O especialista: Présbys = velho, ancião

ms1100506.jpgTenho em minha casa sete cães. Todos grandes cães de guarda. O chefe da matilha morreu ainda outro dia. Cada vez que uma das fêmeas entrava no cio, mesmo velho, ele tinha que fazer valer sua força, sobrepujando os machos mais novos. Dá para imaginar que cada cio era um ?auê?. Acho que todos os seres humanos sonham com esta história: sermos respeitados pelos mais novos mesmo com o chegar da velhice, independente se homens ou mulheres.

Presbiopia, ou vista cansada, é a primeira limitação física evidente que o tempo nos impõe. Representa um ?handicap?. Até os 40 e 45 anos ou mesmo na faixa dos 60 anos de idade tudo funciona bem. Competimos em todos os campos com os mais jovens. Mas a visão de perto atrapalha nosso desempenho em diversas funções, como decorrência da perda da elasticidade do cristalino ? a lente natural dos olhos.

E o sinal mais evidente do ?envelhecimento? da nossa visão é a sensação de que o nosso braço ?ficou mais curto?, já que sentimos a necessidade de afastar o jornal ou a embalagem do supermercado dos olhos para ler com clareza, até que, definitivamente, falta braço para enxergá-los com precisão.

O público feminino é o que mais percebe os efeitos da vista cansada. Retirar a sobrancelha, passar o lápis nos olhos e ler, de acordo com pesquisa por nós realizada há algum tempo foram, nessa ordem, as atividades mais prejudicadas por causa da presbiopia, justamente em plena fase mais ativa da vida das mulheres.

Nota-se, justamente no público feminino, portanto, a melhor relação risco/benefício, bem como os melhores resultados do tratamento da presbiopia. Mas tratar a presbiopia não tem fins meramente estéticos e fica longe de estarmos corrigindo somente um problema refrativo. Estamos lidando com uma área nova.

O tratamento da vista cansada representa uma questão filosófica, na qual a ciência tenta dominar o envelhecimento inexorável do ser humano. E é muito bom quando temos as opções do laser, das lentes intra-oculares e mesmo de lentes de contato especiais para sobrepujar o envelhecimento.

A oftalmologia brasileira tem muito a comemorar graças a esses e vários outros avanços registrados em todas as áreas para curar e controlar as mais graves doenças da visão.

Precisamos, no entanto, garantir a medicina básica às populações carentes. Já conseguimos registrar importantes progressos nessa área, principalmente por meio de grandes mutirões para prevenir a cegueira evitável. Porém, muito ainda precisa ser feito. Esta é a tônica deste Dia Nacional de Oftalmologia.

Hamilton Moreira, professor de oftalmologia da UFPR e secretário do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.

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