Infecção hospitalar

maos121207.jpgInfecção hospitalar, levada ao pé da letra, passa uma idéia antagônica, ou seja, se o paciente apresenta uma infecção, é no hospital que encontrará o tratamento. Mas quando é no hospital que o paciente contrai uma nova doença, o conceito de saúde e doença se mistura de forma desalentadora. No Brasil, a taxa de infecções hospitalares é uma das maiores do mundo. É de 15,5%, frente à média mundial de 5%, segundo dados do Ministério da Saúde.

A preocupação maior é saber de onde vêm essas infecções. Elas pode vir de um dos maiores inimigos do homem: os microrganismos, seres invisíveis ao olho nu, mas que provocam mais de 45 mil óbitos por ano, e 12 milhões de internações registradas no País. As bactérias são os principais agentes causadores dessas infecções. Os temidos vírus são menos freqüentes no ambiente hospitalar, ocorrendo com maior prevalência na comunidade em geral. O número de inimigos é ampliado pela ação dos fungos, patógenos que acometem pessoas que já se encontram fracas e debilitadas por conta de algum problema de saúde.

A mãe de A. A. P. fez uma cirurgia de redução de estômago e não saiu mais do hospital. Os médicos disseram que ela contraiu uma infecção e passou a tomar antibióticos fortes. ?Ela teve que passar por outra cirurgia e, internada numa outra clínica, teve infecção generalizada e faleceu?, conta. ?Qualquer paciente internado pode ser acometido por infecção hospitalar?, garante Clóvis Arns da Cunha, professor de Infectologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O especialista adverte que pacientes criticamente doentes, como os internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), ou que apresentam baixa defesa (imunodeprimidos) são os mais suscetíveis.

Bactérias super-resistentes

Há algum tempo se ouve falar de superbactérias, que são resistentes ao arsenal medicamentoso existente e podem levar uma pessoa à morte. O uso indiscriminado de antibióticos, o diagnóstico incorreto, a prescrição errada e doses inadequadas são fatores que colaboram para tornar as bactérias cada vez mais resistentes aos medicamentos existentes.

Como o hospital é um local que reúne pacientes imunodeprimidos, os mais suscetíveis às infecções, é também um lugar ideal para a proliferação dessas superbactérias. Há alguns tipos de patógenos que circulam apenas no ambiente hospitalar. Outros que historicamente apareciam exclusivamente nesses locais estão começando a se aventurar pela comunidade, provocando infecções que até então só aconteciam no ambiente hospitalar. Assim, podem ocorrer mudanças no perfil de bactérias comunitárias e hospitalares. ?Elas têm a capacidade de se adaptar rapidamente e criar mecanismos de resistência para sua sobrevivência?, explica Arns.

O fato de as bactérias estarem se adaptando às mais recentes armas medicamentosas dificulta o diagnóstico preciso de infecções hospitalares. À sombra das superbactérias estão os fungos. Esses são patógenos menos prevalentes, porém também letais. Os fungos também podem provocar infecções hospitalares graves, principalmente em pacientes debilitados. Mas podem passar despercebidos. ?Um dos passos mais importantes para o médico ter sucesso no tratamento de infecções hospitalares é diagnosticar qual é o patógeno que está provocando o quadro, seja bactéria ou fungo?, ressalta o médico. Uma vez descoberta a causa, é possível fazer exames em laboratório para orientar o médico sobre qual é a melhor conduta a ser tomada.

Higienizar é preciso

Não é incomum acontecer de um paciente entrar no hospital com um problema e ter seu quadro agravado por uma infecção hospitalar. Nesses casos, conforme o infectologista, os medicamentos disponíveis ajudam a salvar milhares de vidas. Alguns sinais clínicos, como febre, aumento da freqüência cardíaca e respiratória e alterações na contagem das células do sistema de defesa, são os primeiros indícios de uma infecção hospitalar. ?As infecções fúngicas são mais difíceis de serem diagnosticadas, já que os métodos laboratoriais disponíveis não permitem o correto diagnóstico de muitas delas?, posiciona Arns.

Dias depois de sofrer uma cirurgia de fimose, N.L.G, de 18 anos, percebeu algumas bolhas pelo corpo. Ao consultar o médico que lhe operou, foi informado que havia contraído o vírus do herpes. ?Questionado sobre o aparecimento das bolhas somente após a operação, ele simplesmente me disse que os instrumentos cirúrgicos não tinham sido esterilizados adequadamente?, comenta, surpreendido.

Uma vez que o diagnóstico e o tratamento, além de causarem enormes prejuízos ao sistema de saúde, podem ser difíceis, a melhor estratégia seria prevenir as infecções hospitalares. Uma das maneiras mais simples e que muitas vezes passa a  não ser levada a sério é a higienização das mãos com água e sabão ou álcool. ?Essa medida é simples e altamente eficaz, e deve ser realizada não só pelos profissionais de saúde, mas também pelos parentes e amigos que visitam pacientes nos hospitais?, lembra o infectologista.

Embora o médico reconheça que nos últimos anos o controle e a vigilância das infecções hospitalares no Brasil evoluíram, ainda há muito o que fazer. ?O mais importante para continuar evoluindo é a constante vigilância e a educação continuada dos profissionais?, diz Arns. ?Algo tão simples como a higienização das mãos pode salvar várias vidas todos os dias?, completa.

Comissões de controle

Os riscos de infecções causadas no próprio hospital podem ser reduzidos por meio de cuidados da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), que monitora os casos dentro das instituições. Por lei, todo hospital é obrigado a ter a sua comissão. Outra medida importante é a manutenção de laboratórios de microbiologia, capazes de auxiliar os médicos quando as infecções forem detectadas.

As mais prevalentes

28,9%

Respiratórias

15,6%

Cirúrgicas

15,5%

De pele

Voltar ao topo