Gravidez tardia e planejada é uma tendência

Os motivos que fizeram as mulheres mais maduras adiar o sonho de ter um filho são muitos: as mudanças dos padrões familiares com inserção feminina no mercado de trabalho, maior escolaridade, priorização do crescimento profissional e o conhecimento sobre a existência de novos métodos de fertilização que possam facilitar sua gravidez quando desejar são alguns deles. No perfil dessas mulheres, quase sempre, na faixa dos 35 anos, o desejo de ser mãe bate mais forte.

Por isso, elas acreditam que vale a pena enfrentar os riscos e as limitações que a idade impõe para concretizá-lo.

Dados de pesquisas recentes realizadas na Catalunha (Espanha) comprovam que a percentagem de mulheres que tiveram o seu primeiro filho após 35 anos aumentou em 30% nos últimos cinco anos.

No Brasil, de acordo com pesquisa da Marplan, passou de 31% para 40% o número de mulheres na faixa dos 30 a 44 anos mães de crianças com até um ano de idade.

As probabilidades de se engravidar naturalmente em relação sexual vão caindo a partir dos 27 anos de idade. Com o avançar da idade, esse percentual vai diminuindo.

Especialistas explicam que, até os 35 anos, a queda não é tão significativa, se reduzindo a pouco menos de 80%. Dos 40 aos 45 anos, cai drasticamente, chegando a 5% aos 45 anos de idade.

O especialista em medicina fetal Mário Henrique Burlacchini de Carvalho reconhece que o adiamento da gestação para idades maternas mais avançadas pode ter repercussões no andamento da gravidez.

“A gestação nessa fase da vida está sujeita a um maior risco de malformações fetais, síndromes genéticas e concomitância da gestação com patologias maternas, tais como diabetes e hipertensão entre outras”, alerta.

Acompanhamento especializado

Hoje, há vários exames que podem dar mais segurança e reduzir a ansiedade do casal em relação à normalidade do feto. São exames de ultrassonografia morfológica que examinam toda a formação do feto, inclusive com a avaliação em 3D ou 4D, que permite a visualização do feto com maior definição e cálculos de volumes antropométricos.

Exame de ultrassonografia de 1.º trimestre e a bioquímica materna conjugada a ele, que fornecem uma estimativa do risco do feto ter síndrome de Down, também são avaliações importantes.

Burlacchini explica que, na medida em que se encontre algum resultado anormal e conforme a avaliação médica, é possível prosseguir com a investigação realizando alguns procedimentos invasivos que fornecem informações sobre as características cromossômicas do feto. “Para as gestantes com idade avançada, um ecocardiograma fetal é indicado para averiguar doenças cardíacas fetais”, complementa o médico.

Neste contexto, uma importante decisão é pela escolha dos procedimentos de reprodução assistida para a gestação que, a cada dia, agregam novas técnicas, cada vez mais confiáveis e eficazes. “Os tratamento estão cada vez mais personalizados e as probabilidades de o bebê nascer com saúde perfeita são cada vez maiores”, avalia o médico.

Para o especialista em reprodução assistida Lídio Jair Ribas Centa, o fator primordial é o acompanhamento da gravidez por especialistas. “As descobertas mais recentes da reprodução assistida colocam um arsenal de técnicas sofisticadas para apoiar as mulheres e transformar a busca da maternidade em um caminho mais seguro”, garante.

Ovodoação

Por outro lado, os avanços das técnicas só trazem resultados positivos quando aliados ao acompanhamento da gravidez e à dedicação da mulher. A analista de tecnologia da informação Maria Helena Ribas Tedeschi, de 40 anos, preferiu se dedicar à carreira e aos estudos, só começando a se preocupar com a maternidade após encaminhar sua estabilidade financeira, depois dos 35 anos.

“Obtive as informações sobre as mais diversas técnicas, mas n&atil,de;o posso dizer que tudo transcorreu facilmente”, observa, explicando que teve que fazer dois tratamentos.

Como o primeiro não deu resultado, ficou receosa em tentar de novo. Pela insistência do seu marido, buscou outra técnica e teve sucesso. “Valeu a pena, Paulo Henrique vai completar um ano e é a alegria da nossa vida.”

Um das mais procuradas por mulheres maduras é a fertilização “in vitro”, incluindo a ovodoação compartilhada, que consiste em fertilizar os óvulos de mulheres com idade inferior a 35 anos e transferi-los para aquelas que não produzem mais óvulos (falência ovariana).

“A técnica beneficia também portadoras de alterações genéticas que poderiam provocar doenças severas nos filhos”, observa Lídio Centa. A ovodoação compartilhada mudou de forma importante a realidade de muitas mulheres que ainda têm o sonho de ser mãe.

Pela sua importância, a ovodoação compartilhada será abordada no próximo Congresso Brasileiro de Reprodução Assistida, programado para agosto, em Curitiba.

O professor Lídio Centa, presidente do Congresso, explica que, pela técnica, os óvulos de uma mulher doadora são fertilizados com o sêmen do marido da receptora, e os embriões formados são então transferidos para o seu útero.

As equipes multidisciplinares das clínicas de Reprodução Assistida realizam a seleção das doadoras considerando rígidos critérios que afastam doenças genéticas e infecciosas, bem como semelhanças de raça e tipagem sanguínea.

Menopausa

Para muitas mulheres, é frustrante e sofrido o processo de querer engravidar e precisar passar por uma verdadeira maratona tentando transformar o sonho em realidade.

“Se isso já é complicado para as mulheres jovens, imagine para as que já passaram dos 40 anos, em que cada dia faz, de fato, diferença”, ressalta a bioquímica Carolina Ynterian.

Após inúmeras tentativas frustradas, muitos se desanimam e entram numa crise emocional que prejudica ainda mais o processo. Ainda mais perto do período da menopausa, quando o quadro não é favorável.

Nesta fase, por estarem com um desgaste emocional muito grande os recursos de reprodução assistida acabam falhando, mas não significa que ela esteja inapta a tornar-se mãe.

“No mercado existe, por exemplo, o Confirme Menopausa, teste que detecta o início da menopausa e pode auxiliar a mulher a conviver com o processo e as mudanças que ocorrem com o organismo”, afirma a bioquímica.

O método é semelhante ao teste de gravidez. Uma tira deve ser colocada verticalmente dentro do recipiente em que foi coletada a urina, durante pelo menos três segundos. O resultado surgirá em cinco minutos.

O autoteste tem 99% de precisão. Acreditar que a gestação tardia e durante a menopausa é de alto-risco é muito relativo. Tudo vai depender dos cuidados, da saúde emocional da mulher e do acompanhamento médico para controlar quaisquer problemas.