A mulher e a escolha do anticoncepcional

Se até a década de 30, o voto havia sido uma das maiores conquistas para a mulher, nos anos 50 foi desenvolvida, pelos americanos Gregory Pincus e Carl Djerassi, a pílula anticoncepcional, que só foi liberada pelo U. S. Food and Drug Administration (FDA) na década de 60. Como tinha grande quantidade de hormônios, as usuárias se queixavam de náuseas, corpo inchado, dores nas pernas e dores de cabeça, como constatou a pesquisa realizada sob a coordenação de Joana M. Pedro, da Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente, as pílulas mais modernas possuem um centésimo da dose hormonal da primeira pílula, mas exigem ser tomadas no horário certo, não serem esquecidas e requerem atenção aos efeitos colaterais.

É importante observar que embora os anticoncepcionais dissociam o sexo da maternidade e favorecem a inserção da mulher no mercado de trabalho masculinizado que não previa a maternidade, tem atrás do uso da pílula e da comercialização dos anticoncepcionais “uma rede de interesses de diferentes atores, entre eles os ginecologistas, a indústria farmacêutica e os organismos internacionais interessados em controlar a natalidade, principalmente nos países menos desenvolvidos.” (Manica, 2003).

Mônica Valéria Vertuan, ginecologista e médica, que atua na área de ginecologia, obstetrícia e colposcopia na clínica Mais Vida, em Curitiba, observa que os anticoncepcionais vêm se diversificando muito nos últimos tempos. Além do Dispositivo Intra-Uterino (DIU), existem: comprimidos com intervalo menores e aqueles que prometem emagrecer; implante; adesivo, anel vaginal; injetáveis aplicados de três em três meses; injetáveis mensais e anticoncepcionais para não menstruar. Vale uma breve descrição de cada um.

Anticoncepcionais orais. A médica explica que “entre os anticoncepcionais orais, estão os de alta, média e baixa dosagem hormonal. Quanto menor a dosagem hormonal, menos efeitos colaterais e menos riscos para a paciente. Recentemente, foram lançados os anticoncepcionais com a mais baixa dosagem hormonal. São cartelas com 24 comprimidos (gestodeno 60mg, etinilestradiol 15mg) com quatro dias de intervalo. Podem, no inicio do tratamento, causar spoting (sangramento tipo borra de café) intermenstrual que acontece com o uso das primeiras cartelas.”

Outro anticoncepcional oral possui uma nova progesterona (drospirenona/etinilestradiol) com 21 comprimidos na cartela e sete dias de pausa, com propriedade antimineralocorticoide, que previne o ganho de peso, o edema (inchaço) e melhora o perfil lipídico da paciente. Segundo a médica, “existem os convencionais que têm baixa dosagem hormonal, com 21 comprimidos e sete dias de intervalo (gestodeno 0,075mg e etinilestradiol 0,020mg), (gestodeno 0,075mg/etinilestradiol 0,03 mg) (etinilestradiol 0,035mg, acetato de ciproterona 2,0 mg) (desogestrel 0,15 mg / etinilestradiol 0,020 mg), e outros que têm bom controle do ciclo menstrual e poucos efeitos colaterais.”

Anel. Quanto ao anel vaginal (etonogestrel/etinilestradiol), Mônica comenta que “o método é intra-vaginal uma vez ao mês, sendo retirado três semanas após com uma semana de pausa (quando ocorre a menstruação) sendo reintroduzido. O anel vaginal é flexível, não causa incômodo durante o uso e nem na relação sexual. Pode ser retirado e introduzido novamente se ocorrer expulsão.”

Adesivo. O adesivo norelgestromina/etinilestradiol é um método novo. “A embalagem apresenta três adesivos que devem ser trocados semanalmente, também com uma semana de intervalo, quando ocorre a menstruação. É de fácil colocação, indicado para as pacientes que esquecem de tomar o comprimido diariamente”, explica a médica.

Implante. Ainda como novidade, está o implante sub-dérmico, que possui apenas progesterona (etonogestrel). A médica esclarece que “ele é inserido no braço de modo subcutâneo e tem validade de três anos. Nas pacientes que se adaptam com o método, causa pouca ou ausência de menstruação, beneficiando as pacientes com Tensão Pré-Menstrual (TPM), com menstruação excessiva, cólicas, etc.”

Endoceptivo. Quase com o mesmo efeito, está o DIU de progesterona, endoceptivo (levonorgestrel). Tem efeito local no endométrio, (camada interna do útero) e leva a pouca ou a nenhuma menstruação.

DIU. Há muito tempo no mercado, o DIU de cobre não provoca efeito hormonal na paciente, mas tem como inconveniente provocar menstruações mais prolongadas e com maior quantidade, podendo causar cólicas.

A médica lembra que “cada paciente deve ser individualizada. Devem ser avaliados fatores de risco, como trombose venosa e arterial ou predisposição à trombose, hepatopatia grave, diabetes com comprometimento vascular, tabagismo e a idade da paciente para saber se pode usar anticoncepcional e qual o mais adequado.”

Enfim, mesmo que o anticoncepcional possibilite o controle da fertilidade humana, a mulher não é ingênua de pensar que seus problemas estão resolvidos. Ela sabe que a luta pela igualdade dos sexos, que marcou a década de 70, e que a discussão sobre gênero, levantada na década de 80, prosseguem até os dias atuais.

Zélia Maria Bonamigo é jornalista, especialista em Mídia e Despertar da Consciência Crítica. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (zeliabonamigo@terra.com.br)

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