Portugal, além dos livros de história

Desde criança, já nos primeiros momentos dentro de uma sala de aula, ouvimos falar muito de Portugal. O país é o responsável pela descoberta e pela colonização do Brasil. Personagens como Pedro Alvarez Cabral e D. Pedro I, por exemplo, são lembrados com grande facilidade pelos estudantes brasileiros. Conhecer Portugal, depois de 507 anos do descobrimento, significa não só ter a oportunidade de ver de perto parte da história que precedeu a nação brasileira, como a chance de vivenciar o que a consolidação da União Européia (UE) mudou na geopolítica do mundo. Para nós, brasileiros, ainda há uma enorme vantagem: tudo isso é possível ser feito falando português (um pouco diferente do falado aqui, mas em português), o que torna a viagem muito mais fácil e agradável.

João Paulo
Porto é destino obrigatório nos roteiros pelo norte do país.

Portugal, país de 92.391 quilômetros quadrados que ao lado da Espanha forma a Península Ibérica, tem hoje 10,6 milhões de habitantes. Cerca de metade deles está concentrada nos arredores das duas principais cidades: Lisboa, a capital federal, que fica mais ao sul, e a cidade do Porto, conhecida como a capital do trabalho, ao norte do país. A produção têxtil, de calçados e de cortiça, matéria-prima utilizada na confecção de rolhas para vinhos de boa parte da Europa, são alicerces da economia portuguesa. Com o fortalecimento da UE, recentemente o país passou a adotar a moeda comunitária: o euro. Com isso, Portugal passou a viver uma nova realidade, a da integração. Entretanto, sofreu alguns problemas por isso, um deles foi o aumento médio dos preços com a troca dos antigos escudos pelos euros. ?Na conversão da moeda, houve um arredondamento para cima e os preços acabaram subindo, não só aqui, como em todos os países que adotaram o euro?, conta Rui Martinho, especialista em turismo. Martinho também destaca pontos positivos da entrada do país na UE. ?Portugal está recebendo inúmeras obras patrocinadas com recursos vindos da UE?, diz. Ele cita que, diferentemente de outros países da Europa, que há muito tempo já tinham grande parte de sua malha viária com autopistas, Portugal tinha apenas 50 quilômetros dessas rodovias em 1974. ?Hoje já são mais de dois mil quilômetros, graças à UE?, lembra. Curiosidade: lá como cá também há pedágio, chamado de portagem.

A doce Lisboa mostra seus ícones

Lawrence Willian Manoel
A simpática Torre de Belém foi cenário da história portuguesa.

Há cidades que são marcadas por tradições, prédios, obras artísticas, entre outros. Lisboa, capital de Portugal, tem atrações aos montes, mas se quiséssemos marcar a cidade com apenas uma atração poderíamos lembrá-la por causa de um doce. Isso mesmo, um doce, o famoso pastel de Belém. Desde 1837, a Antiga Confeitaria de Belém (www.pasteisdebelem.pt), que fica no bairro de mesmo nome, produz o tradicional doce folhado recheado com nata. Pessoas do mundo inteiro vão até a confeitaria só para degustar a delícia. Ao custo de 80 centimos (centavos) de euro a unidade, a confeitaria vendeu 5,5 milhões de unidades em 2005. ?Esperamos atingir seis milhões?, diz Penélope Clarinha, representante da confeitaria. Ela conta que o segredo do pastel é um detalhe que apenas três pessoas sabem. Elas participam de uma fase especial da confecção dos doces. ?A receita foi desenvolvida por religiosos do Mosteiro dos Jerônimos, que atravessavam a rua e vinham vender seus doces aqui, que era uma loja que vendia de tudo. Aos poucos, pessoas de toda Lisboa começaram a vir para cá só para comer os pastéis?, destacou.

Lawrence Willian Manoel
A receita dos pastéis de Belém é guardada a sete chaves.

O Mosteiro dos Jerônimos citado por Penólope é um dos grandes pontos turísticos de Lisboa. Nele estão os túmulos de Vasco da Gama, descobridor do caminho marítimo para a Índia, e do escritor Luiz Camões, autor de Os Lusíadas.

