Cresce o uso da ?pílula do dia seguinte?

O uso de anticoncepcionais de emergência, conhecidos popularmente como ?pílula do dia seguinte?, vem aumentando paulatinamente em todo o País. Isso pode significar que as mulheres, boa parte adolescentes, não estão usando métodos adequados de contracepção. O médico e professor titular de Reprodução Humana do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rosires Pereira de Andrade, alerta que o procedimento não é totalmente seguro. A eficácia gira por volta de 90%, menos do que os anticoncepcionais de uso contínuo que possuem margem de 99,8% de segurança.

A pílula do dia seguinte ganhou o mercado no Brasil há quatros anos. De lá para cá, o número de mulheres que vem usando o método aumentou significativamente. Ela pode ser usada até 72 horas após a relação sexual para evitar a concepção. Mas não deve ser utilizada com freqüência, ao contrário do que ocorre hoje. A farmacêutica Gisele Cristine Gonçalves Lamin trabalha na farmácia Zacarias Miranda, no centro de Curitiba, e confirma a informação. Segundo ela, há algumas semanas, ela observou um considerável aumento na procura pelas pílulas. ?Elas compram o medicamento e dali a quinze dias a mesma pessoa retorna. A gente orienta que a pílula só deve ser usada de forma emergencial, mas elas continuam comprando, não levam o aviso em consideração?, revela.

Mulheres de várias idades estão utilizando o método. Muitas são adolescentes. ?A idade varia entre 15 e 30 anos?, conta Gisele. Muitas vezes é o próprio namorado quem banca o uso do medicamento, que custa em média R$ 20. Para Gisele, o aumento na procura tem sido estimulado pelas informações divulgadas na mídia e pelo preço atrativo.

A farmacêutica Márcia Valério Salvato, da farmácia Redentor, no bairro Alto São Francisco, também confirma a grande procura nos últimos meses. Segundo ela, aumentaram as vendas do contraceptivo, e é comum a mesma pessoa voltar. Ela afirma ainda que algumas mulheres teimam em não ouvir as orientações dos farmacêuticos.

Efeitos colaterais

Rosires diz que não existem estudos sobre possíveis problemas de saúde que o uso contínuo do anticoncepcional emergencial pode provocar em longo prazo. Mas explica que a mulher que está sob efeito do produto fica com o ciclo menstrual desregulado, sem saber exatamente a data da ovulação.

Se por um lado Rosires afirma que a pílula é importante porque ajuda a evitar a gravidez indesejada, faz um alerta para a margem de segurança que é de 90%. O uso freqüente da pílula também preocupa porque mostra que algumas mulheres estão deixando de lado a camisinha e correm o risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis.

Segundo a Prefeitura Municipal de Curitiba, o Ministério da Saúde está pedindo um levantamento sobre a situação nas capitais. As informações devem servir para a elaboração de campanhas sobre o assunto.

Redução no número de adolescentes grávidas

O índice de gravidez na adolescência em Curitiba ficou em 16% em 2004, confirmando a tendência de redução das taxas iniciada há sete anos. Em 1997, o índice era de 19,9%, na faixa de mães entre 10 e 19 anos. A partir de 1999, com as intervenções dos programas Mãe Curitibana, Planejamento Familiar e Adolescente Saudável, as taxas começaram a cair. A queda envolve gestantes atendidas ou não pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Dados da Secretaria Municipal da Saúde mostram que em 2004 nasceram 24.946 bebês, sendo 4.025 de mães adolescentes (10 a 19 anos). Em 2000, nasceram 5.553 crianças de mães adolescentes – 173 tinham de 10 a 14 anos e 5.380, entre 15 e 19. Dos bebês nascidos no ano passado, 116 são filhos de mães entre 10 e 14 anos e 3.909 de mães na faixa dos 15 aos 19. A redução por faixa é respectivamente de 33% e 27%.

O índice de Curitiba se aproxima do estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para países desenvolvidos – taxa de 10% para mães menores de 20 anos. O coordenador do Programa Mãe Curitibana, médico Edvin Javier Boza, atribui a redução da gravidez na adolescência às atividades de educação em saúde e à disponibilização de métodos anticonceptivos, incluindo os específicos para adolescentes.

Antes da implantação do Mãe Curitibana (1999), 28% das unidades de saúde registravam um índice de gravidez na adolescência acima de 30% em sua área de abrangência. Hoje, só seis, das 107 unidades, beiram os 30%, ou até menos. Um exemplo é a Unidade de Saúde Vila Esperança, no Atuba, onde o índice chegou a 37% e caiu para 31%. O resultado veio do esforço conjunto de vários órgãos da Prefeitura, Secretaria da Saúde e comunidade.

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