Kit desenvolvido no Brasil vai agilizar diagnóstico de hantavirose

A dependência externa do Brasil para diagnosticar casos de hantavirose, doença infecciosa grave com taxa de letalidade em torno dos 45%, está com os dias contados. Pesquisadores do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), instituição ligada à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desenvolveram um kit para determinação da enfermidade de menor custo, maior sensibilidade e cinco vezes mais rápido do que o material importado dos EUA. Testado nos Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, na Fiocruz, no Rio, e no Instituto Evandro Chagas, em Belém, o produto pode chegar aos laboratórios de referência do País até o fim do ano, distribuído pela Coordenação-Geral de Laboratórios em Saúde Pública, unidade do Ministério da Saúde. As negociações para isso estão em andamento confirmou hoje (16) a coordenação de Vigilância Epidemiológica do governo federal.

"Podemos fazer o diagnóstico em 30 minutos, contra três horas do kit importado. Além disso, o nacional custa menos da metade do que o vindo de fora, atualmente em torno de R$ 2.700 a unidade", diz a bióloga Cláudia Nunes Duarte dos Santos, responsável pelo desenvolvimento do teste, em parceria com a médica Sonia Raboni.

Outra vantagem do produto nacional em comparação com o similar americano é o fato de ser, em média, 17% mais sensível no diagnóstico do anticorpo IgG, que surge em uma fase posterior da doença. "O nosso kit é mais sensível porque é feito com base em antígenos (partícula ou molécula que, uma vez introduzida no organismo, provoca a formação de anticorpo) recombinantes provenientes de vírus que circulam no Brasil. Já o importado utiliza antígenos de vírus que circulam por lá, por isso são menos específicos e sensíveis", explica a especialista. Segundo ela, o teste é também mais sensível e específico na detecção de IgM, anticorpo característico de infecção recente.

A fase inicial da pesquisa foi a identificação genética das cepas de hantavírus que circulam no Brasil. Em seguida, por meio de engenharia genética, foi produzida uma proteína do vírus causador da doença, que têm como função capturar os anticorpos presentes nas amostras de sangue do paciente. O kit importado dos Estados Unidos usa material genético de vírus que circulam na América do Norte, Europa ou Argentina, reduzindo, assim, a precisão da captura.

O kit nacional detecta também o vírus nos roedores silvestres. São eles que transmitem a enfermidade para o homem, que é infectado ao inalar o vírus eliminado pela urina, fezes e saliva dos animais contaminados, assim como por meio de mordidas dos roedores ou através do contato do vírus com ferimentos e mucosas.

Desde que o hantavírus foi identificado no País, em 1993 até junho deste ano, foram registrados no Ministério da Saúde 548 casos da doença. No Distrito Federal, ela surgiu pela primeira vez no ano passado. Dos 30 casos confirmados, 13 deles evoluíram para óbito. Dados do mesmo ano indicam que a maioria dos casos aconteceu em Santa Catarina (42) e Minas Gerais (38).

Segundo Cláudia, o kit vai ser testado também para amostras sorológicas do Paraguai, onde o vírus circulante é semelhante ao encontrado no Paraná. Os resultados "extremamente promissores" encontrados durante as análises com amostras da Argentina e do Uruguai tornam a exportação do produto uma alternativa viável, avalia a especialista.

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