O mal do envelhecimento cardíaco

Quem pensa que a idade de uma pessoa é revelada por seus cabelos brancos, pela quantidade de rugas no rosto ou pela lentidão nos passos pode estar muito enganado.

Uma pessoa que apresenta de fatores de risco, como tabagismo, hipertensão, sedentarismo, obesidade abdominal e taxas metabólicas elevadas, principalmente de colesterol, triglicérides e glicose, tem o coração envelhecido precocemente.

É a síndrome metabólica, uma série de condições clínicas que podem, conjuntamente, propiciar o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardíacas são responsáveis por mais de 17 milhões de mortes no mundo. Isso a cada ano.

De acordo com o cardiologista Dalton Précoma, professor de cardiologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), essas condições podem se mostrar apenas como a ponta de um iceberg, já que podem esconder uma série de ameaças a outros órgãos vitais.

“As pessoas diagnosticadas com síndrome metabólica correm duas vezes mais riscos de sofrer infarto e derrame”, adverte. A faixa etária em que a síndrome se torna mais prevalente se localiza entre os 60 e 69 anos de idade, apesar de também afetar pessoas com menos de trinta anos.

Para o especialista, tais critérios são provenientes de fatores, como predisposição genética, estilo de vida, tipo de alimentação, sedentarismo e estresse do dia-a-dia. Nessas condições, conforme Précoma, se encontram, aproximadamente, 60% dos brasileiros, de acordo com estudos da OMS.

O médico cita a circunferência abdominal ou gordura visceral como um dos fatores de risco mais preocupante. “Esse tipo de gordura bloqueia a ação da insulina, sobrecarregando o pâncreas e trazendo o risco da incidência de aterosclerose”, explica.

Medidas simples

O médico compara o coração, com a caixa d’água de uma casa, que fornece os nutrientes que uma pessoa precisa para viver. Em casa, a água limpa é bebida sem receios e lava todos os germes. No corpo, o coração bombeia o sangue, irrigando todos os órgãos.

“Sem uma boa circulação, o organismo não funciona como deveria”, diz o endocrinologista Alfredo Halpern, chefe do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da USP.

Para o especialista, em vez de gastar tanto com cosméticos e suplementos que prometem retardar ou reverter o envelhecimento da pele ou do corpo, as pessoas deveriam se preocupar mais em preservar a circulação e combater a aterosclerose (envelhecimento e endurecimento das artérias). “Sem circulação eficaz, o corpo e a pele degeneram e tornam-se doentes. Aí não tem cosmético que dê jeito”, avisa.

Ao contrário, controlar ou evitar índices alterados das condições clínicas que compõem a síndrome metabólica, pode, portanto, não só evitar o envelhecimento cardiovascular precoce como, também, salvar vidas.

No Brasil, as estimativas são desanimadoras: Cerca de 300 mil óbitos registrados anualmente (ou 40% do total de mortes) são imputados às doenças cardíacas. São 820 óbitos por dia, 34 por hora ou 1 a cada 2 minutos, provocados principalmente por infarto, derrame e insuficiência cardíaca. “A maioria dos casos poderia ser evitada com medidas simples de prevenção e controle”, afirma Dalton Précoma.

Alimentação e exercícios

Estudos associaram o desenvolvimento da síndrome metabólica com o alto consumo de alimentos ricos em carboidratos, como doces, pães e outros alimentos ricos em farinha e açúcar.

Conforme o cardiologista Alexandre Alessi, do Hospital Santa Cruz, eles também aumentam rapidamente os níveis de açúcar no sangue, fazendo com que o organismo responda, aumentando seus níveis de insulina. “Em excesso, o organismo cria uma resistência, potencializando tais riscos”,, comenta.

Alessi enfatiza que a síndrome metabólica é, geralmente, ligada à obesidade. Tudo piora quando a pessoa se mantém com sobrepeso, não pratica atividades físicas e fuma. Outro distúrbio ligado à síndrome é o estresse. Alguns estudos apontam que essa condição pode servir de gatilho, comprometendo a circulação.

Costantino Ortiz Costantini, cardiologista da Clínica Costantini, comenta que evitar o sobrepeso é o primeiro passo para se ficar longe da síndrome metabólica. Para o especialista, uma redução na quantidade de calorias ingeridas e a atividade física já trazem ótimos resultados. “Muitas vezes, a adoção de hábitos simples basta para diminuir riscos sem recorrer aos medicamentos específicos para combater o distúrbio”, completa.

Parâmetros variáveis

Conheça alguns parâmetros utilizados atualmente pelos especialistas para identificar a incidência da síndrome metabólica. Pressão sangüínea – A pressão arterial de 140 x 90 já não satisfaz aos médicos e os novos valores a serem alcançados baixaram para 130 x 80. Com tal medida, os riscos de acidentes vasculares e AVCs diminuem.

Circunferência abdominal – No Brasil, os valores ideais das cinturas dos homens e mulheres diminuíram. Para os homens não podem passar de 90 cm, para mulheres, 80 cm, exigindo maiores cuidados alimentares e atividade física.

Colesterol – Há alguns anos a taxa de colesterol máxima recomendável no sangue diminuiu de 260 para 200. Hoje se observam com mais atenção os níveis do bom e do mau colesterol isoladamente.

Glicemia de jejum – Os especialistas em diabetes estão utilizando valores de glicose abaixo de 100 mg/dl. Glicemias de jejum entre 100 e 126 mg/dl são consideradas suspeitas. Triglicérides – Como estão ligadas diretamente ao LDL (colesterol ruim) não devem passar de 140 mg/dl.