Manchas na auto-estima

Aos 23 anos de idade, Pedro Paulo observou uma pequena coceira na região do joelho. Em seguida começaram a aparecer manchas nos joelhos, nos cotovelos, tórax e couro cabeludo. Um especialista identificou a doença: psoríase, uma doença que abala o lado emocional, pois tende a gerar um desagradável problema estético. Muitas vezes a família de Pedro Paulo ia à praia e ele ficava na casa, sem vontade de se expor. Hoje, com 45 anos de idade, depois de inúmeras tentativas, o comerciário conseguiu controlar a doença, eliminando as lesões.

Pelo relato, podemos perceber o desconforto causado por essa doença inflamatória da pele, crônica e incurável, que tem como principais características a descamação seca da pele. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, a psoríase atinge de 1% a 3% da população mundial, índice que no Brasil representa mais de 5 milhões de pessoas. Apesar disso, a doença é praticamente desconhecida por 80% da sociedade. Então, onde se escondem esses pacientes? Conforme o dermatologista Jesus Rodrigues Santamaría, especialista no tratamento da doença, dependendo da forma e do local em que as manchas se localizam, estão por aí, quase sempre escondendo o corpo dos olhares mais preconceituosos.

Pessoas como a diretora de arte Giovana que, mesmo nos dias mais quentes, não descarta o uso de uma camisa de manga comprida para esconder suas manchas dos cotovelos. Jesus Santamaría descreve que formas leves da doença, como a da diretora, representam mais de 75% dos casos. ?Para esses casos, uma medicação local pode controlar o surgimento das manchas, que somem, mas voltam, dependendo de cada caso?, argumenta.

Proliferação de células

ms7020806.jpgGladys Martins (foto), chefe do ambulatório de psoríase do Hospital Universitário de Brasília, explica que a psoríase é uma doença de causa desconhecida, considerada multifatorial, na qual intervêm as ações conjuntas de diversos genes e uma série de fatores desencadeantes. ?Além de acometer a pele, pode afetar as articulações, causando a manifestação conhecida como artrite psoriásica, que pode causar inclusive deformações nas mãos e outras articulações?, alerta.

Segundo a especialista, a descamação, característica principal da doença, acontece porque as células da pele se reproduzem muito rápido. Para se ter uma idéia, normalmente as células da pele levam em torno de 21 a 28 dias para serem repostas. ?Nas pessoas com psoríase, esse ciclo leva, em média, de 2 e 6 dias?, explica. A psoríase causa lesões avermelhadas e escamas esbranquiçadas na pele. A principal diferença da psoríase para as demais doenças de pele, de acordo com a médica, é que é uma doença seca.

Gladys Martins observa que as lesões geralmente aparecem nos joelhos, nos cotovelos, no couro cabeludo e nas costas. A especialidade médica que cuida da psoríase é a dermatologia. O tratamento das manchas é feito, inicialmente, com cremes hidratantes e pomadas. ?Se não houver melhora ou se o caso for mais grave, pode ser necessário o uso de medicamentos via oral?, orienta. Atualmente, começam a surgir novas drogas, chamadas biológicas, que funcionam como anticorpos monoclonais contra as células ou proteínas que iniciam o processo inflamatório da pele.

GATILHOS

Alguns distúrbios podem desencadear ou aumentar um surto prévio da psoríase em pessoas que têm uma predisposição à doença.

* Estresse.

* Agressões cutâneas.

* Infecções.

* Uso de certos medicamentos.

* Clima.

* Fatores hormonais.

BIOTECNOLOGIA

Um medicamento originalmente usado para o tratamento de doenças reumatológicas começa a ser usado para amenizar os sintomas da psoríase. A indicação do etanercepte, do Laboratório Wyeth, representa uma nova e importante abordagem terapêutica. ?Os ensaios clínicos com os agentes biológicos indicam uma evidente melhora do quadro clínico da psoríase, representando um ganho na qualidade de vida dos pacientes, potencialmente com menos efeitos colaterais ou com efeitos mais facilmente contornáveis?, reconhece Artur Duarte, presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia ? Regional São Paulo..

*Nosso jornalista participou do lançamento do medicamento a convite do laboratório.

Voltar ao topo