Familiares são importantes para quem sofre de Alzheimer

A população idosa está aumentando e, com ela, a incidência de transtornos cognitivos, mais conhecidos como demência. Entre suas variadas formas, a mais conhecida é a Doença de Alzheimer, que afeta a memória, atenção, concentração, raciocínio e linguagem, com comprometimento das atividades funcionais e da vida diária.

Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer, a enfermidade corresponde entre 50% a 70% dos casos de demência, que atinge cinco a cada 100 pessoas com mais de 70 anos de idade.

“É uma doença degenerativa de evolução lenta que traz uma triste realidade para o paciente e sua família, uma vez que, atualmente, não possui cura”, informa o psiquiatra Cássio Bottino, coordenador de programas para idosos.

Apesar de tudo, existem tratamentos que podem ajudar a retardar os sintomas, proporcionando ao portador de demência uma melhor qualidade de vida. Familiares e cuidadores passam a ter a responsabilidade de garantir que o paciente consiga levar a vida da forma mais confortável possível.

Entretanto, muitos podem enfrentar algumas dificuldades nessa função. Experiências demonstraram que, muitas vezes, os familiares acabavam optando por internar o parente doente em asilos ou casas de repouso de idosos devido à impossibilidade de prestar assistência em suas residências.

“No entanto, a reabilitação, dentro das limitações impostas por cada caso, é possível de ser incluída na convivência diária com o paciente”, esclarece o especialista.

Reabilitação

Entre os tipos de reabilitação direcionados ao paciente com Alzheimer existem a terapia ocupacional, que maximiza o desempenho para as atividades da vida diária; a terapêutica física, que se preocupa com a parte motora; a terapia da orientação para a realidade, que privilegia os aspectos cognitivos e intelectuais, memória, etc; e a terapia ambiental.

Esses tipos de acompanhamento, auxiliados pelo tratamento medicamentoso ajudam a retardar de forma significativa o declínio da função cognitiva nos portadores da doença de leve a moderada.

De qualquer forma, uma vez diagnosticado o problema, é fundamental que a família seja parceira do paciente e do médico. Existem formas simples de manter o idoso com a mente e o corpo ativos.

Estimular jogos de tabuleiro, leitura de livros e jornais, palavras-cruzadas, aprendizado de outro idioma ou instrumento musical, caminhadas e a manutenção de um convívio social ativo são algumas delas. “Todos os pacientes, independente da fase da doença, merecem essas oportunidades terapêuticas”, frisa Bottino.

Multidisciplinar

O tratamento da doença de Alzheimer inclui intervenções farmacológicas (medicamentosas) e não farmacológicas. É importante ressaltar que as medicações têm efeito sintomático e eficácia modesta, embora beneficiando uma parcela significativa dos pacientes.

Como podem ter efeitos colaterais, o tratamento deve ser iniciado sempre com doses baixas que serão aumentadas gradativamente, procedimento este que deve ser acompanhado por um médico.

O tratamento não medicamentoso da doença de Alzheimer é dirigido não apenas ao paciente, como também aos seus familiares e cuidadores. Orientações sobre a natureza e a evolução da doença, sobre como lidar com eventuais comportamentos inadequados ou mesmo agressivos, além de adaptações e modificações necessárias no ambiente, e programas de atividades es,pecíficas para os pacientes, são exemplos de tais medidas.

A participação de outros profissionais de saúde, particularmente aqueles que trabalham no campo da reabilitação, como fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia, além de profissionais de enfermagem, é de grande importância.

Baseada nestes dados, a preocupação da Associação Brasileira de Neurologia é conscientizar a população sobre o diagnóstico, a doença, tratamentos e prevenção, por meio de campanhas de esclarecimento.

“Embora a divulgação de informações a respeito da doença tenha aumentado e melhorado muito nos últimos anos, ainda há, infelizmente, desconhecimento, tanto por parte da população geral quanto mesmo por alguns profissionais de saúde”, comenta o neurologista Paulo Caramelli, explicando que, muitas vezes os sintomas da doença, especialmente nas fases iniciais, são considerados como sendo próprios do envelhecimento, o que em muitos casos retarda o diagnóstico e o início do tratamento.

Tipos de reabilitação

 Terapia Ocupacional – Atividades culturais (leitura, aprendizado de outro idioma ou instrumento musical) e artesanais – pintura, trabalhos com argila e desenho. Com o objetivo de ajudar o paciente a viver melhor com suas próprias limitações, a abordagem pode recuperar o máximo possível das funções perdidas, melhorando a autoestima e tornando-o mais integrado à sociedade e independente possível.

 Fisioterapia – Pacientes com demência podem ter sua mobilidade prejudicada. Prevenir contraturas articulares, mobilização das secreções pulmonares, encurtamentos musculares, manter a massa muscular para evitar atrofias e melhorar o equilíbrio e a marcha são alguns dos benefícios. O fisioterapeuta atua junto ao paciente e as atividades podem ser realizadas no âmbito familiar.

 Terapia da Orientação para a Realidade – Conjunto de técnicas que visa combater a desorientação e os distúrbios da memória. Normalmente realizada em grupos, com o auxílio de material audiovisual, reforçando aspectos como datas, hora, nomes e fatos, entre outros.

O clima é dinâmico, com participação ativa dos pacientes que são questionados sobre seus nomes, nomes dos familiares, datas e outros fatos relevantes da sua vida.

 Terapia Ambiental – Muitas vezes, após o diagnóstico da doença de Alzheimer, é comum que os familiares passem a tratar o paciente como se fosse uma pessoa que acabou de falecer ou um corpo apenas que necessita de higiene e alimentação.

Esse comportamento é equivocado, negativo, desumano e afeta não só o paciente de forma contraproducente, como também toda a estrutura familiar. Existem maneiras de manter o paciente dentro do seu ambiente, com um mínimo de ocupação e algumas vezes exercendo atividades úteis nos afazeres domésticos. O portador da doença precisa estar ambientado e com efetiva participação da vida em sociedade, à qual não deixou de pertencer.