Aperta aqui, aperta acolá

Elas vão surgindo aos poucos. Uma a uma são amaldiçoadas e apertadas. Muitos ainda tentam escondê-las, mas é difícil se livrar delas. De repente, elas aparecem em grande número, infernizando a vida dos adolescentes e causando um duro golpe na auto-estima. A primeira coisa em que eles pensam quando vêem o rosto coberto por acnes ou espinhas é que a pele nunca mais voltará ao normal. O simples hábito de olhar no espelho pela manhã e perceber que nenhuma delas sumiu do rosto na noite anterior basta para que a convivência social dos jovens seja prejudicada. Se não trabalhada, a convivência com essas ?marquinhas? pode até acabar em depressão.

Um rosto sem manchas ou pontos avermelhados. O que parece ser objeto de desejo de milhares de adolescentes é uma realidade na vida de apenas 20% dos jovens brasileiros. Estima-se que a acne esteja presente em mais de 80% de pessoas com idades entre 15 e 25 anos. Especialistas alertam que a orientação médica representa o melhor caminho para o tratamento, uma vez que os medicamentos oferecem riscos de reações adversas. Quem apresenta formas graves de acne pode buscar o tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS).

O aparecimento da doença depende de fatores como aumento da produção de sebo e presença de bactérias que vivem normalmente sob a pele. Na fase da puberdade, entre 14 e 17 anos, o organismo intensifica a produção de hormônios. Quando esses hormônios atingem a pele, provocam aumento das glândulas sebáceas e, conseqüentemente, da quantidade de sebo sob a pele. ?Esse é o principal motivo da acne atacar um número tão grande de adolescentes?, esclarece a mestre em dermatologia, Gladys Aires Martins.

Escolha da conduta terapêutica

A acne não atinge órgãos internos e jamais leva à morte. As avós sempre dispunham de pomadas e ungüentos para diminuir a inflamação ou esconder os insistentes pontinhos vermelhos. Hoje, os adolescentes contam com um arsenal de soluções bem mais avançadas, como a utilização de ácidos retinóides ou a isotretinoína, substância análoga à vitamina A, que apresenta cerca de 90% de eficácia no tratamento do distúrbio. No SUS o tratamento é gratuito, mas os pacientes precisam passar por uma avaliação rígida e têm de se enquadrar em uma série de critérios exigidos pelo Ministério da Saúde.

Entre adultos, a acne acomete mais as mulheres, porque, muitas vezes, pode estar associada a disfunções hormonais. O cirurgião plástico Lecy Marcondes Cabral, do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, recomenda que se investigue a causa da acne quando ela surge em uma mulher adulta. Para ele, é preciso investigar se existe alguma outra razão que esteja induzindo a acne, como, por exemplo, a presença de ovários policísticos, por exemplo. ?Tudo que contenha hormônios, seja com base em testosterona, estrógeno ou progesterona, pode causar acne?, afirma o médico.

A acne pode ser classificada como não-inflamatória e inflamatória. Conforme os especialistas, essa classificação é importante, pois a conduta terapêutica varia conforme o grau de comprometimento. ?Assim, o especialista poderá orientar e instituir o tratamento que levará a um resultado satisfatório?, recomenda Cabral.

Foi o que aconteceu com a advogada Márcia Costa. Aos 21 anos, incomodada com a quantidade de espinhas e cravos no rosto, procurou um dermatologista e resolveu recorrer à isotretinoína. O tratamento durou seis meses. Tempo necessário para a pele se renovar e expulsar todas as inflamações que tanto a incomodavam. Hoje, quase dez anos depois, ela não hesita em tirar fotos e dispensar a maquiagem. "Não tenho mais nada para esconder", brinca.

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