Cresce o número de doentes de Alzheimer

É comemorado em 21 de setembro o Dia Mundial da doença de Alzheimer, principal causa de demência entre os idosos. Entretanto, a data não traz boas notícias: na mesma proporção que aumenta a expectativa de vida dos seus portadores, aumenta, também, o número de doentes de Alzheimer. De acordo com os médicos, a situação é preocupante, já que a patologia envolve o doente e a sua família – geralmente seus cuidadores. Além disso, em termos de saúde pública, uma maior incidência da enfermidade provoca maiores preocupações em termos de bem-estar social, econômico e de qualidade de vida.

Um estudo da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), baseando-se em índices do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que daqui dez anos o Brasil terá uma população de mais de 60 anos de idade de quase 24 milhões, dos quais uma parcela bastante significativa está exposta a desenvolver doenças crônicas, entre elas a doença de Alzheimer. Em 2017, serão 2,4 milhões de idosos acima de 80 anos. ?Esse contingente deverá gerar um significativo impacto econômico e social?, alerta o presidente da ABN, Sérgio Roberto Haussen. A instituição alerta que o governo deveria estabelecer metas e planos de ação específicos para a melhoria da saúde dessas pessoas.

Envolvimento de todos

Baseada nestes dados, a preocupação da ABN é conscientizar a população sobre o diagnóstico, a doença, tratamentos e prevenção, por meio de campanhas de esclarecimento. Este ano, com o tema Paciente-Cuidador-Médico:Alzheimer, todos estão envolvidos, a ABN realiza ações em diversas capitais brasileiras, entre elas Curitiba. ?Embora a divulgação de informações a respeito da doença tenha aumentado e melhorado muito nos últimos anos, ainda há, infelizmente, desconhecimento, tanto por parte da população geral quanto mesmo por alguns profissionais de saúde?, comenta o coordenador do Departamento de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN, Paulo Caramelli, explicando que muitas vezes os sintomas da doença, especialmente nas fases iniciais, são considerados como sendo próprios do envelhecimento, o que em muitos casos retarda o diagnóstico e o início do tratamento.

Embora não exista cura para Alzheimer, os medicamentos atuais conseguem atrasar a progressão da doença. Situação de extrema importância na medida em que melhoram os sintomas. ?Estudos indicam que idosos que ocupam o seu tempo com atividades intelectuais ou que mantêm uma interação social mais ativa estão menos propensos a sofrer do distúrbio?, lembra o neurologista Paulo Jacques Monteiro Leite. Segundo o médico, essas atividades podem se resumir desde uma simples caminhada, já que o exercício físico também é importante nessa fase da vida, até a participação em associações de idosos e trabalhos comunitários, ou, simplesmente, o bate-papo com os amigos e, até mesmo, uma simples palavra-cruzada.

Alzheimer não é:

* Uma conseqüência do envelhecimento;

* Endurecimento das artérias e veias do cérebro;

* Falta de oxigênio no cérebro;

* Causada por estresse, trauma psicológico ou depressão;

* Retardo ou preguiça mental;

* Azar ou castigo.

A doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer é a mais freqüente doença neurodegenerativa.

Trata-se de uma doença que acarreta alterações do funcionamento cognitivo (memória, linguagem, planejamento, habilidades visuais e espaciais) e muitas vezes também do comportamento (apatia, agitação, agressividade, delírios, entre outros), que limitam progressivamente a pessoa nas suas atividades da vida diária, sejam profissionais, sociais, de lazer ou mesmo domésticas e de auto-cuidado. O quadro clínico descrito caracteriza o que em medicina é denominado "demência"."Aquele homem forte e ativo, com inúmeras responsabilidades, não existe mais", comenta o técnico em informática G. R. F., sobre seu pai, que foi diagnosticado com a doença de Alzheimer. Há quatro anos, o contabilista aposentado aos 65 anos, de um dia para o outro, não sabia mais fazer cálculos. Hoje, não escreve nem lê, esqueceu tudo o que aprendeu na profissão. Não consegue fazer sua higiene pessoal sozinho e vive uma turbulência sem fim.

"Acho que não consegue nem mais pensar", resigna-se o filho.

De acordo com o neurologista Paulo Caramelli, a patologia se manifesta progressivamente, aumentando em sua gravidade com o tempo.

"Os sintomas iniciam-se lentamente e se intensificam ao longo dos meses e anos subseqüentes. Muitos sintomas não ocorrem no início, mas surgem ao longo da evolução da doença", explica o médico.

Sabe-se que em uma minoria dos casos (menos de 2%) pode ter origem genética, com história familiar. Na maioria dos casos não existe componente genético.

DEZ sinais de alerta

1. Problema de memória que chega a afetar as atividades e o trabalho;

2. Dificuldade para realizar tarefas habituais;

3. Dificuldade de comunicar-se;

4. Desorientação no tempo e no espaço;

5. Diminuição da capacidade de juízo e critica;

6. Dificuldade de raciocínio;

7. Colocar, freqüentemente, coisas no lugar errado;

8. Alterações freqüentes de humor e comportamento;

9. Mudança de personalidade;

10. Perda da iniciativa para fazer as coisas.

Tratamento multidisciplinar

O tratamento da doença de Alzheimer inclui intervenções farmacológicas (medicamentosas) e não- farmacológicas.

É importante ressaltar que estas medicações têm efeito sintomático e eficácia modesta, embora beneficiando uma parcela significativa dos pacientes. Como podem ter efeitos colaterais, o tratamento deve ser iniciado sempre com doses baixas, que serão aumentadas gradativamente, procedimento este que deve ser acompanhado por um médico.

O tratamento não- medicamentoso da doença de Alzheimer é dirigido não apenas ao paciente, como também aos seus familiares e cuidadores. Orientações sobre a natureza e a evolução da doença, sobre como lidar com eventuais comportamentos inadequados ou mesmo agressivos, além de adaptações e modificações necessárias no ambiente, e programas de atividades específicas para os pacientes, são exemplos de tais medidas.

A participação de outros profissionais de saúde, particularmente aqueles que trabalham no campo da reabilitação, como fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia, além de profissionais de enfermagem, é de grande importância.

Os objetivos do tratamento são:

* Melhorar a memória e as outras funções mentais;

* Controlar os transtornos de comportamento;

* Retardar a progressão da doença;

* Melhorar a qualidade de vida da pessoa doente;

* Melhorar a qualidade de vida dos familiares e dos cuidadores.

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