Depressão é uma doença que precisa ser levada a sério

Roupas pesadas e escuras, temperaturas baixas. Preguiça na hora de pular da cama, dificuldade em começar uma tarefa ou desejo incessante por “lanchinhos”? Não é para menos que o inverno traz uma incidência maior de depressão.

Para se ter uma idéia, com o início dos dias frios, o número de casos do distúrbio chega a aumentar em até 20% em relação à média normal. Os especialistas batizaram o surto que ocorre nesta época do ano de depressão sazonal,um problema que afeta mais as mulheres do que os homens.

Apesar de ter seu maior pico no inverno, ela pode ocorrer em outras épocas do ano, desde que o clima propicie o seu aparecimento. Na maioria dos casos, a chegada da primavera ameniza o sofrimento, mas nem sempre isso é regra.

Muitas vezes, os sintomas evoluem para uma depressão crônica, uma doença degenerativa que atinge cerca de 121 milhões de pessoas no mundo, sendo 17 milhões apenas no Brasil.

Também é considerada uma das doenças mais incapacitantes, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A complexidade da patologia leva a dificuldades no diagnóstico, pois o paciente depressivo pode apresentar um leque amplo de sintomas psíquicos e físicos.

Entre os mais presentes, destacam-se a tristeza permanente, anedonia (incapacidade de sentir prazer ou satisfação), ideias suicidas, alterações cognitivas, alterações no sono, dificuldade de concentração, insegurança, sensação de fadiga, perda de energia, dor física e lentidão ou agitação. A manifestação da doença varia de paciente para paciente.

Investigação minuciosa

A depressão ainda é subdiagnosticada e pouco tratada, somente um quinto dos pacientes deprimidos recebem tratamento adequado. A doença é frequentemente confundida com outras que possuem sintomas semelhantes – como estresse e ansiedade – ou com simples tristeza (decorrentes de luto e perdas) ou ainda com a fase depressiva do transtorno bipolar.

“E para complicar, cada paciente apresenta uma combinação diferente de sintomas, o que pode confundir o diagnóstico”, explica Hamilton Grabowski, pesquisador clínico e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria.

O especialista ressalta que a patologia também pode vir mascarada em sinais dolorosos e, muitas vezes, não se percebe que além do físico, há a necessidade de tratar a mente. Ou seja, o paciente se queixa de dor, mas os outros sintomas psíquicos característicos da doença não estão aparentes.

É importante que a investigação sobre o estado do paciente seja minuciosa e considere inclusive histórico familiar de doenças mentais, abuso de substâncias (drogas e álcool) e sinais físicos que as pessoas tendem a omitir dos médicos por não julgarem relevantes.

“Quando negligenciada, a depressão pode ter consequências para o resto da vida”, reconhece o psiquiatra. Estudos comprovam que, com o passar dos anos, pessoas depressivas não tratadas sofrem perdas cerebrais irreversíveis, resultando em déficits cognitivos significativos.

Tratamento medicamentoso

 “A pior implicação para o indivíduo que não trata a depressão é a diminuição da sua qualidade de vida e do seu desempenho psíquico ao longo dos anos, além do risco de suicídio”, completa o médico.

Como a depressão é uma doença crônica, que aparece em episódios, a recomendação é que o tratamento com antidepressivos seja feito até a remissão da doença, ou seja, quando o paciente tem a melhora total e retorna ao mesmo estado de bem-estar em que se encontrava antes d,a depressão.

Porém, é comum que depois de algum tempo a doença se manifeste novamente e com maior intensidade que da vez anterior. Nesses casos, a indicação é o tratamento medicamentoso de uso contínuo.

Atualmente, existem várias classes de antidepressivos no mercado, entre eles, os tricíclicos (atuam em três neurotransmissores: serotonina, noradrenalina e dopamina), os inibidores de recaptação da serotonina e os duais, medicamentos mais modernos que agem diretamente na serotonina e noradrenalina, além de serem indicados para tratar outros problemas, como dores crônicas presentes em fibromialgia, osteoartrite de joelho e lombalgia.  Nesses distúrbios, frequentemente, as dores físicas estão diretamente ligadas à depressão.

Mudanças significativas

A depressão sazonal ocorre em pessoas de todos os níveis. Ela não discrimina sexo, raça nem ocupação. A estimativa é de que existam aproximadamente quatro mulheres para cada homem acometido pelo distúrbio. A maior incidência se dá entre os 20 e os 40 anos de idade, mas ela pode ocorrer em todas as idades, inclusive em crianças.

Em um extremo existem aqueles que apresentam pouca ou nenhuma alteração e em grupos intermediários existem aquelas pessoas que apresentam pequenas alterações com as quais é fácil conviver no dia a dia.

De acordo com os especialistas, somente aquelas pessoas que apresentam mudanças significativas no comportamento é que devem procurar auxílio médico neste período.

A psicanalista Dulce Barros explica que, em alguns casos, a depressão sazonal mais exacerbada pode se transformar em depressão crônica e durar meses, anos e, em alguns casos, a vida toda. “Por isso, o acompanhamento de um especialista é fator determinante na recuperação do paciente”, adverte.

Alterações provocadas pela depressão sazonal

Hábitos: Dormir por mais horas, se sentir sempre cansado e com dificuldades de acordar pela manhã.

Alimentação: Aumento do apetite; busca incessante por “comidinhas” que trazem como efeito o aumento de peso.

Motivação: Dificuldade de concentração; fadiga; isolamento social; diminuição do impulso sexual; e falta de energia para as tarefas de rotina.

Humor: Irritabilidade ou apatia; baixa autoestima; tristeza; e, em casos extremos, idéias suicidas.

Saúde: Distúrbios do sono; nas mulheres, maior intensidade da tensão pré-menstrual, irritação frequente.