Moderação nas festas de fim de ano

As festas de Natal e Ano Novo, que deveriam significar apenas momentos de alegria e descontração, acabam também influenciando o consumo abusivo de bebidas alcoólicas e, conseqüentemente, expondo os consumidores aos seus desdobramentos, entre os quais, acidentes de trânsito, violência, afogamentos, entre outros problemas graves. O Cisa – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool – alerta a população para os riscos ocasionados pelo consumo exagerado de bebidas alcoólicas durante as festas de fim de ano.

Para boa parte da população, a alegria dessas festas é regada a algum tipo de bebida alcoólica. Essa tradição, porém, pode ter conseqüências pouco agradáveis, quando as pessoas não respeitam limites, principalmente antes de dirigir. O uso nocivo de álcool tem exercido papel preponderante no agravamento das estatísticas na época das festividades, na medida em que provoca diversos efeitos nas pessoas, que se estendem desde a desinibição social e relaxamento (com doses baixas) até a sonolência, fala pastosa e coma (com doses mais elevadas).

Segundo o psiquiatra Luiz Alberto Chaves de Oliveira, as festas de final de ano são ocasiões de facilitação do uso da bebida, muitas vezes inconsciente por parte dos pais. “O uso exagerado das bebidas nessas comemorações dá as crianças a falsa idéia de que o uso de drogas traz alegria e felicidade”, afirma o médico, reconhecendo que, na sociedade ocidental as festas de final de ano ocupam muitas vezes os ritos de passagem de uma fase para outra, como ocorriam antigamente com as festas de debutantes (no caso das meninas).

Álcool e direção

Hoje, representam uma atmosfera de nova vida, principalmente, para os adolescentes pode significar a passagem da infância para a fase adulta. “A família deve estar atenta para que as crianças não assistam a comportamentos maléficos para a saúde”, adverte o Oliveira.

Nunca tantos jovens com idade tão baixa usaram tanta bebida quanto hoje. O principal motivo, segundo o psicólogo Dionísio Banaszewski, é a facilidade com que as pessoas têm acesso às bebidas alcoólicas. “O número de pontos de venda cresceu assustadoramente”, atesta. Somada a isso, acrescenta a maciça publicidade em torno, principalmente, da cerveja como uma das causas do aumento de consumo.

Apesar da severidade dos efeitos aumentar em relação direta com o aumento do consumo de álcool, pode haver perda de reflexos e prejuízos no julgamento crítico a partir da ingestão das primeiras doses, já que a tolerância ao álcool varia de indivíduo para indivíduo. Entra aí o perigo da mistura de álcool e direção. A ingestão de bebidas alcoólicas, mesmo que em uso moderado (até três doses diárias para homens e duas doses para mulheres) está associada com dirigir em velocidade excessiva e ocorrência de acidentes fatais de trânsito.

Ressaca

A combinação de bebida alcoólica e banho de mar também pode tornar-se perigosa, principalmente quando associada à imprudência e desconhecimento das áreas de perigo nas praias. Estatísticas apontam que, em 2007, 44,9% das vítimas de afogamentos estavam embriagadas.

Em época de festividades, outra conseqüência freqüente é a ressaca do dia seguinte. Os médicos do Cisa reforçam que o uso de medicamentos utilizados para preveni-la não é eficaz e, pior, pode potencializar a ação lesiva do álcool sobre a mucosa gástrica. Este tipo de remédio pode, ainda, agravar a inflamação do estômago e piorar as náuseas e vômitos, caso contenham o ácido acetil-salicílico.

Estes feriados de Natal e Ano Novo serão os primeiros após a implantação da lei seca e há uma expectativa geral de que a nova legislação provoque reflexos positivos nas estatísticas de fim de ano, auxiliando na redução das taxas de violência, homicídios e acidentes de trânsito associados ao consumo abusivo de álcool.

O álcoo,l e o coração

De acordo com o supervisor de cardiologia do HCor – Hospital do Coração de São Paulo-, Ricardo Pavanello, é possível comemorar sem colocar a saúde em risco. Segundo a Organização Mundial da Saúde, para pessoas saudáveis, o consumo de até 30 gramas de bebida alcoólica pode reduzir a incidência de infarto.

O vinho tinto em especial, por ser rico em flavonóides – substância que atua na estabilidade da parede dos vasos sanguíneos, diminuindo o acúmulo de placas de gordura nesses vasos – reduz a possibilidade de um infarto. A bebida contém ainda outro grupo de substâncias químicas, os polifenóis, que atuam numa enzima vaso-protetora presente no coração e sintetiza o óxido nítrico, outro relevante elemento que evita o acúmulo de gordura. Entretanto, o consumo em excesso de bebidas alcoólicas aumenta os níveis de triglicérides no sangue. No caso de bebidas destiladas, como a vodca e o uísque, o malefício pode ser ainda maior, já que seu consumo em doses elevadas pode causar danos ao músculo do coração.

O especialista explica que, em consumidores regulares de grandes quantias de álcool, o etanol pode apresentar efeitos tóxicos direto no músculo cardíaco (miocárdio) e com o tempo ocasionar uma miocardiopatia alcoólica dilatada. “Em portadores de insuficiência cardíaca, de qualquer origem, o consumo excessivo da bebida poderá descompensar tais pacientes”, alerta Ricardo Pavanello.

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