O aviso vem pela tosse

A cada segundo uma pessoa no mundo é contagiada com o bacilo da tuberculose, principalmente quem vive em regiões onde prevalecem baixos indicadores sociais, a exemplo do Brasil. Essa difícil realidade enfrentada nas regiões mais pobres foi o tema tratado nas várias mobilizações efetivadas contra a doença em todo o País, coincidindo com o Dia Mundial da Luta contra a Tuberculose (24 de março), afinal, a doença requer cuidados específicos e muito rigorosos.

Entre suas particularidades, o pneumologista Sidney Bombarda destaca a falta de informação da população. Para o especialista, muitas são as pessoas que têm a tosse como hábito normal. ?Um conceito absolutamente errado, já que a tosse representa um fator de defesa dos pulmões contra algo que o está agredindo?, esclarece.  

Se perguntas simples, como ?possui tosse com escarro? há quanto tempo?? fizessem parte da rotina de todas as consultas nas unidades de saúde, de acordo com o pneumologista e presidente da Sociedade Paranaense de Tisiologia e Doenças Torácicas (SPTDT), Rodney Frare e Silva, a identificação da tuberculose se daria de maneira precoce. Além desses, outros sintomas, como febre ao final da tarde, sudorese noturna, perda de peso e, eventualmente, de escarro com sangue podem indicar a incidência da doença. ?Essa identificação e o tratamento da doença sem que haja perda de tempo possibilitam a cura definitiva da tuberculose, com baixo custo?, afirma o especialista.

Melhora no segundo mês de controle

É importante lembrar que a doença pode afetar qualquer órgão do corpo humano, além dos pulmões, como os rins, ossos ou mesmo o sistema nervoso central. O tratamento é altamente eficaz, quando realizado regularmente durante pelo menos seis meses. Gratuito, está disponível nas unidades básicas de saúde de todo o Brasil. ?As internações são reservadas para os casos mais graves, como situações de sangramento ou insuficiência respiratória?, ressalta Sidney Bombarda.

De acordo com os médicos, o abandono do tratamento é a principal causa que leva à morte os portadores da doença. C.M.S., de 44 anos, comerciário, diz que sente dificuldade em continuar o tratamento por morar sozinho. Ele acha que, nessa hora, a família, que vive no Mato Grosso do Sul, faz muita falta. ?O tratamento é demorado, e sem alguém para nos incentivar fica ainda mais difícil?, comenta.

Aproximadamente 80% dos casos podem ser curados com a combinação de medicamentos. ?A melhora acontece já no segundo mês de controle, quando o paciente não manifesta mais os sintomas e deixa de transmitir a doença?, esclarece o presidente da entidade paranaense. No entanto, de acordo com os médicos, as condições de abandono são extremamente individualizadas e podem envolver diversos conflitos familiares e de trabalho. Por isso, acreditam ser importante entender o momento de cada pessoa e defendem que o atendimento ao paciente tuberculoso seja multidisciplinar, com profissionais capacitados.

A professora V.S.F., de 64 anos, acredita que a falta de informação correta sobre a doença gera preconceito. Ela lembra que algumas pessoas que notaram sua ausência, no período em que esteve internada, depois que souberam que ela tinha tuberculose, recomendaram que não dissesse qual era a doença, temendo que ela fosse vítima do preconceito, principalmente no local de trabalho. ?A doença pode atingir qualquer pessoa. Mas a falta de informação é o principal problema?, constata Frare.

Sem fronteiras

O governo americano, por meio da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), apóia o Ministério da Saúde com um programa anual de US$ 2 milhões para aumentar a taxa de cura da tuberculose e de notificação de casos, e diminuir as taxas de mortalidade da doença. O objetivo principal do programa é expandir a estratégia recomendada pela OMS para o controle eficaz da doença. A agência financia projetos para assegurar a qualidade dos medicamentos para tuberculose e monitorar os tratamentos.

Legenda: Funcionário municipal de saúde preparando os kits para tratamento de tuberculose, adquiridos em parceria com a USAID.

Os tristes números da doença

* No mundo, todos os anos são registrados em torno de 8,8 milhões de novos casos.

* Por dia, são 20 mil novos doentes.

* No mundo, anualmente ocorrem 2,7 milhões de óbitos em decorrência da doença.

* São cinco mil mortes diárias.

* No Brasil, ocorrem, em média, 116 mil novos casos por ano.

* Somente 85 mil deles são notificados.

* O País ocupa o 14.º lugar entre os 22 países responsáveis por 80% do total de registros de tuberculose do planeta.

OLHO: Mesmo com a existência da cura há mais de cinqüenta anos, a tuberculose permanece sendo um dos maiores flagelos da humanidade.

Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS)

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