Na parte histórica de Lisboa, próxima ao Rio Tejo, também se destaca o Padrão do Descobrimento, monumento erguido em forma de caravela estilizada em homenagem a todos os navegadores que ajudaram a construir a história de Portugal e do mundo, como Vasco da Gama e Pedro Alvarez Cabral, por exemplo. As navegações de descobrimento foram de 1415, com a chegada a Celta, na África, até 1541, com a chegada ao Japão. A Torre de Belém é outra grande atração da capital lusa. O Museu dos Coches também atrai muitos turistas. Lá, onde funcionou a escola de equitação dos nobres, podem ser vistas carruagens usadas por reis e pesos de grande posse. O estado de conservação delas, inclusive com os detalhes em ouro, é perfeito.

Parte nova

Lawrence Willian Manoel
O Parque das Nações, expressão da Lisboa moderna, abriga o grande Oceanário.

Em 1998, quando completaram quinhentos anos da chegada de Portugal à Índia, uma grande exposição foi feita em Lisboa. Para isso, uma parte da cidade foi revitalizada e construído o Parque das Nações. Prédios, praças e um espaço completamente novo surgiu para embelezar ainda mais a capital. Um dos destaque dessa nova área é o Oceanário, que pode ser alcançado a pé ou de teleférico, observando a bela paisagem do Rio Tejo e a ponte Vasco da Gama, a maior do país em extenção. No Oceanário é possível encontrar peixes de todo o mundo, além de outros animais marinhos como as lontras Euzébio (homenagem ao maior jogador de futebol do país) e Amália (homenagem à fadista Amália Rodrigues), além de pingüins. A noite em Lisboa também é muito movimentada. Os shows de Fado, ritmo típico do país, são o maior atrativo.

Da natureza ao vinho, o Verde Minho

Divulgação
Santuário Santa Luzia, na Viana do Castelo.

Ao norte está a região do Minho ou Verde Minho, como preferem alguns. O verde é justamente numa alusão ao fato de o clima regional favorecer a natureza. Também há relação com o vinho verde, especialidade de vinho feito somente na região. ?Aqui há muita água e tudo está sempre verde, durante o ano todo?, ressalta o técnico de turismo Antônio Santos. Ele diz que os turistas que vão ao norte de Portugal sempre escolhem o Minho como destino. ?Dois fatores colaboram para isso. Um deles é que temos várias atrações aqui. O outro é que a região fica geograficamente próxima à cidade do Porto, voltada mais ao trabalho?, lembra. A capital do Minho é Braga, que mostra a arquitetura típica da região, com belas casas feitas de pedra num estilo barroco, de muita simetria. Braga foi fundada há dois mil anos com o nome de Braga Augusta, pelo imperador romano Augusto César. O centro da cidade é um maravilhoso local para se passear a pé, principalmente porque há um estacionamento subterrâneo e os carros são proibidos de chegar às ruas centrais. Entre os mais visitados pontos turísticos está o Arco da Porta Nova, único dos sete arcos que marcavam as entradas da cidade que ainda existe. A Sé de Braga também é outro ponto marcante. A cidade se destaca muito pela sua religiosidade. Outra construção religiosa imponente é a Igreja do Bom Jesus do Monte. Quem vai até ela, que fica numa região alta da cidade, tem que subir por uma escadaria de 365 degraus, representando os dias do ano. Ao longo das escadas, há cinco fontes que jorram água benta relacionadas a cada um dos cinco sentidos. As pessoas sobem as escadas e ao chegarem às fontes apanham a água e colocam-na na parte do corpo relativa. No alto do monte, também há um elevador muito curioso. Ele funciona apenas com o peso exercido pela água.

José Manoel
Igreja Bom Jesus do Monte e sua escadaria de 365 degraus.

Mas não só de tradição vive a cidade a modernidade também está contemplada. O Estádio Municipal de Braga é um exemplo disso. Construído para a Eurocopa de 2004, ele é vencedor de vários prêmios de arquitetura. O Estádio da Paixão, como os populares o chamam, foi feito numa antiga pedreira, tendo arquibancadas com capacidade para 30 mil espectadores apenas nas laterais e não atrás dos gols, onde ficam enormes paredes de pedra. ?Lá em Curitiba, vocês também aproveitaram uma pedreira para fazer um local de espetáculos?, fala Santos, numa referência à Pedreira Paulo Leminski. O Sporting Braga, outro orgulho dos moradores locais, manda seus jogos no estádio. Aí outra lembrança do Estado do Paraná. O zagueiro Nem, capitão do Atlético Paranaense no título brasileiro de 2001, joga hoje no Sporting Braga.

O jornalista viajou a Portugal a convite do Icep Portugal e das Pousadas de Portugal.

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