Gestão: Saúde não tem preço, mas tem custo

?É fácil notar que o setor de saúde, público ou privado, há muito passa por uma crise cuja tendência vem apontando para um quadro pessimista.? A afirmação é do presidente do Instituto da Gestão em Saúde (IGS), Manoel Almeida Neto, que acredita, inclusive, que o passivo de algumas instituições será difícil de ser superado. O dirigente indica como principal solução para o segmento a implantação de modelos atualizados de gestão empresarial. ?A falta desses modelos na aplicação dos recursos obtidos é uma das principais causas dessa situação?, observa.

Um dos objetivos do IGS é mostrar aos empresários alternativas de sustentabilidade para o setor de saúde. Na opinião do oftalmologista e presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, Cláudio Lottenberg, que participou de um encontro do setor em Curitiba, dinheiro mal gasto, por exemplo, é sinônimo de falta de metodologia, por isso, o grande propulsor para o desenvolvimento do setor continuará em torno das discussões sobre gerenciamento eficaz.

Tecnologias de informação

Uma das necessidades, segundo Lottenberg, é a participação de médicos no processo gerencial, além de diretrizes clínicas, preços preestabelecidos, riscos compartilhados e integrados. Para ele, o médico não pode continuar trabalhando por impulso porque no final ninguém quer assumir os riscos. Mesmo nas grandes instituições faltam médicos com perfil gerencial. ?A prática médica ainda é isolada e todos sabemos que o trabalho em equipe, integrado com ferramentas de tecnologia da informação, é essencial?, afirma.

Conforme o dirigente, o desafio atual das instituições brasileiras é crescer em programas de gerenciamento para pacientes crônicos. ?Os hospitais cresceram em assistência a esses pacientes, mas há a necessidade de avanços nessa área?, ressalta. De acordo com levantamento do setor, atualmente, cerca de 69% dos pacientes e 80% dos leitos contratados são para pacientes que apresentam doenças crônicas. Para solucionar o problema, ele acredita que precisamos olhar com mais carinho para o home care, uma tendência natural de atendimento a pacientes crônicos na sua própria casa.

Medicina vingativa

Para Lottenberg, o momento atual diz respeito às doenças complexas, como câncer, cardiovasculares e neurológicas, e não mais as infecciosas. Além disso, ele constata que um paciente que permanece mais tempo do que o necessário em ambiente hospitalar corre riscos desnecessários, além de criar uma oportunidade indiscutível para que o sistema se perverta. ?Essa situação cria a falsa impressão de que a capacidade instalada está estrangulada, exigindo a alocação de recursos financeiros muitas vezes inexistentes?, assegura.

Além de sua experiência no setor privado, Cláudio Lottenberg traz ainda uma vivência na Secretaria de Saúde do município de São Paulo e diz que o gerenciamento de doenças é a única estratégia para tornar o negócio viável, além da adoção de tecnologias com modelo basicamente de prevenção. Outra falha detectada pelo especialista diz respeito à baixa remuneração dos médicos, fato que, segundo o dirigente, estabelece o que ele chama de medicina vingativa. Ou seja, o médico solicita mais exames para diluir a sua responsabilidade. ?O sistema só vai fluir eficazmente quando o médico for remunerado satisfatoriamente?, completa o ex-secretário.

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