Curitiba zera a fila de transplantes de córnea

Lente mais importante do olho, a córnea possui aproximadamente 43 medidas de convergência e faz parte da camada mais externa do globo ocular. É totalmente transparente, situando-se à frente da íris – o colorido do olho. Assim, como um vidro de relógio, nos permite por sua transparência que vejamos o mostruário.

É fácil de entender que a forma e a transparência corneanas são muito importantes para uma boa visão. Mas, várias doenças podem causar danos a visão, prejudicando a córnea, que, muitas vezes, só serão corrigidas com um transplante. A fila dos transplantes de córneas em Curitiba está zerada. Com isso, termina o drama para centenas de pessoas que, até recentemente, aguardavam entre seis e oito meses para conseguirem uma doação.  Em boa parte do país 26 mil pessoas aguardam um transplante para voltarem a enxergar e, com isso, retomar a qualidade de vida.

O “zeramento” das filas na capital foi resultado de uma série de medidas propostas ao governo do Paraná a partir de reuniões e audiência pública convocada pela Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa do Paraná em conjunto com os bancos de olhos do Estado do Paraná.

Após o óbito

Como resultado das reivindicações, a Central de Transplantes deixou de limitar a idade do potencial doador (resolução apenas vigente no Paraná), investiu em campanhas educativas, adotou outros mecanismos facilitadores desde a captação até a realização do transplante.

A expectativa é a de que o mesmo cenário se repita no restante do Estado. Para isso, o médico e deputado Dr. Batista, presidente da Comissão, convocará nova audiência para o dia 3 de agosto, a fim de definir as próximas estratégias a serem adotadas em conjunto pelos bancos de olhos. O secretário de estado da Saúde, Michele Caputo Neto, também participará do encontro, quando, na ocasião, também apresentará um balanço aos parlamentares sobre os seus primeiros meses na condução da Secretaria.

Para o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, diferente do que ocorre na captação de tecidos vascularizados, como rim, coração e pulmão, para que se efetue a doação de córnea não é preciso que o doador tenha sofrido morte cerebral. “O tecido pode ser captado até seis horas após o óbito, por qualquer que tenha sido a causa”, explica o especialista. Além disso, qualquer pessoa pode doar, desde crianças até quem tem mais de 70 anos.

Desafios

Dados da Central de Transplantes comprovam que o Paraná apresentava dificuldades para aumentar o número de transplantes de córneas. Em 2008, foram realizados mil procedimentos; em 2009, o número baixou para 947; em 2010, para 832. Também, o número de captações de córnea no período diminuiu, contribuindo para elevar ainda mais a espera na fila pelo transplante.

Os dados parciais de 2011, por outro lado, são otimistas. Até o começo de julho, quando o governo começou a tomar as medidas propostas pelos bancos de olhos, aumentou em mais de 20% o número de transplantes de córneas no estado – índice que Caputo Neto considerou histórico desde a criação da Central de Transplantes, em 1995.

Para acabar de vez com o problema das filas, representantes dos bancos de olhos acreditam que outros importantes desafios devem ser vencidos. A conscientização dos familiares do potencial doador é um deles. A recusa dos parentes em consentir com a doação ainda é elevada, por desinformação, que gera preconceito.  Os servidores do Instituto Médico Legal de Curitiba auxiliam na conscientização dos familiares quanto à doação das córneas, o que contribui na decisão dos familiares dos doadores.

O transplante de córnea é muito antigo. O primeiro foi realizado em 1938, nos Estados Unidos. Passados todos esses anos de aprimoramento da tecnologia, a incidência de complicações é baixa.

Saiba tudo sobre a doação

O que é a córnea?

A córnea é um tecido transparente que fica na parte da frente do olho (de forma grosseira, podemos compará-la ao vidro de um relógio ou a uma lente de contato). Se a córnea se opacifica (embaça) por enfermidades hereditárias, lesões, infecções, queimaduras por substâncias químicas, enfermidades congênitas ou outras causas, a pessoa pode ter a visão bastante reduzida ou até perder a visão.

O que é o transplante de córnea?

Os transplantes permitem que pessoas com alguma deficiência visual por problemas de córnea recuperem a visão. Durante um transplante de córnea, o botão (ou disco) central da córnea opacificada (embaçada) é trocado por um botão central de uma córnea saudável. O índice de sucesso da cirurgia é superior a 90% dos casos. Clique aqui e saiba mais sobre esse procedimento.

Quais as indicações para o transplante?

A principal indicação para o transplante é o ceratocone – clique aqui e saiba mais.  O procedimento é indicado também para o tratamento de córneas opacas (que impedem a entrada de luz) e distrofias corneanas, além de alguns casos de doenças da esclerótica (branco dos olhos).

Qualquer hospital pode fazer um transplante?

Não. Hospital, assim como médicos, devem ser cadastrados no Sistema Nacional de Transplantes e na Central de Transplantes do Estado ao qual pertencem. Somente esses profissionais e essas unidades garantem procedimentos de forma ética, segura, em acordo com leis e normas éticas internacionais.

O olho, como um todo, pode ser transplantado?

Não. Somente alguns tecidos oculares podem ser utilizados com fins terapêuticos, como a córnea e a esclera e células-tronco da córnea.

Existe alguma doença ocular que impeça a doação?

Qualquer pessoa pode se oferecer para doar suas córneas, independente da idade, de usar óculos ou lentes de contato ou de ter miopia, hipermetropia, astigmatismo, catarata ou mesmo glaucoma.  O mais importante é que os familiares do doador sempre sejam consultados a autorizar a doação. Por este motivo, caso você deseje doar suas córneas comunique isto à sua família para que ela saiba de sua vontade.

A doação deforma a córnea?

Os tecidos oculares são retirados de acordo com técnica cirúrgica que não deixa vestígios. A doação não modifica a aparência do doador. Portanto, a doação não deforma a córnea.

O que é uma fila de espera e quantas pessoas hoje estão nessa fila?

A lista de espera é uma fila única. Ela tem o objetivo de promover acesso ao transplante de forma igualitária, indiscriminada. Infelizmente, hoje mais de 26 mil brasileiros vivem o drama das filas, enquanto aguardam por um gesto de solidariedade de um doador.