge porque o álcool é absorvido muito rapidamente pelo estômago. Depois de metabolizado, é levado pela corrente sanguínea até o cérebro. “Com efeito, bombardeado por diversas substâncias tóxicas que o agridem, o órgão reage por meio dessa síndrome”, explica Coelho.

Para a psiquiatra Camila Guindalini, o álcool como qualquer outra droga de abuso, se for utilizada regularmente, tende a promover sintomas conhecidos como tolerância – redução na intensidade da resposta e necessidade de consumir uma quantidade cada vez maior para se obter o efeito anteriormente alcançado.

Assim, a quantidade de bebida ingerida, além de outros fatores, como o intervalo de tempo do consumo ou o tipo de bebida, estão relacionados ao aparecimento da ressaca.

“Estudos apontam que fatores psicológicos e vulnerabilidade à dependência de álcool, como predisposição genética, também estão envolvidos na manifestação do problema”, avalia a médica.

Com efeito, filhos de pais dependentes de álcool, mais vulneráveis à dependência, apresentam ressacas mais graves do que filhos de não-dependentes, em condições comparáveis de frequência e quantidade de álcool consumido, conforme apontou pesquisa sobre o tema.

Custo financeiro e social

O distúrbio também tem sido associado a um alto custo econômico. Apesar de ser difícil separar os efeitos da ressaca dos efeitos do álcool em geral – como o absenteísmo, baixa produtividade ou baixo desempenho -, maior número de acidentes de trabalho e conflitos interpessoais estão associados às consequências negativas do consumo de álcool e da ressaca no trabalho e em ambientes acadêmicos.

Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, com 2.805 trabalhadores, mostrou que o álcool afeta diretamente cerca de 15% dos pesquisados, sendo que 9,23% trabalharam com ressaca, 1,68% trabalharam sob os efeitos do álcool, 1,83% beberam antes de trabalhar e 7,06% beberam durante o horário de trabalho.

“Com base nesses indicadores, os custos gerados em decorrência da ressaca seriam maiores quando comparados com as despesas referentes aos efeitos do álcool em geral”, avaliam os pesquisadores.

Apesar das diferenças na predisposição ao distúrbio, provocadas pelo álcool, deve ficar cla,ro que a quantidade que cada pessoa pode suportar é uma questão inerente ao organismo de cada um. Assim, mesmo os mais “fortes” para a bebida sofrem, dependendo da quantidade ingerida, não importando se ela é de boa ou má procedência.

É importante lembrar de que não existe nenhuma “fórmula mágica” capaz de evitar completamente a ressaca. “Se você beber além da conta, possivelmente seu organismo pagará por isso no dia seguinte”, conclui Júlio Coelho.

Sintomas variados

Embora haja uma variação muito grande dos sintomas, os mais comuns são:

” Dor de cabeça
” Náuseas e sudorese
” Dificuldade de concentração
” Boca seca
” Tontura, cansaço e sonolência
” Distúrbio gastrintestinal
” Tremores
” Falta de apetite
” Ansiedade e irritabilidade

Fique bem no dia seguinte

Algumas sugestões para o folião acordar bem no dia seguinte

” Hidrate-se – a ressaca está associada a desidratação. No dia seguinte, beba água em abundância, para combater esse efeito e ajudar a recuperar o organismo.
” Se alimente – Procure fazer refeições ricas em proteínas ou carboidratos, sempre em quantidades moderadas.
” Use a cabeça – Não misture bebidas diferentes. Não beba se estiver usando medicação ou em tratamento médico. Se beber, não dirija.
” Ajuda externa: Ingerir glicose e frutose (basicamente, doces e frutas) pode ajudar seu corpo a se livrar do álcool mais rapidamente.