Especialistas alertam para surto de varicela

Perto de 50% das crianças com até cinco anos no Brasil ainda não tiveram varicela. Um boletim epidemiológico aponta que, no primeiro semestre de 2007, 150 surtos da doença foram registrados somente no Estado de São Paulo. Foram 991 casos – 25,5% em crianças de um a quatro anos. Provocada pelo vírus Varicela zoster, a popular catapora é uma doença altamente transmissível, principalmente em ambientes fechados como creches, escolas e pré-escolas, onde o risco de transmissão chega até a 85%. Nos Estados Unidos, muitos estados estão exigindo o comprovante de vacinação antes de aceitar a matrículas em suas escolas.

De acordo com especialistas, o risco de contrair infecções aumenta em até duas ou três vezes entre crianças de creches ou pré-escolas. Eles esclarecem que o risco não está ligado a fatores econômicos, mas ao fato de esses estabelecimentos propiciarem a aglomeração de crianças, que recebem assistência coletiva. Além disso, os médicos apontam que crianças pequenas apresentam hábitos que facilitam a disseminação de doenças, como contato interpessoal muito próximo, falta de prática de hábitos higiênicos e imaturidade de sistema imunológico.

Estudos mostram que as causas de morte mais freqüentes em crianças cuidadas em creches são de origem infecciosa: pneumonias (29,6%), infecção meningocócica (13%), meningites não meningocócicas (8,5%), gastroenterites (7,6%) e varicela (5,4%). ?Mais de 36% das mortes estão concentradas nos três meses iniciais de freqüência à creche?, revela a pediatra Isabela Ballalai, vice-presidente da SBIm – Sociedade Brasileira de Imunizações -, entidade que recomenda a segunda dose da vacina, como já ocorre nos Estados Unidos.

Contágio mesmo sem sintomas

A transmissão da varicela ocorre durante todo o ano, com predominância no final do inverno e começo da primavera, principalmente nos estados do Sul e Sudeste. ?A transmissão da varicela é maior em ambientes aglomerados como as creches. E as crianças que contraem mais precocemente a doença, apresentam maiores riscos de complicações?, afirma a pediatra Lucia Bricks.

Mesmo antes de saber que está doente, a pessoa começa a transmitir o vírus, porque os sintomas só se manifestam entre 14 a 21 dias após o contágio. Já o maior risco de transmissão ocorre 48 horas antes de surgirem os sintomas. Para se contrair a varicela, basta entrar em contato com as vesículas do doente ou as gotículas que ele expele pelo ar.

A vacina é a melhor maneira de se evitar a doença. A vacina Varicela Biken, por exemplo, confere imunidade de longa duração. Qualquer pessoa pode tomar a vacina, exceto as gestantes e as pessoas em tratamento com altas dosagens de corticóides ou com deficiência no sistema imunológico. Como é produzida com vírus vivos atenuados (enfraquecidos), a vacina deve ser aplicada em crianças maiores de 12 meses, a exemplo do procedimento adotado com a vacina tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola). Quando aplicada nesta idade, a proteção da vacina é mais longa. A imunização abaixo de 12 meses é recomendada apenas em casos de surtos ou se o bebê tiver entrado em contato com uma pessoa doente.

?Se a criança não foi imunizada ao completar um ano, precisa ser vacinada na volta às aulas, porque a varicela é uma doença de transmissão respiratória ou de contato com as lesões da pessoa doente?, afirma a infectologista Lily Yin Weckx.

O ciclo da varicela

Em crianças, a varicela provoca de 250 a 500 lesões pelo corpo. Os sintomas iniciais se parecem com os de uma virose: febre, coriza e tosse. Até que aparecem pequenas manchas nas costas, peito e abdômen. As manchas viram bolinhas vermelhas (pápulas), que se transformam em bolhinhas com líquido (vesículas) e, finalmente, em crostas (casquinhas). A recuperação demanda de sete a 10 dias, quando as lesões já viraram crostas.

A varicela provoca principalmente três tipos de complicações: as mais comuns são as lesões na pele, seguidas de problemas no sistema nervoso e nas vias respiratórias. Não raramente, crianças com varicela apresentam complicações tardias, após o desaparecimento das lesões de pele. Em um estudo realizado na Espanha, em que foi feito segmento por mais de 14 dias após a fase aguda da doença, verificou-se que a taxa de complicações foi superior a 10%. A vacina contra varicela é recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e pela SBIm, embora ainda não integre o calendário oficial de imunização.

1. Febre, coriza e tosse
2. Pequenas manchas nas costas, peito e abdômen
3. As manchas viram bolinhas vermelhas (pápulas)
4. Se transformam em bolhinhas com líquido (vesículas)
5. Finalmente, em crostas (casquinhas)
6. A recuperação demanda de sete a 10 dias, quando todas as lesões já viraram crostas.

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