Mente e corpo ativos garantem envelhecimento mais saudável

Arquivo / O Estado
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Idosos que fazem atividades aeróbicas
se saem melhor em testes de raciocínio.

São Paulo (AE) – Evidências indicam que pessoas intelectualmente ativas têm risco menor de sofrer Alzheimer. Pesquisas mostram que exercícios mentais melhoram funções cerebrais. Idosos que fazem atividades aeróbicas se saem melhor em testes de raciocínio, segundo estudos.

Na trilha para entender o envelhecimento da mente, pesquisadores se dedicam a identificar quais e como atividades físicas e intelectuais interferem na estrutura mental. E estão descobrindo que mudanças na qualidade de vida propagadas para prevenir ataques cardíacos e derrames são também válidas para proteger o cérebro.

"Não é preciso esperar até o aparecimento de uma droga milagrosa. Há muitas coisas que se podem adotar agora para melhorar a vitalidade da mente e promover um envelhecimento saudável. Uma delas é o exercício", explica o médico Arthur Kramer, da Universidade de Illinois, participando de um estudo que relacionou a prática de exercícios aeróbicos à diminuição na perda do tecido cerebral, processo que se inicia a partir dos 40 anos.

Publicado no Journal of Gerontology, periódico científico, a pesquisa analisou os efeitos no cérebro de atividades físicas feitas por 55 homens e mulheres de 55 a 79 anos. Para isso, foram usados equipamentos de ressonância magnética de alta resolução. "Descobrimos que as perdas de tecido foram reduzidas conforme o treinamento cardiovascular", diz ele.

Pela conclusão, 30 minutos de caminhadas, por exemplo, feitas regularmente, são também uma forma de cuidar da mente, além de trazer outros benefícios já conhecidos, como aumento da massa muscular e fortalecimento da estrutura óssea.

Junto com a atividade física, a leitura, a resolução de problemas e o constante aprendizado estão tendo seus efeitos comprovados. "Existem evidências suficientes de que as demências são mais freqüentes em pessoas que tiveram menor atividade intelectual durante as fases de vida pregressa", afirma o geriatra Wilson Jacob Filho, diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP).

Ele cita um estudo tido como referência, feito há alguns anos. "A pesquisa mais clássica na área foi feita em um convento onde as freiras viveram confinadas por toda a vida. Ficou demonstrado que as que tinham maior desenvoltura em se apresentar, na sua monografia de ingresso no convento, tiveram menor incidência de demência do que aquelas que o fizeram de maneira mais simples", explica. Um estudo recente, publicado no Journal of American Medical Association, identificou os efeitos de estímulos intelectuais em um grupo de 2.832 voluntários americanos com idade entre 65 e 94 anos.

Parte deles teve aulas semanais para estimular e treinar a memória; outros se dedicaram à resolução de problemas de lógica; um terceiro grupo trabalhou no reconhecimento de imagens visuais. Após um ano, 26% dos membros do primeiro grupo tiveram melhorias na memória, 74% do segundo estavam mais aptos para a lógica e 87% obtiveram mais facilidade com questões visuais. Resultados que se mostraram permanentes por pelo menos dois anos.

Sinais de que a manutenção de uma mente ativa está na combinação de atividades variadas e na inclusão de novas rotinas no cotidiano. "Quando os filhos se casam e a gente se aposenta, não pode parar. Temos de começar de novo, continuar aprendendo e também cuidando do corpo", conta Gilda Mielli, de 71 anos, uma aposentada que faz parte de um grupo de voluntários, freqüenta discussões sobre cinema e faz aulas de natação. Ela ainda vai às reuniões do Grupo de Assistência Multidisciplinar ao Idoso Ambulatorial, do HC-USP, voltado para a promoção da qualidade de vida na terceira idade.

Sem saber, Gilda, como voluntária, realiza também uma ação pesquisada pelos cientistas por seus efeitos em idosos. "Observamos mudanças que parecem indicar que idosos que atuaram como voluntários em escolas, ajudando os alunos com suas tarefas tiveram o cérebro funcionando melhor. São ainda indícios que precisam ser mais estudados. Mas não deixam de ser resultados maravilhosos", afirma a médica Michelle Carlson, do Johns Hopkins Medical Institution, em Baltimore, nos Estados Unidos.

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