Doença renal exige cuidados desde a infância

Nem pensar em praticar atividades físicas ou subir escadas. Algumas brincadeiras são cansativas demais.

Para a criança que sofre de doença renal crônica (DRC), a rotina inclui exames de sangue, de urina, visitas constantes às clinicas e hospitais para consultas médicas e tratamentos.

Os pais devem prestar atenção a sinais e sintomas que podem indicar a evolução da doença. Inchaço, vômitos frequentes, infecções urinária de repetição, atraso no crescimento e desenvolvimento, problemas ósseos, anemias de difícil tratamento e hipertensão arterial podem ter ligação direta com o problema.

O que é pior: a lesão renal pode levar a perda progressiva e irreversível da função dos rins, à diálise e, consequentemente, ao transplante. Esta doença não associada apenas aos adultos é considerada por muitos especialistas a epidemia do século 21.

“Nas crianças a DRC é uma doença devastadora, pois sua taxa de mortalidade entre os pequenos em diálise é de 30 a 150 vezes maior do que na população geral”, revela Maria Cristina de Andrade, especialista em nefrologia pediátrica.

Observação precoce

Doenças nos rins (crônicas ou não) e a perda de função renal trazem uma série de complicações e se transformam em um caminho aberto para outras doenças, como pressão alta, doenças do coração, anemia, alterações nos ossos e baixa estatura.

Embora um em cada 10 adultos seja portador de doença renal, causas e consequências podem ser diagnosticadas e observadas desde muito cedo, até mesmo na fase ultra-interina.

Geralmente, é o contrário: as doenças renais não são detectadas na infância. Por isso, a necessidade efetiva de uma investigação e diagnóstico precoce, com acompanhamento e monitoração, preferencialmente, com acompanhamento de um especialista nefrologista.

Essa atitude é importante para se evitar que a doença se manifeste de outras formas, já na idade adulta. “Um alerta ainda na infância pode evitar outras doenças no futuro, quando a evolução do problema poderá aparecer isolada ou associada com o diabetes, a pressão alta e complicações cardiovasculares”, explica a especialista.

Desconhecimento

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças renais atingem mais de 500 milhões de pessoas no mundo. No Brasil, cerca de dois milhões de pessoas são afetadas e, com bases nos dados do Ministério da Saúde, 60% não sabem que são portadoras do problema.

Esse desconhecimento, a falta de tratamento e o, consequente, agravamento da doença pode levar à morte. Conforme dados do Ministério da Saúde, em 2006, foram registrados 11.099 óbitos por insuficiência renal.

No mundo, a incidência da doença em crianças e adolescentes é de 15 pacientes por um milhão de habitantes entre 0 e 19 anos (dados de 2002). No Brasil, a estimativa é de que existam mais de 6,5 pacientes/milhão habitantes.

A tradução desses números revela-se alarmante: dados do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE) mostraram, por exemplo, no Rio de Janeiro a incidência de 25 pacientes com doença renal terminal (necessitando de diálise) por um milhão de população infantil.

Em São Paulo, somente no Hospital do Rim e Hipertensão (Unifesp-EPM) foram realizados, em 2009, 78 transplantes em crianças. Em 1988, data de início do transplante infantil, foi realizado apenas um transplante no ano.

Cálculo Renal, uma preocupação para o milênio

Podendo comprometer o correto funcionamento dos rins e causar muita dor ao paciente, o aumento mundial da incidência e prevalência da litíase urinária (cálculo ou pedra no rim, ureter e bexiga) é considerado ainda, segundo especialistas, uma das maiores preocupações do novo milênio.

No Brasil, a história familiar do distúrbio foi positiva em 70% dos casos, e em 52% dos p,acientes com cálculos urinários por hipercalciúria.Como a doença renal crônica, o cálculo rena l também não está associado apenas aos adultos.

“Se antes era um caso por mês nos ambulatórios e serviços de emergência, hoje acontece pelo menos dois ou três por semana. O problema afeta entre 3% e 5% das crianças”, a nefrologista pediátrica Maria Cristina de Andrade.

“Além de envolver uma predisposição genética para a formação desses cálculos, de 50% a 60% de crianças com pedras nos rins têm histórico familiar da doença, são adeptos à alimentação industrializada, ao fast food e à ingestão insuficiente de água”, relata a especialista, salientando que esses fatores podem explicar o significativo aumento das doenças renais em crianças.

Entre as formas de prevenção do problema, a recomendação principal das entidades que cuidam do problema no mundo é a ingestão de cerca de um litro de água por dia, a adoção de uma alimentação equilibrada, rica em potássio e frutas, redução da ingestão de sal e a prática de exercícios físicos.

“A atividade física essencial para amenizar os riscos da doença, pois facilita a incorporação de cálcio nos ossos, fazendo com que a substância chegue em menor quantidade aos rins”, esclarece a nefrologista.

A que se deve a doença renal na infância

* História familiar de rins policísticos ou outra doença genética
* Baixo peso ao nascimento
* Histórico de insuficiência renal aguda
* Displasia
* Síndromes urológicas
* Nefrite ou síndrome nefrótica
* História de púrpura de Henoch-Schoenlein
* Diabetes mellitus
* Lupus eritematoso sistêmico
* Histórico de hipertensão arterial