Acesso à internet é um aliado da saúde

O acesso cada vez maior do público em geral a informações sobre saúde e medicina contribui para ampliar a comunicação entre médicos e pacientes. Com a internet e os diversos meios de comunicação, o paciente está assumindo uma participação mais ativa no cuidado de sua própria saúde.

De acordo com uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, 61% dos adultos americanos buscam informações sobre saúde na internet e 60% afirmam que a informação encontrada na web afeta sua decisão em relação ao tratamento da doença.

No Brasil, segundo o Comitê Gestor da Internet, 39% dos usuários usam a web para procurar informações relacionadas à saúde e esse percentual aumenta para 60% quando se consideram apenas os que têm nível superior.

Para os pesquisadores, a busca por informações de saúde ocorre numa ampla rede tanto de fontes online quanto em páginas da área médica colocadas na internet.

Enquanto no passado, a pessoa consultava um profissional de saúde, a mãe ou um amigo, ele agora também lê blogs, ouve podcasts, atualiza seu perfil nas redes sociais e posta comentários.

Além disso, muitos usuários que encontram informações de saúde na web conversam sobre o assunto com algum especialista de seu contato. Segundo o levantamento, os americanos continuam a recorrer às fontes tradicionais de informação, mesmo se aprofundando no engajamento com o mundo virtual.

Quando necessitam de informação ou assistência em saúde e assuntos médicos, 86% dos americanos consultam um profissional de saúde, 68% conversam com o amigo ou membro de família, 57% usam a internet e 54% utilizam livros ou materiais impressos.

Bem informados

Segundo uma pesquisa realizada por Wilma Madeira da Silva, especialista em Saúde Pública, sobre os hábitos dos pacientes em relação à Internet, feita via web e respondida por 116 pessoas, 83% dos participantes disseram buscar informações sobre saúde na rede.

Além disso, 85% afirmaram que voltam a fazer pesquisas online depois da consulta médica e 50% dos médicos reagem mal quando o paciente chega com informações obtidas em sites ou blogs.

Vale ressaltar que mais da metade dos entrevistados disseram usar o Sistema Único de Saúde (SUS), mostrando que o fenômeno não está restrito às classes mais altas.

Helena Beatriz da Rocha Garbin, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constata questões diferentes. “Algumas teses defendem os pacientes bem informados e que valorizam o papel do médico, outras, dizem que o livre acesso à informação leva a uma desprofissionalização do médico”, aponta.

Já um terceiro ponto de vista sustenta que, mesmo questionando certas posições dos médicos, pacientes mais interessados possibilitariam um diálogo mais profundo sobre as doenças com os profissionais.

Democratização

Embora a democratização da informação sobre saúde seja benéfica de uma maneira geral, ela pode levar os pacientes a conclusões erradas sobre sua saúde, em função da dificuldade de discernir quais as fontes confiáveis e duvidosas.

Quando utilizada de forma correta, a médica confirma que a internet pode ser um fator positivo na busca de informações sobre medicamentos e doenças. “É uma ferramenta de grande alcance para se complementar informações, conhecer profissionais, mas não para tornar como referência e verdade absoluta”, afirma Helena Garbin.

Portanto, é preciso tomar cuidado com o que se encontra na rede. “Muitas páginas podem ser escritas sem nenhum embasamento, ou serem simplesmente veículos de empresas comerciais, interess,adas na divulgação de medicamentos”, alertam os pesquisadores.

Quando perguntada sobre como um paciente internauta poderia se informar com veracidade pela rede, a médica dá a dica: sites institucionais. É recomendável que o doente procure páginas não comerciais, ligadas às universidades e sociedades de especialidades. “A visita a um especialista não deve ser descartada em momento algum”, completa a especialista em Saúde Pública.

Opinião médica é fundamental

Sites de busca podem solucionar certos problemas. Mas, quando se trata da saúde, o melhor mesmo é sempre confiar na opinião embasada do profissional da Medina. Para Miguel Ibraim Hanna Sobrinho, conselheiro do CRMPR, estar bem informado nunca é demais.

“Um dos grandes desafios do médico é conseguir informar o paciente – durante a consulta – sobre a importância de seu tratamento, sua doença, como ele deverá agir a partir do momento que descobre a enfermidade e sobre a maneira correta de tratá-la”, reconhece.

Assim, quanto mais informações o paciente tiver, mais fácil será para ele entender aquilo que o médico quer passar na consulta. O conselheiro faz uma ressalva: o perigo de se informar pela internet é que nela temos uma descrição parcial ou apenas uma leitura de dados com pouca conclusão e muitas vezes são textos opinativos. “Com isso, o paciente pode deixar de dar credibilidade à informação do profissional consultado por ele”, teme.

Ao estar embasado com informações da internet, Hanna Sobrinho diz que o conflito entre o médico e o paciente pode acontecer. Isso pode fazer com que a relação entre eles seja prejudicada.

“Muitas vezes o paciente, na ânsia por mostrar que sabe, acaba confrontando a opinião do profissional. Essa questão deve ser tratada com habilidade e cautela pelo profissional”, completa.

Automedicação

Para Miguel Hanna Sobrinho, além da veracidade da informação, o grande risco que o paciente corre ao se informar pela internet são os riscos da automedicação. “Qualquer informação imparcial, sem conhecimento aprofundado não dá condições aos pacientes de usar os medicamentos por conta própria. As chances de complicações são grandes”, alerta o conselheiro do CRMPR.

Os medicamentos podem surtir efeitos diferentes em determinadas pessoas. “Nada contra ter informações, mas saber usar é importante. Uma informação isolada tem um valor, mas não como aquela que o profissional que estudou detém”, afirma.

Leonardo Coleto

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