Depressão coloca o coração em risco

Em conjunto com o tabagismo, a má alimentação, o sedentarismo e o estresse, os últimos estudos vêem apontando a depressão como mais um fator de risco para o surgimento de doenças cardíacas.

De acordo com pesquisa publicada no periódico Arquivos Brasileiros de Cardiologia, a vivência do luto pela perda de pessoas próximas pode ser indicativo de fator psicológico predisponente às manifestações da doença arterial coronariana (DAC) e também pode haver relação entre luto e depressão.

O trabalho é da autoria de Rachel Jurkiewicz, médica do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e de Bellkiss Wilma Romano, pós-graduanda do InCor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

De acordo com as autoras, para colheita de dados, foi realizado levantamento com 44 pacientes entre homens e mulheres, com idades variando de 18 a 65 anos, internados em razão de diagnóstico de infarto agudo do miocárdio ou angina. Na ocasião da avaliação, esses pacientes encontravam-se internados para investigação, sem indicação de cirurgia até aquele momento, em leitos da unidade de internação de cardiologia, do Hospital de Clínicas da UFPR.

Descritores

As pesquisadoras realizaram uma entrevista com os pacientes por meio de perguntas-chave, que incluiu questões como: “Aconteceu algo que modificou sua vida?” ou “Aconteceu alguma perda que foi significativa, levando a mudanças em sua vida?”.

Uma das finalidades da pesquisa foi, conforme explicam as médicas, foi avaliar o estado de luto. Esse processo se deu pela identificação de algum tipo de evento significativo e também por meio de oito descritores do luto: tristeza, choro fácil, sentir falta do objeto perdido, sentimento de vazio, sentimento de culpa, isolamento, perda do interesse e inibição. Esses foram extraídos no decorrer da prática clínica e identificados durante o contato com o paciente, por meio de observação ou emergiram no relato.

As pesquisadoras consideram o estado de luto a presença de pelo menos três desses descritores. Rachel e Bellkiss afirmam que todos os pacientes relataram a ocorrência de um evento significativo. A variedade predominante entre os efeitos significativos foi o evento morte de familiar (47%) que somado ao evento ‘morte de pessoa próxima’ (13%) perfaz o total de 60%.

O percentual do total de participantes que relataram morte de familiar ou pessoa próxima como evento significativo foi de 84,2%, tendo sido identificado estado de luto em 65,9% do total da amostra.

Doenças cardiovasculares

Quanto ao número de mortes relatadas pelos participantes, considerando-se cinco categorias – de uma a quatro mortes -, observou-se que 100% daqueles que relataram quatro mortes encontram-se em estado de luto.

Dos que relataram duas mortes, 85,7% apresentam estado de luto. “Daqueles que não relataram nenhuma morte, apenas 14,3% encontram-se em estado de luto”, concluiu o estudo.

As médicas também apontam que “de acordo com os resultados obtidos por meio do inventário de depressão de Beck”, 68,3% apresentam depressão. Destes, 20,5% apresentam sintomas leves ou moderados; 36,4% depressão moderada a grave e 11,4% depressão grave.

O que permite lhes permitiu concluir que existe uma relação significativa entre o estado de luto e a depressão. Para as autoras, a categoria vivência de perdas pode ser indicativo de fator psicológico predisponente às manifestações de doença arterial coronariana, “o que vem a ser uma contribuição para a abordagem, o diagnóstico e a prevenção dos estados de depressão, abordados na literatura, como fator associado às doenças cardiovasculares”.

Luto e depressão

Segundo dados norte-americanos, observa-se um aumento de consultas médicas e um aumento da mortalidade por suicídio e acidentes, entre as mulheres que ficaram viúvas recentemente.

Provavelmente a depressão não tratada nessa fase pode estar contribuindo para esse quadro. As pessoas que se encontram de luto em virtude da perda de uma pessoa querida sentem os sintomas da depressão e, por isso, uma percepção negativa da vida, tendem, a usar o tabagismo ou mesmo enveredar para o caminho das drogas e podem apresentar um comprometimento do sistema imunológico.

O luto é um fator desencadeante de transtornos de ansiedade. Após um período de seis meses 24% a 30% apresentam o quadro depressivo, ao longo de um ano 16% apresentam depressão e em torno de dois anos 15% apresentam a depressão. O luto complicado esta associado à história pessoal anterior de transtorno depressivo e a história familiar de depressão.

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