Depressão pós-férias atinge 25% da população

Para muitas pessoas, o início do ano é sinônimo de sombra e água fresca. Muitas aproveitam as férias escolares dos filhos e o início do verão para tirar merecidos dias de descanso do trabalho e da rotina diária.

Segundo a médica e psicanalista, Soraya Hissa de Carvalho, as férias são fundamentais para a saúde e o bom desempenho no trabalho pelo restante do ano. O estresse e pressão do cotidiano vão se acumulando e causam desgaste físico e mental, que pode evoluir para um problema grave de saúde.

Já para um grande número de trabalhadores, o problema que afeta a saúde emocional e psicológica, pode surgir na volta à rotina de trabalho. De acordo com estudo realizado pela International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR) 23% dos brasileiros sofrem de depressão pós-férias.

Esses índices são consequência da pressão cada vez maior no ambiente de trabalho, aumento da competitividade e insatisfação de alguns pela profissão ou empresa que trabalham.

Conforme dados da pesquisa, 93% das vítimas de depressão pós-férias se sentem insatisfeitas profissionalmente; 86% não vêem possibilidade de promoção ou desenvolvimento; 71% consideram o ambiente de trabalho hostil ou pouco confiável; e 49% têm conflitos interpessoais no local onde atuam.

A depressão pós-férias é uma doença que atinge, aproximadamente, 23% dos trabalhadores brasileiros.

Síndrome pós-férias

Para a especialista, todas as pessoas ao voltarem das férias demoram um tempo para se adaptar ao ritmo normal novamente. “Na primeira semana é normal que os profissionais sintam um pouco de desânimo, ansiedade, sono, falta de motivação, desconcentração e até certa irritabilidade”, admite a psicanalista.

Afinal, quem não gosta da boa vida que tem nas férias, da possibilidade de ficar próximo das pessoas que gosta, conhecer lugares novos e não preocupar-se com nada? “Por isso, a primeira semana pós-férias é sempre crítica para a adaptação à velha rotina”, afirma Soraya Carvalho.

No entanto, se esses sintomas persistem por mais de duas semanas, a pessoa pode estar com sintomas de síndrome pós-férias ou depressão pós-férias, que consiste na mudança do estado de humor que prejudica a sua saúde.

Essa mudança afeta o físico, a mente e o comportamento daqueles que sofrem com a síndrome, podendo, dessa forma, causar sérios problemas de relacionamento dentro de seu ambiente de trabalho e, consequentemente, ao convívio social.

Para fugir da depressão com o fim das férias e a volta ao trabalho a psicanalista aconselha que, quem não estiver se sentindo bem no ambiente profissional, que analise antes retornar do período de férias seu grau de satisfação com a profissão, com a empresa em que trabalha e o que mais o incomoda naquele ambiente.

Sentimentos reprimidos

A partir dessa avaliação o trabalhador deve tentar encontrar a melhor forma de solucionar o problema. Todos devem ter em mente que dinheiro é fundamental, mas buscar a felicidade plena deve ser primordial.

O que adianta termos uma profissão se não a executamos com prazer, afinal um bom salário não compra tudo isso. “Quando fazemos o que gostamos vamos realizar com mais afinco e melhor, e o dinheiro e o reconhecimento são consequência de um ótimo trabalho”, reconhece a especialista.

Pode até ser que as férias se transformem em uma fuga inconsciente para não resolver nada, adiar alg,umas mudanças pensando que, na volta, tudo poderá ser recomeçado. Só que em alguns casos pode ter o efeito contrário.

Antes ou durante o período de descanso, com a simples possibilidade de mudança da rotina, podem vir à tona sentimentos reprimidos e que necessitam ser compreendidos.

Enquanto a pessoa insistir em “fugir” do que sente de nada adianta praticar infinitas atividades físicas, mudar os hábitos alimentares e se esquecer dos aspectos emocionais. Nas férias bem aproveitadas, tudo isso é importante.

Esgotamento anunciado

Uma doença, conhecida por síndrome de Burnout, vem crescendo significativamente no ambiente de trabalho brasileiro e pode estar associada a uma forma grave de estresse.

O termo pode ser traduzido como “estar esgotado”, em uma situação na qual o trabalhador sente uma carga de pressão tão grande que o torna agressivo e irritadiço.

O quadro normalmente se manifesta quando a pessoa sente uma sobrecarga de trabalho e responsabilidades da qual não dá conta, levando aos problemas físicos e psíquicos que afetam tanto sua saúde quanto seu rendimento na empresa onde atua.  

Segundo a psicóloga Daniela Levy, existem algumas profissões cujos trabalhadores são mais acometidos pela síndrome. São profissionais que geralmente cuidam ou solucionam problemas de outras pessoas, como médicos, enfermeiros, bancários, professores, profissionais de telemarketing e taxistas.

Algumas características da doença podem ser facilmente identificadas: depressão, esgotamento físico e mental intenso, mudanças evidentes no comportamento, isolamento, desesperança, dores de cabeça constantes, tonturas, tremores, falta de ar, oscilações de humor, distúrbio do sono, dificuldades de concentração e problemas digestivos.

“Se o caso for muito grave, já que a doença pode levar até ao suicídio, o trabalhador tem o direito de ser afastado da atividade para se recuperar ou até, em último caso, se aposentar”, considera a terapeuta.

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