Evolução no combate à lepra

A descoberta dos genes que compõem a variação genética da hanseníase, mais conhecida como lepra, foi uma das maiores evoluções do meio científico dos últimos anos. Quem afirma isso é um dos integrantes da equipe internacional de cientistas que realizou os trabalhos de pesquisa sobre a doença, o professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Marcelo Távora Mira.

É a primeira vez na história que genes responsáveis pelo controle genético de uma doença infecciosa são identificados. Os trabalhos duraram quatro anos e foram finalizados ano passado. A mais importante publicação científica no mundo, a revista Nature Genetics publicou na edição de março de 2003 os trabalhos realizados pela equipe comandada pelo doutor Erwin Schurr. “Buscamos o mapeamento dos genes que contribuem para a doença se alastrar pelo corpo do paciente. É um estudo totalmente inovador. Comecei há quatro anos e meio, e agora vemos a gratificação depois de tanto trabalho”, diz.

Cerca de 10% da população mundial exposta à bactéria causadora da hanseníase pegam a doença. Os outros 90% não desenvolvem a doença. “Fomos atrás dos genes que seriam os responsáveis pela propagação da doença. Até o ano passado, existiam vários genes candidatos, ou seja, com a possibilidade de ser os genes causadores da doença. O PARK2 e PACRG são genes que compartilham uma região da fileira dos cromossomos que fazem parte do código genético. Essa região é chamada de reguladora, e coordena o correto funcionamento dos demais genes. A variação genética que comprova a hanseníase está nesse local”, afirma.

“As consequências dessas descobertas devem ser as melhores possíveis, em muitas frentes. Até o ano passado, apenas as doença clássicas, não infecciosas, eram o alvo de estudos dos cientistas. Agora, as doenças mais conhecidas da população, e que ainda atingem boa parte das pessoas está sendo estudada. Não é uma doença que causa grandes preocupações, já que o tratamento é barato e pode ser realizado em qualquer posto de saúde, mas sempre é uma vitória identificar o gene que causa a doença”, explica.

Os testes para comprovar a veracidade da descoberta foram realizados primeiramente com 1,1 mil pessoas do Vietnã, entre 2000 e 2002. Logo depois, com o apoio da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, e com os pesquisadores Milton Moraes e Euzenir Sarno, os testes foram realizados no Brasil. “O resultado só veio comprovar a eficiência dos nossos estudos. Os genes PARK2 e PACRG são universais, ou seja, são os responsáveis pela hanseníase, já que foram observados em populações distintas, de diferentes etnias”, afirma.

Estudos

Outra descoberta que está chamando a atenção da comunidade científica internacional seria o gene que está relacionado à causa do Mal de Parkinson. O PARK2 também seria o responsável pelo aparecimento da doença. “Entre a comunidade de pesquisadores, já se sabia que a doença poderia ser causada pelas variações genéticas desse gene. Só que ainda não há nada comprovado. Será o nosso próximo desafio. Como as duas doenças são neurodegeneradoras, ou seja, atacam o sistema nervoso, existe a possibilidade de também ficar comprovado que o PARK2 é o gene causador do Parkinson. Mas por enquanto, tudo não passa de hipótese. Temos muito trabalho pela frente”, diz. (Rubens Chueire Júnior)

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