Esperança às mulheres estéreis por tratamento de câncer

Um marco na medicina do Paraná. Pela primeira vez, está sendo desenvolvida a crioconservação do tecido ovariano humano em uma instituição de saúde do Estado. A técnica inédita consiste no congelamento de tecido ovariano de pacientes com determinados tipos de câncer e que, após o tratamento com radioterapia e quimioterapia, poderão ser submetidas a um transplante de ovário. É também o primeiro programa no Brasil a oferecer essa possibilidade gratuitamente às pacientes de um hospital público.

As mulheres jovens que desenvolviam um câncer que afetava o sistema reprodutor, aliado aos tratamentos agressivos, praticamente não tinham chance de ter filhos depois de vencida a doença. Isso ocorre por uma perda irreparável do tecido ovariano. Esta nova iniciativa pode ser o fim das preocupações de muitas mulheres.

O estudo foi desenvolvido pelos médicos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Curitiba, Alessandro Schuffner e Lídio Ribas Centa, especialistas em Reprodução Humana. Todo o trabalho está sendo realizado junto ao Departamento de Tocoginecologia do HC desde junho do ano passado, e tem a colaboração do Serviço de Hematologia da instituição. O projeto foi supervisionado pelos profissionais do hospital e vem sendo acompanhando desde o seu início. Os estudos estão em evolução e já passaram pelo Comitê de Ética do HC.

Até o momento, sete tecidos ovarianos de pacientes do HC, que concordaram em participar da experiência, estão congelados. Para poder participar do programa, as pacientes têm que estar na fase inicial do tratamento na instituição, e cumprir alguns critérios, como ter entre 13 e 35 anos. As pacientes só farão o transplante após a constatação de que a doença está totalmente sob controle. Esse período pode chegar a cinco anos.

Segundo Alessandro, outras instituições do País e de todo o mundo já desenvolvem a crioconservação dos tecidos ovarianos. Mas apenas em um dos casos a gravidez foi confirmada. Na sexta-feira passada em Bruxelas, capital da Bélgica, uma mãe que havia sido transplantada deu à luz uma menina: “Ninguém tinha notícias dessa gravidez, até que o bebê nasceu na Bélgica. Isso comprovou que esse método pode se tornar eficiente”, disse.

Um dos ovários, do tamanho de uma amêndoa e ainda não atingido pelo tumor, é retirado por meio de um pequeno tubo inserido no abdômen da paciente. Depois de ser cortado em pequenas fatias, o tecido ovariano é conservado em um botijão de nitrogênio, numa temperatura de – 196ºC. O tempo de conservação do ovário nessas condições é ilimitado.

Transplante

A paciente Rafaela Fedalto Cubas, de 21 anos, será a primeira a participar do transplante. Daqui a no máximo quatro anos, período necessário para que ocorra a remissão do câncer, ela será submetida à cirurgia. Será a primeira vez que o procedimento será realizado no Paraná. Ela é auxiliar administrativa, casada há dois anos, e mora em União da Vitória, região Sul do Paraná. Descobriu que tinha câncer retal, próximo ao intestino, quatro meses após o casamento. Como veio se tratar no HC, entrou em contato com os especialistas em reprodução e resolveu participar do programa. “É uma possibilidade. Antes disso, as chances de poder ter um filho eram quase nulas”, lembrou Rafaela.

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