Doenças da tireóide exigem cuidados especiais

Quando o assunto é saúde e qualidade de vida as discussões são inesgotáveis. Este mês, em Curitiba, cerca de 1,3 mil inscritos, entre endocrinologistas e estudantes, e 37 palestrantes do Brasil e do exterior, discutiram questões fundamentais como as doenças da tireóide, as diferentes maneiras de abordá-las e as novas tecnologias de tratamento. Encerrado o 12.º Encontro Brasileiro de Tireóide, ainda há muito o que esclarecer. O aperfeiçoamento continua.

Como explica Gisah Amaral de Carvalho, vice-presidente da regional paranaense da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), a tireóide é uma glândula que produz hormônios controladores da velocidade do metabolismo. As doenças que atacam essa glândula podem ser, segundo ela, divididas em duas categorias: as que alteram a função – o hipotireoidismo e o hipertireoidismo – e as que alteram a anatomia da tireóide – os nódulos malignos ou benignos.

De acordo com a especialista, a mais comum das doenças tireoidianas é o hipotireoidismo. A prevalência é que 5% da população em geral tenha e mulheres depois da menopausa chegam a 10%. Entre os homens, um em cada sete tem hipotireoidismo. ?A doença é muito mais freqüente em mulheres. Acreditamos que as alterações hormonais e as gestações são fatores preconizantes?, afirma.

Segundo ela, a doença faz a glândula funcionar menos e mais devagar. ?Portanto, a produção de hormônio é baixa?, explica. Além das alterações biológicas, a doença interfere no emocional dos pacientes. ?Os sintomas são cansaço, sonolência, alteração de humor, depressão, leve ganho de peso, queda de cabelo, pele seca, inchaço, constipação e distúrbios menstruais. Por todos esses sinais você observa que o hormônio tireoidiano está diretamente relacionado às várias funções?, esclarece. Sobre o aumento de peso, a médica afirma que não é o sintoma mais marcante. Quando acontece é leve e, na maioria das vezes, é mito.

O tratamento para o hipotireoidismo é bastante simples, mas para toda a vida. Trata-se da reposição hormonal.

Hiper

Menos comum entre as doenças tireoidianas, o hipertireoidismo é o contrário. ?O metabolismo fica mais acelerado. Os sintomas que aparecem são irritabilidade, taquicardia, tremor, diarréia, perda de peso, que pode ser bem marcante, além de poder apresentar bócio (papo) e os olhos um pouco saltados?, explica Gisah.

O vigilante Fabiano da Cruz, de 29 anos, tinha 23 quando descobriu ter hipertireoidismo. ?Eu estava emagrecendo bastante, mas ia ao médico e não aparecia nada. Então começou a ficar um pouco saltada a região da tireóide. Foi quando a doença se caracterizou. Minha vida mudou bastante. Tem muita coisa que eu fazia, mas não faço mais?, conta Fabiano.

Atualmente, ele está afastado do trabalho e não pode mais fazer exercícios físicos, pois aceleram-lhe o coração. ?Eu não era assim. Às vezes eu estou normal, mas de repente já fico irritado?, diz.

Durante o tratamento para o hipertireoidismo, cujo custo é mais elevado, utiliza-se um medicamento, como explica a médica Gisah, que bloqueia a função tireoidiana. ?Outro método é o tratamento com iodo radioativo, cuja dose custa entre R$ 500 e R$ 600, que transforma a doença em hipotireoidismo para ser tratada apenas com a reposição hormonal. Em geral, esse tratamento dura dois anos. Caso não funcione, a última opção é a cirurgia?, esclarece a médica.

Fabiano está passando pelo tratamento com sessões de iodo radioativo. Ele já fez duas sessões e está para fazer a terceira. Caso não funcione, ele diz que certamente vai optar pela cirurgia. ?Eu espero me curar e voltar o mais rápido para as atividades normais. Não é fácil ficar em casa sem fazer nada por conta da doença?, lamenta Fabiano.

Teste pode impedir complicações

Foto: Portos Casela/O Estado

Suzana: ?Teste é importante?.

Uma variação das doenças da tireóide é o hipotireoidismo congênito. A doença é bastante séria, mas, segundo a professora do departamento de pediatria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Suzana França, pode ser impedida de chegar a proporções mais drásticas – como o retardamento – pelo simples teste do pezinho. Segundo ela, cerca de 16 mil crianças fazem o teste por mês no Paraná. E uma a cada quatro mil apresenta a doença. É um caso novo por semana.

Se exigido pelas mães, de preferência antes da alta hospitalar, as gotinhas de sangue, colhidas gratuitamente no segundo dia de vida do bebê, podem evitar muitos problemas.

O material colhido em papel filtro é enviado ao laboratório para verificar a dosagem do hormônio tireoidiano. Identificada a doença, logo começa o tratamento. ?A importância do teste é que a criança que não é diagnosticada e imediatamente tratada pode não crescer, ganhar peso e sofrer um atraso importante no desenvolvimento?, alerta Suzana.

Segundo ela, o teste passou a ser obrigatório, de acordo com o Ministério da Saúde, em 2001. O programa no Paraná, que na época já tinha dez anos de experiência, foi e ainda é modelo para o Brasil todo. ?Em termos de tratamento, no Paraná é o mais precoce?, diz a médica.

Medicina molecular possibilita descobertas

Foto: Aliocha Maurício/O Estado

Cleo: ?Auxílio essencial?.

Como explica o médico do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná, Cleo Otaviano Mesa Júnior, entre os cânceres endócrinos, o da tireóide é o mais comum.

O diagnóstico básico é feito por biópsia simples. Porém, novas tecnologias vêm auxiliar. ?A medicina molecular possibilita a descoberta de novos medicamentos e tratamentos. Além disso, o diagnóstico molecular auxilia na prevenção?, afirma.

Uma tecnologia que vem sendo utilizada, principalmente para aumentar as chances de prevenção, é a amplificação do código genético para procurar as mutações do câncer e a incidência na família.

?Quando identificado o primeiro caso na família, pode-se traçar o mapeamento genético para identificar outros casos de mutação, impedindo que a doença se desenvolva em outras pessoas?, explica.

No Paraná, segundo o médico, não há laboratórios de biologia molecular de referência para o tratamento de câncer da tireóide.

Geralmente, aos casos do Estado, são recomendados centros de referência como os de Porto Alegre e São Paulo. ?Estamos tentando montar esse laboratório na UFPR. Temos já a área física e o projeto. Acredito que daqui a um ano e meio já tenhamos?, afirma Cleo.

Mesmo sem o laboratório, o serviço de endocrinologia já é referência em pesquisa clínica, não apenas na área da tireóide, na universidade.

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