Narcolepsia é o sono como doença

Quando dormia durante as aulas na escola, Daniely Ribeiro dos Santos não desconfiava que poderia ser vítima de um distúrbio neurológico que provoca crises incontroláveis de sono durante o dia.

Pouco conhecida do grande público, a narcolepsia causa forte tendência a cochilos em situações inapropriadas, mesmo que a pessoa tenha dormido uma quantidade adequada de horas durante a noite.

“Por dormir muito, sofria preconceito dos colegas de classe e até dos professores, que questionavam o meu desinteresse pela aula”, explica Daniely, confirmando que aquilo era algo involuntário, pois dormia em qualquer lugar.

Reflexo de uma noite mal dormida ou mesmo de algum distúrbio de sono não reconhecido pela pessoa e “desconhecido” para muitos profissionais de saúde, a sonolência excessiva diurna pode ser sintoma da narcolepsia.

A estudante só conseguiu um diagnóstico correto, depois de passar por diversos consultórios médicos, inclusive de neurologistas. Três anos mais tarde -aconselhada por familiares – e, atualmente, professora do ensino fundamental teve a confirmação de que sofria da doença e começou o tratamento com especialistas em distúrbios do sono.

Hoje, além do acompanhamento médico, vais se adaptando a novos hábitos, como dirigir apenas trajetos curtos – uma vez que já bateu o carro por dormir ao volante – e fazer cochilos programados.

Mal crônico

É comum portadores da narcolepsia não perceberem que estão doentes e serem tachados de preguiçosos e dorminhocos.

No entanto, ao procurar auxílio especializado, descobrem que são vítimas de um mal crônico.

O principal sintoma da narcolepsia é a sonolência excessiva diurna constante, expondo o paciente a riscos e constrangimentos.

O distúrbio é uma condição neurológica caracterizada por um estado de sonolência quase contínua e por crises incontroláveis de sono que deixam o paciente em perigo durante a realização de tarefas comuns, como dirigir ou manipular equipamentos que exijam atenção contínua, por exemplo.

A sonolência pode prejudicar a atenção, a concentração e o humor, além de trazer consequências individuais, sociais e econômicas bastante significativas.

Geralmente, os primeiros sintomas – sonolência excessiva diurna e ataques de sono – surgem entre os 15 e 35 anos de idade e, se não tratados, persistem para sempre.

Prevalência

No Brasil ainda não há um estudo de prevalência da narcolepsia, mas estima-se que afete de 100 a 200 mil pessoas.

Sabe-se que, nos Estados Unidos, Europa e Japão, a prevalência equivale a um caso da doença em cada duas mil pessoas.

Segundo dados do National Sleep Foundation, esse número é considerável, sendo equivalente, por exemplo, ao da esclerose múltipla ou da fibrose cística, patologias nas quais a frequência dos pacientes em clínicas e os investimentos em pesquisa são bem maiores do que os relacionados aos pacientes narcolépticos.

A doença é pouco conhecida e, devido à falta de informação, as pessoas não procuram tratamento médico. “Três dos quatro principais sintomas da narcolepsia podem existir em outros distúrbios de sono ou mesmo em situações ocasionais ou frequentes da vida”, esclarece a neurologista Dalva Poyares.

Por ser caracterizado como um distúrbio crônico, o objetivo dos tratamentos é controlar os sintomas, principalmente os que acarretam as crises de sono. Com a administração de medicamentos, o paciente passa a manter suas atividades normais. “Para pacientes narcolépticos, medidas paliativas, tais como lavar o rosto e tomar café, são ineficientes”, informa a especialista.

Tratamento

Como medidas paralelas ao tratamento, médic,os recomendam cochilos voluntários durante o dia para reduzir a sonolência diurna e não exercer atividades de risco.

“Acima de tudo, os tratamentos devem priorizar a qualidade de vida dos pacientes”, completa a médica.

Para combater a doença, uma das substâncias mais utilizadas é a modafinila.

O medicamento atua no sistema nervoso central, ativando regiões do cérebro responsáveis pela promoção do estado de vigília sem interferir no sono noturno. Para se obter o efeito ideal do produto, o indicado é o paciente tomá-lo logo pela manhã. “No caso da narcolepsia, a modafinila é um medicamento significativamente mais seguro que seus antecessores, pois não causa os efeitos colaterais de estimulantes da classe das anfetaminas e da cafeína, como irritabilidade, irritação gástrica e aumento da pressão arterial sistêmica, por exemplo”, declara o médico Flávio Alóe, especialista em distúrbios do sono.

Importante lembrar que o acompanhamento médico é fundamental. Ficar sem dormir prejudica o organismo a longo prazo: provoca déficit cognitivo, doenças cardíacas e baixa imunidade.

Importância do sono

Especialistas dizem que o ser humano precisa de um número de horas de sono mínimo diário, que pode variar entre os indivíduos, além de descanso físico e mental, para que o corpo realize vários processos metabólicos vitais.

Estudos com pessoas privadas de sono (dormem menos do que precisam) mostram que o vigor físico, a resistência às doenças, a atenção, a coordenação motora e muitas outras atividades são seriamente prejudicadas quando não se dorme.

A qualidade do sono influencia a vida diária. “O sono é um processo vital para o equilíbrio do corpo e, principalmente, para o funcionamento do cérebro e da mente humana”, completa a especialista em distúrbios do sono Luciana Palombini.

Outros sintomas da narcolepsia

* Baixa concentração, pouca atenção }e falhas de memória
* Sono noturno fragmentado
* Sensação de estar fora do corpo
* Pesadelos ou sonhos bizarros
* Perda reversível e súbita da musculatura voluntária (cataplexia)
* Episódios de paralisia que ocorrem no início da noite
* Visão de imagens dos sonhos enquanto acordado (alucinações hipnagógicas)

Dicas para uma boa noite de sono

* Manter horário regular para dormir e despertar
* Não fazer uso de medicamentos sem orientação médica
* Evitar o consumo de café e refrigerante
* Jantar moderadamente em horário regular e adequado
* Não deixar TV e nem luz ligados
* Não levar trabalho para a cama
* Fazer atividades repousantes e relaxantes após o jantar
* Manter um nível de atividades adequado durante o dia
* Não permanecer na cama sem sono, por mais de 20 ou 30 minutos

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