Efeitos da andropausa atingem poucos

A queda dos níveis de hormônios, entre eles a testosterona, pode trazer prejuízos para a saúde do homem depois dos cinqüenta anos. Esse fenômeno é chamado de Declínio Androgênico do Envelhecimento Masculino (Daem), mais conhecido como andropausa ou climatério masculino.

A incidência dessa síndrome é pequena, segundo o médico Manoel Antônio Guimarães, doutor em urologia pela Universidade de São Paulo (USP). Além disso, não acontece igualmente para todos os homens. “A gente sabe que ela pode existir, e quando acontece, não é o fim do mundo”, comenta.

As pessoas do sexo masculino, a partir dos cinqüenta anos, sofrem com a diminuição de vários hormônios, como o do crescimento, a melatonina e a dehidroepiandrosterona. Guimarães explica que a queda de testosterona nesta idade é bem pequena. Os níveis desse hormônio só abaixam mesmo a partir dos setenta anos. “Diferentemente da mulher, o homem não perde a sua função reprodutiva. A testosterona pode cair, mas ele vai continuar podendo ter filhos”, explica o médico.

Por essa razão, os termos andropausa e climatério masculino não são bem aceitos pela classe médica, pois fazem referência à menopausa do sexo feminino, que possui sintomas específicos (fim do ciclo reprodutivo) e com forte incidência.

Sintomas

Os principais sintomas da andropausa são: aumento da proporção de gordura corporal; diminuição da massa muscular; tendência a osteoporose; perda de interesse sexual; dificuldade de ereção; falta de memória; depressão; queda de pêlos; irritabilidade; e insônia. “A maioria dos sintomas está ligada com a diminuição dos outros hormônios. A dificuldade de ereção, por exemplo, não está ligada com a falta de testosterona. Esses casos são muito raros”, aponta Guimarães.

“Por isso, é preciso avaliar também a ocorrência de outras doenças, como da tiróide, da hipófise e as neurológicas”, explica. De acordo com ele, os sintomas não causam tantos incômodos quanto na mulher. O Daem é diagnosticado com vários exames de níveis hormonais. Normalmente, o tratamento da andropausa é realizado, em conjunto, por um urologista e um endocrinologista.

Como solução para o caso, recentemente surgiu a terapia de reposição hormonal. “Mas ainda não existe um respaldo científico para indicar esse tratamento”, afirma Guimarães. A administração é feita com aplicação transdérmica, com gel, cremes ou adesivos cutâneos (colocados sobre a pele). A realização da reposição hormonal diminui a irritabilidade e a depressão, além de fornecer mais energia, forças física e mental e vida sexual mais satisfatória.

Quando a reposição é de testosterona especificamente, o paciente pode receber o hormônio por meio de injeções. “Mas há um medo de indicar a reposição com testosterona”, conta Guimarães. “Estudos comprovaram que esse hormônio masculino é o responsável pelo surgimento do câncer de próstata, o terceiro que mais mata no Brasil”, afirma. Segundo o médico, o tratamento para pacientes com este tipo de câncer é justamente bloquear a ação da testosterona. Ele afirma que a andropausa não tem nenhuma relação com a doença na próstata.

Guimarães orienta os homens a levar uma vida saudável, com atividade física e controle da alimentação. Além disso, após os cinqüenta anos, as pessoas do sexo masculino devem marcar consulta com um urologista uma vez por ano.

Artesão faz reposição hormonal

Como tem a ver com o desempenho sexual, a andropausa é cercada por preconceitos, muitas vezes dos próprios pacientes, que não aceitam a situação e deixam de procurar ajuda. Mas também existe o préconceito, que sempre parte de outras pessoas que não conhecem o quadro do paciente.

É o que acontece com o artesão E.E.B., que realiza terapia de reposição hormonal com testosterona. “Vou na farmácia e os balconistas olham desconfiados. Eles sempre perguntam se é para ficar forte, fazendo analogia ao uso de hormônios pelos fisiculturistas. E eu sou magro e alto”, comenta. “Eu tenho que explicar a razão por eu estar ali e isso dói mais do que a injeção”, compara.

E.E.B. conta que seu problema é a falta de testosterona. Ele não tem medo de tomar o hormônio com uma contra-indicação perigosa: o câncer da próstata. “Como está em falta, acredito que não tenha problema. Faço exames regularmente, fico sempre atento e estou bem assessorado, com urologista e endocrinologista”, explica.

O artesão não se vê mais sem as aplicações da testosterona, o que pode ser perigoso, segundo o médico urologista Manoel Antônio Guimarães. “Eu fico mais animado, com mais disposição para atividades físicas e a minha libido também aumentou”, afirma E.E.B. “A testosterona pode chegar a viciar e há o atrofiamento dos testículos, pois não produzem mais o hormônio”, aponta Guimarães. (JC)

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