A doença social que padecemos (II)

A certeza de que, atingidos os limite, a única e benfazeja opção é o retorno!

Grave alteração sensorial vem afetando, progressivamente, o bom e tolerante povo brasileiro. Uma generalizada perda da capacidade de indignar-se ante a mazorca que afeta o País, qual epidemia que se alastra e se expande incontrolavelmente. A população, como que anestesiada, não consegue reagir diante das múltiplas agressões que a atingem.

Em passado não muito distante, a juventude estudantil levantava-se sob as mais variadas formas de protesto, em defesa dos seus direitos, assim como de toda a sociedade.

Os tempos mudaram, é verdade, mas a juventude atual não é melhor nem pior do que a juventude de todos os tempos. Na verdade os jovens de hoje padecem as conseqüências de progressiva degeneração dos costumes.

O intenso progresso científico e tecnológico propicia aos jovens, adolescentes e também às crianças, requintados recursos eletrônicos, que lhes garantem informações e comunicações que, bem utilizadas, conferem-lhes significativas oportunidades e conquistas. Tais recursos são resultados de estudos e pesquisas das gerações dominantes. No entanto, da mesma forma como oferecem oportunidades e opções altamente positivas, ocorrem verdadeiras ciladas, ações deletérias, que deformam e comprometem o seu futuro.

O ensino brasileiro, em todos os níveis, atravessa uma séria crise, talvez a mais grave da história. É freqüente a queixa de professores sentirem-se incapazes para manter a disciplina nas salas de aula, sofrendo até ameaças.

Certamente a indisciplina decorre de educação defeituosa a partir do lar. Eis porque a expressão aplicada de que a educação vem do berço. Realmente, à escola cabe primordialmente a missão de instruir e, na medida das necessidades, aprimorar o nível da educação promovida pelos pais ou responsáveis.

A deformação da disciplina escolar tem as suas raízes nos anos da década 1960.

Naquela época, os adeptos do ?quanto pior melhor?, instituíram o principio do ?é proibido proibir?. Vale dizer, não contrariar as atitudes da criança. Deixar fazer o que quiser. Não interferir, nem repreender. Quem nasceu na década de 1960, está atualmente com mais de 40 anos de idade. Dentre eles, os que constituíram família e seguiram as normas da libertinagem comportamental, contribuíram para os desvios da educação e a conseqüente indisciplina.

É decorrência desses conceitos a liberalidade de muitos professores. Um falso conceito de liberdade e de expressão democrática deu margem ao professor (a) bonzinho (a). Aquele (a) que, no primeiro contato com nova turma de alunos, dirige-se a eles com a ridícula afirmação:

?Vocês podem me chamar de você porque estou aqui para ensinar e aprender com os meus alunos?.

Outrora, as salas de aula dispunham de um estrado, onde era instalada a mesa do mestre, e o ?quadro negro?. Referido estrado tinha pelo menos duas razões úteis: 1.ª – situado em plano mais elevado, o mestre podia visualizar toda a classe e ser melhor visto por todos. Isto é importante, porque o professor (a) não transmite conhecimentos e orientação somente pelas palavras e por meios auxiliares, mas também pela sua postura: o modo de vestir-se, a posição e os gestos adequados e convenientes a servirem de exemplo. Depois dos pais, as crianças e os adolescentes encontram no professor (a) importante modelo a ser imitado.

2.ª – A instalação do mestre sobre o estrado tinha a significação do seu grau de conhecimento do seu domínio sobre a disciplina a seu cargo.

A partir do momento em que o professor (a) se nivela com os alunos, a ponto de afirmar que ali está também para aprender com eles, não é raro que elementos mais afoitos ?avancem o sinal?, por vezes causando vexame ao mestre. Quando chega a tal situação, prevalece a perda da confiança e até mesmo do respeito que deve ser mútuo.

Vale a pena lembrar aqui um modelo de professor, o saudoso e sempre lembrado professor Oswaldo Arns, que culminou sua brilhante atuação no magistério, como reitor da Universidade Católica do Paraná (UCP) por 12 anos. Durante a sua destacada administração, a universidade foi elevada à condição de pontifícia. A partir de 1985, a UCP passou a denominar-se Pontifícia Universidade Católica do Paraná, (PUCPR). É um título deveras almejado pelas Universidades Católicas, cuja concessão, pela Sé Apostólica, é feita mediante rigoroso e justo critério.

O professor Oswaldo Arns ostentava, com justificado orgulho, o privilégio de nunca ter punido um aluno em mais de 40 anos de magistério. Nessa linha de raciocínio, dou o meu testemunho como seu aluno, em 1942, no Colégio Senhor Bom Jesus: ?Com olhar fixo num eventual transgressor, amenizava até mesmo os mais rebeldes?.

Com freqüência ouve-se desabafo por parte de alguns professores, que se sentem impotentes para coibir abusos de indisciplina. É importante notar que os atos de rebeldia, de falta de consideração e até mesmo de respeito de grupos de alunos para com o professor (a) certamente tem um líder. Creio poder afirmar com segurança que ?todo rebelde é líder?. Também é verdade que os líderes se destacam a ponto de influenciar grupos de colegas e até toda a classe, tanto para o bem, para ações edificantes, quanto para o mal, por ações menos nobres e mesmo nefastas.

O que fazer em tais situações?

O único meio capaz de harmonizar o ambiente de ensino requer uma ação paciente, mas contínua, com vistas à transformação do líder. Uma verdadeira conversão, que é lenta e trabalhosa, mas exeqüível. Foi a tática empregada por São João Bosco, sem exagero ?o maior educador de todos os tempos?. Grande devoto de São Francisco de Sales, fundou uma congregação religiosa, à qual numa despretensiosa demonstração de humildade e desprendimento denominou-a de Ordem Salesiana.

O mal que lamentamos em relação ao Brasil, não é exclusividade nossa. Mas, certamente, aqui acontece uma exacerbação. A progressão dos males que nos afligem, expande-se como verdadeira praga, que desponta simultaneamente por toda parte. E a expectativa, quase certeza de impunidade, libera os mal-intencionados, que agem sub-repticiamente ou às escâncaras. Mas este assunto será exposto com maiores detalhes, em outra mensagem.

Ary de Christan – Membro fundador da Academia – Paranaense de Medicina.

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