Embalagem pode trazer riscos de contaminação

A legislação brasileira sobre os filmes plásticos destinados a embalar alimentos contém algumas lacunas que, se não fiscalizadas, podem prejudicar a saúde da população. O alerta vem de um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz, que encontrou um número excessivo de substâncias prejudiciais nesses produtos, após um estudo sobre os tipos de aditivos usados para conferir flexibilidade aos filmes usados nas embalagens.

O estudo, primeiramente, quantificou a presença de aditivos químicos na fabricação do material e, em seguida, avaliou a taxa de migração desses aditivos para os alimentos gordurosos. Por fim, foi estimada a exposição do consumidor a esses compostos a partir de dados sobre os hábitos alimentares de diversas regiões do País. Os resultados indicam que as embalagens plásticas para alimentos precisam ser usadas com restrições no caso dos alimentos gordurosos.

Teores acima do limite

?Os aditivos usados para deixar os filmes de PVC maleáveis não se ligam quimicamente ao produto e podem migrar para os alimentos com os quais ficam em contato?, explica a química Shirley Abrantes, que coordenou o estudo. A pesquisadora esclarece que a migração, que acontece por difusão espontânea, é mais intensa em alimentos gordurosos devido à semelhança entre sua composição química e aquela encontrada nos aditivos usados pela indústria alimentícia. A legislação brasileira prevê limites apenas para a presença de alguns produtos químicos, que se mostraram ligados ao desenvolvimento de câncer no fígado e a problemas de fertilidade em animais de laboratório. Devido ao pouco conhecimento sobre outros componentes, a legislação não estabelece valores máximos para outras substâncias.

Segundo os pesquisadores, todos os filmes analisados apresentaram teores muito acima do limite permitido por lei para a armazenagem de alimentos com mais de 5% de gordura. Após essa avaliação foram feitos testes para medir a taxa de migração dessas substâncias para os alimentos gordurosos. ?Foi encontrada taxa de migração 50 vezes superior ao limite fixado pela União Européia, por exemplo?, afirma a pesquisadora.

Outra conclusão do estudo, ressaltada por Shirley Abrantes, foi de que não apenas a parte do alimento em contato com o filme plástico está sujeita a contaminação, já que os aditivos têm a tendência de se difundir para áreas onde sua concentração é menor e tomar todo o alimento. Para resolver o problema, na opinião dos pesquisadores, bastaria que as indústrias imprimissem no rótulo do produto uma advertência indicando que o seu uso não era recomendável em alimentos gordurosos. Para a pesquisadora, é muito difícil realizar estudos conclusivos que determinem a relação direta entre o uso de um produto e seus efeitos para a saúde humana, mas, no seu entender, deveriam ser estabelecidos valores máximos de segurança para seu uso industrial.

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