Nem sempre os jovens usam preservativos

A epidemia da aids e a gravidez não planejada deram visibilidade à sexualidade juvenil.

As diferentes formas de intervenção direcionadas para o público jovem resultaram na difusão e no aumento do uso de preservativos entre eles.

Contudo, se o uso de preservativo aumentou entre os jovens, ele ainda não é utilizado por todos e nem em todas as relações sexuais.

Isso é o que mostra um estudo realizado com mais de quatro mil jovens de 18 a 24 anos, de ambos os sexos, em diversas capitais brasileiras.

Segundo os pesquisadores, o estudo teve por objetivo identificar quais são os fatores relacionados ao uso do preservativo pelos jovens. Para tanto, foi analisada a declaração de uso do preservativo em dois eventos da trajetória dos jovens, a primeira e a última relação sexual.

Os resultados mostram que a classe social e a idade da iniciação sexual apareceram associados ao uso do preservativo nos dois eventos estudados, exercendo forte influência para ambos os sexos.

“Neste estudo, o pertencimento social aparece como mais decisivo no comportamento dos jovens do que outras variáveis de cunho mais individual, como é o caso da escolaridade do entrevistado”, conclui a psicoterapeuta Ana Maria Borges Teixeira.

Na iniciação sexual, de acordo com a pesquisadora, a escolaridade da mãe está associada ao uso de preservativo para ambos os sexos, chegando a superar a do entrevistado como fator determinante, como é o caso entre os rapazes.

Desvantagem

Um outro achado interessante do estudo, segundo a psicoterapeuta, é o de que o uso do preservativo na iniciação sexual aumenta a probabilidade de uso na última relação.

Segundo os pesquisadores, esse dado mostra que os jovens que usam preservativo na iniciação tendem a manter essa prática no decorrer de sua vida sexual, o que reforça a necessidade de orientação continuada para o estímulo ao uso do preservativo.

“Vale ressaltar ainda que, além do número de parceiros, a mudança do estatuto do relacionamento, ou seja, de eventual para estável, está relacionado à diminuição do uso de preservativo e ao conseqüente aumento do uso de outros métodos de contracepção, como a pílula anticoncepcional”, destaca Ana Maria Teixeira.

De acordo com a pesquisa, nos relacionamentos considerados estáveis, a prioridade deixa de ser a proteção das infecções de transmissão sexual e passa a ser a prevenção da gravidez.

Dessa forma, os pesquisadores ressaltam que o maior uso de preservativo entre os jovens não implica um uso continuado. “Daí a importância de estudos que avaliem a consistência do uso de preservativo e que possibilitem definir estratégias para aumentar a sua utilização no decorrer da vida. Ênfase especial deve ser direcionada às mulheres, que se encontram em situação de desvantagem, comparadas aos homens, tanto na primeira como na última relação”, destaca o artigo.