Morte súbita não costuma mandar avisos

Apesar dos evidentes progressos, como o surgimento de novos tratamentos, técnicas e medicamentos, sem contar a disseminação de inúmeras medidas e programas de prevenção, no mundo ocorrem milhões de casos de casos de morte súbita por ano.

No Brasil, estima-se que esses “acidentes” cheguem perto de 300 mil por ano, algo em torno de uma morte a cada 5 minutos.

“Trata-se de uma questão que merece atenção permanente, ainda mais porque o tratamento preventivo das arritmias cardíacas é altamente eficaz e permite evitar grande número dessas mortes”, alerta o cardiologista José Carlos Pachon.

Dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) apontam que, em nosso País, ocorre um ataque cardíaco por minuto, sendo que, em 90% dos casos, a vítima morre antes de conseguir um atendimento emergencial.

Por isso, é fundamental saber reconhecer uma parada cardiorrespiratória antes de iniciar o atendimento imediato e tentar evitar a morte súbita.

“Quando ocorre um quadro de parada cardíaca, o tempo é fundamental. Cada minuto que passa representa 10% a menos de chance de sobrevivência”, afirma cardiologista José Carlos Moura Jorge, presidente da Sociedade Paranaense de Cardiologia.

Na morte súbita é assim: tudo é muito rápido. De repente a pessoa começa a sentir uma forte dor no peito, passa por dificuldades de respiração, sente náuseas, perde a força muscular e, consequentemente, o equilíbrio.

Esses são alguns dos sintomas que podem sinalizar que ela esta preste a sofrer uma parada cardiorrespiratória. No entanto, é bom não ficar esperando por esses “avisos”, pois, o mais comum é a chegada fatal do distúrbio sem aviso prévio.

Desfibriladores

Pode ser que a vítima esteja em casa, no supermercado, na academia ou até mesmo no hospital, seja em tratamento ou visitando algum paciente. Para recuperar os batimentos e evitar sequelas, a pessoa precisa ser atendida imediatamente. Invariavelmente, isso nem sempre acontece. Muito se deve a desinformação e a confusão sobre os sintomas da arritmia.

Outro fator complicador é que em muitos locais, mesmo os de grande circulação de pessoas não existem desfibriladores – o verdadeiro “anjo da guarda” de que sofre um infarto.

Esses equipamentos emitem um choque elétrico no peito fazendo com que o coração volte a bater e a exercer sua função de bombear sangue e oxigênio pelo organismo.

Segundo José Carlos Pachon, ter o equipamento disponível para uso imediato é essencial na recuperação total do paciente. De acordo com a especialista, grande parte dos casos de parada respiratória são reversíveis pelo uso do desfibrilador.

“Para que isso aconteça, é importante o equipamento estar sempre em local de fácil acesso e que as pessoas tenham o mínimo de noção de como usá-lo”, reconhece o especialista.

O médico intensivista Alvaro Réa Neto alerta para a necessidade de autoridades e empresários formarem brigadas de leigos capacitadas em utilizar um desfibrilador.

Estatísticas mostram que o mecanismo que provoca a fibrilação ventricular (distúrbio nas contrações do coração em decorrência do infarto) responde pela maioria dos casos de parada cardíaca.

O equipamento é a única forma de garantir temporariamente a sobrevida desses pacientes.

Equipe preparada

Segundo o cardiologista Sérgio Timerman, diretor do laboratório de treinamento e simulação em emergências cardiovasculares do Incor, de São Paulo, o uso do desfibrilador nos primeiros minutos aumenta em 75% as chances de sobrevida de uma vítima da morte súbita, mal que pode atingir qualquer indivíduo, independentemente da idade e da condição física.

“É necessário que a população esteja atenta e saiba reconhecer e prestar os primeiros socorros a uma pessoa que apresente tal risco”, explicou Timerman, recentemente, em um encontro científico no Hospital Cardiológico Costantini.

De acordo com Edinaldo Oliveira, coordenador de enfermagem da Unidade de Pronto Atendimento do Hospital Pilar, a equipe da instituição segue as diretrizes do BLS (Suporte Básico de Vida) e do ACLS (Suporte Avançado de Vida em Cardiologia) na recepção de pacientes com sintomas de morte súbita.

“Reconhecemos que só utilizar o desfibrilador não resolve, a equipe hospitalar também deve estar preparada para dar todo o suporte ao paciente e a todos os que circulam ou trabalham nas suas dependências”, alerta.

Também é necessário que os emergencistas passem por cursos de educação continuada e treinamentos freqüentes para se manterem sempre atualizados no atendimento.

Agilidade no socorro

Sintomas

* Dor no peito, irradiando-se para braços, pescoço ou costas
* Náusea
* Suor
* Palidez

Como socorrer

* Manter o paciente em repouso absoluto, em local ventilado
* Deixá-lo o mais calmo possível
* Acionar um médico imediatamente
* Solicitar com urgência uma UTI móvel

Como prevenir

* Evitar cigarro, bebida e comidas salgadas ou gordurosas
* Controlar o estresse
* Caminhar diariamente ou praticar atividades físicas com frequência
* Passar anualmente por check-up cardiológico

Dicas de prevenção

Para chamar a atenção da população sobre a morte súbita, o Hospital Cardiológico Costantini promove uma ação em conjunto com o Laboratório de Eletrofisiologia de Curitiba e apoio da Sociedade Paranaense de Cardiologia e Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas.

Na quinta-feira, 12 de novembro, Dia Nacional de Prevenção de Arritmias e Morte Súbita, voluntários e médicos das entidades vão lembrar a data com informações à população, demonstrações de reanimação e de como agir no caso de uma emergência cardiológica, e ainda, realizar aferição da pressão arterial, das 9 horas às 17 horas, na Boca Maldita, no centro de Curitiba, e também, no Piso CA do Shopping Mueller, das 10 horas às 18 horas.

Avaliação médica é essencial para esportistas

Parece não haver dúvidas de que o risco de morte súbita em um esportista eventual é muito maior do que em alguém que pratica esportes todos os dias. A grande maioria das pessoas, infelizmente, entra no esporte sem se submeter aos exames ou avaliação médica.

Segundo o cardiologista Pedro Michelotto, isso acontece não só com os peladeiros de fim de semana, mas com os maratonistas eventuais, jogadores de tênis amadores e, até mesmo, com quem corre descompromissadamente no parque.

Marcelo Leitão, especialista em medicina do esporte, diz que as pessoas precisam se conscientizar sobre a importância de um acompanhamento médico efetivo antes de se iniciar em algum esporte. O médico não quer que se entre numa paranóia, da qual o esporte se torne o grande vilão, afinal atividade física é saúde.

“É preciso entender que o esforço demasiado na prática de algum esporte pode ‘acionar’ alguma doença preexistente no atleta, seja ele profissional ou de final de semana”, frisa o médico Leitão, salientando que, se o atleta quiser correr riscos desnecessários, mesmo sabendo das suas reais condições de saúde, não existe avaliação no mundo que o proteja da morte súbita.