Células-tronco dão novas esperanças de recuperação

Um paciente natural de Joinville, Santa Catarina, submetido a um implante de células-tronco para recuperação do músculo cardíaco, está prestes a levar uma vida próxima do normal. A notícia vem do médico da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Paulo Roberto Brofman. O homem, na faixa dos 50 anos de idade, possuía miocardiopatia dilatada, uma doença conhecida popularmente como ?coração de boi?, e foi um dos primeiros pacientes brasileiros a ser tratado pelo método, que traz ótimas perspectivas, de acordo com o meio científico mundial.

?O coração dilatado leva à falta de ar, inchaço nas pernas e cansaço, situação que culmina com uma insuficiência cardíaca, cujo único recurso para salvar a vida da pessoa, na maioria das vezes, é um transplante?, relata o médico. Além de uma esperança real de cura da doença, o sucesso do método que utiliza células-tronco tem um alcance expressivo, já que pode melhorar a qualidade de vida de cerca de quatro milhões de pessoas que, segundo o Ministério da Saúde, sofrem de insuficiência cardíaca no Brasil.

Células do próprio paciente

Brofman explica que o músculo cardíaco, quando sofre uma lesão como infarto do miocárdio ou processo inflamatório, perde a função de bombear o sangue para o resto do corpo por morte das células. Como o organismo não tem capacidade de regenerar essas células, o paciente passa a sofrer de insuficiência. O pesquisador afirma que o procedimento de substituição das células danificadas por células-tronco é relativamente simples, inclusive um dos métodos estudados não exige sequer uma cirurgia. "As células são colhidas do próprio paciente, ou seja, não existe o problema de rejeição. Elas são injetadas no coração através de cateteres introduzidos por uma artéria situada na perna do paciente", frisa. O procedimento todo tem duração de cerca de quatro horas e os pacientes recebem alta em 48 horas. Conforme o especialista, os primeiros sinais de recuperação começam a ser percebidos na terceira semana após a injeção de células.

A retirada das células-tronco é feita por meio de uma punção no osso do quadril, de onde são retirados 100 mililitros de sangue. Depois o material passa por um laboratório especializado onde as células são separadas e preparadas para ser injetadas no músculo cardíaco. As células-tronco adultas utilizadas no tratamento são fontes de pesquisas em laboratórios de vários países. Elas têm alta capacidade de se auto-renovar e originar células com diferentes funções. Por isso, os estudos para sua utilização vão desde a recomposição de tecidos danificados até o tratamento de doenças como o mal de Parkinson, o diabetes e as doenças musculares degenerativas.

Esperança de vida

O Laboratório de Engenharia de Transplantes de Células-Tronco da PUCPR ? um centro de referência nacional em pesquisa científica, já implantou células em seis pacientes, com diferentes níveis de comprometimento. Uma outra técnica desenvolvida na instituição, em associação com o método de punção de células, inclui o uso de células retiradas do músculo da perna do paciente que, depois de passar pelo mesmo processo em laboratório, são implantadas no coração.

Em Curitiba, o Hospital Cardiológico Costantini é um dos que participam do programa brasileiro, última etapa do maior estudo com células-tronco adultas para o tratamento de doenças graves do coração já realizado no mundo. Pacientes do hospital também serão submetidos a estudos tipo duplo-cego, em que metade deles recebe células-tronco e a outra parcela o tratamento atualmente indicado para sua patologia. No final de um determinado período, os dois grupos serão comparados. Caso a eficácia da nova terapia seja comprovada pelo estudo, o ganho será importante para os pacientes, ou seja, melhor qualidade de vida, menos medicamentos para tomar, menos retornos ao hospital e mais expectativa de vida.

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