Curaçao ainda conserva jeitão de paraíso

Aquele mar azul, transparente e sem ondas, que só se vê em filmes, não é obra dos efeitos especiais. Em Curaçao, a maior das cinco ilhas das Antilhas Holandesas, esse capricho da natureza realmente existe e pode ser observado em qualquer uma de suas 38 praias banhadas pelo Mar do Caribe.

Mas as praias paradisíacas e a incomparável cor do mar não são os únicos atrativos desta ilha que vem sendo descoberta pelos turistas brasileiros. Cavernas marinhas, fauna exótica, bela arquitetura e povo hospitaleiro fazem da ilha um dos destinos mais simpáticos do Caribe.

O que difere Curaçao das demais ilhas caribenhas é o fato de, apesar de lá se encontrar facilmente cassinos, centros comerciais (com preços bastante interessantes), agitada vida noturna e dezenas de redes de fast-food, Curaçao ainda não se rendeu, totalmente, à influência americana, preservando sua história, cultura e paisagem natural, evitando a badalação de outras ilhas já americanizadas.

Não é efeito especial nem retoque de photoshop: o mar de Curação é mesmo assim, um trabalho caprichado da natureza.

Assim, ainda é possível encontrar na ilha praias quase desertas, hotéis rústicos, com características de pousada, restaurantes de comida crioula (a culinária típica do local, com pratos à base de frutos do mar, cabrito e, até, iguana e cactos).

360 dias de sol é o que prometem os curaçolenhos aos visitante da ilha, situada ao sul do Caribe, a sessenta quilômetros da costa da Venezuela. Plana e alongada (60 quilômetros de comprimento e cerca 12 de largura), tem praticamente a mesma área de Florianópolis, mas com menos da metade de sua população, 150 mil habitantes. A parte norte é uma longa costa rochosa, pouco habitada. A costa sul é abrigada e onde estão quase todas as praias e seus moradores.

Cobra-se de US$ 2,50 a US$ 5 pelo acesso às praias particulares.

Com uma economia sustentada pelo turismo e pelo refino de petróleo, que recebe bruto da Venezuela, Curaçao tem ainda uma lição de tecnologia para ensinar ao mundo. Sem nenhum mililitro de água doce em seu território, toda a água consumida na ilha é fruto da fábrica de água dessalinizada. Apesar de o serviço ser relativamente caro, não há risco de escassez de água no local, nem mesmo nos períodos de altíssima temporada, ao contrário do que ocorre em grande parte das praias brasileiras.

Para quem não quer mergulhar, vale o divertido show de golfinhos no
Sea Aquarium.

Na capital, Willemstad, vive a metade dos 150 mil habitantes, que formam uma raça única, com a mistura de descendentes de africanos, europeus e latinos. Assim, não é difícil encontrar negros de olhos azuis em Willemstad. Mesmo sem praias, o centro da cidade também é bastante convidativo aos turistas. Nele encontra-se a Baía de Santa Ana, que divide a capital em duas partes: Punda e Otrobanda, ligadas por três pontes. Uma delas, a Emma, exclusiva para pedestres, é flutuante e abre-se para a passagem de embarcações. Dos dois lados da baía pode-se observar os imóveis que caracterizam Curaçao: as casas coloridas. Na cidade, quase não existem casas brancas. Nenhum morador ganha nada por pintar sua fachada, mas ninguém quer quebrar a tradição.

No centro também estão muitos restaurantes e as principais lojas, com vestuários, eletrônicos, perfumes e calçados, além das lembranças de Curaçao, com preços bastante atraentes, ao menos para os brasileiros. Mas são as praias que fazem a cabeça dos visitantes da ilha. Algumas localizadas a cerca de 15 minutos do centro da capital, outras um pouco mais distantes, as praias de Curaçao oferecem conforto, facilidade e tranqüilidade aos visitantes. Muitas das praias são ?particulares?, pertencentes a hotéis ou clubes, que cobram entre US$ 2,50 a US$ 5 pelo acesso, mas oferecem espreguiçadeiras, toalhas e chuveiro, além de terem sempre seu bar e restaurante próprios, ideal para se passar todos os dias. Port Marie e Kontiki Beach são duas das mais famosas. Mas também pode-se desfrutar das paradisíacas praias sem pagar nada por isso. A praia pública de Kenepa, por exemplo, tem toda a estrutura e é até mais bonita que muitas das praias particulares.

O jornalista viajou a convite do governo de Curaçao.

Mergulhe em cores e beleza

Foto: Roger Pereira
Encontre-se com os golfinhos: são 60 pontos de mergulho.

Com o mar calmo e transparente encontrado em praticamente toda a margem da ilha, a vida marinha não podia deixar de ser uma das principais atrações de Curaçao. São 60 pontos de mergulho, cada um com uma característica diferente, como navios afundados, peixes raros, corais, cavalos-marinhos, golfinhos e até tubarões.

Um dos locais preferidos pelos mergulhadores profissionais, Curaçao também oferece opções para quem não tem nenhuma experiência com o esporte. O turista pode fazer passeios utilizando apenas snorkel e máscara. Mas, para quem quiser desbravar o fundo do mar, é possível fazer mergulho com equipamento (cilindro de oxigênio com hidrogênio) acompanhado de um instrutor ou até, se tiver tempo e dinheiro, um curso de mergulho de quatro dias, que dá direito à carteira internacional, permitindo realizar mergulho autônomo em qualquer lugar do mundo.

Na maioria dos hotéis ou em qualquer uma das praias particulares é possível alugar o snorkel com a máscara por cerca de US$ 15. Outra boa opção é pegar um barco na Bahia Espanhola. Custa cerca de US$ 50. Já o preço dos mergulhos é mais salgado. Por US$ 75 o turista que nunca mergulhou pode fazer um miniprograma, com aula teórica, treinamento na piscina, adaptação ao mar e mergulho com o instrutor. Todo o processo dura quatro horas. O curso completo, de quatro dias, custa, em média US$ 350. Quem já tem curso, com certificação internacional (Padi), basta procurar uma das operadoras de mergulho da ilha.

Para quem não mergulha, mas quer conhecer algumas das espécies da ilha, no Sea Aquarium, dezenas de grandes aquários mostram os peixes típicos da região, além de um divertido show de golfinhos. O aquário também oferece mergulho junto com golfinhos ou até com tubarões. Os preços dos mergulhos no aquário variam de US$ 176 a US$ 350. (RP)

Curaçao fala quatro idiomas. Comunique-se

Roger Pereira

Ao desembarcar em uma ilha em que o idioma oficial é o holandês, o turista brasileiro deve prever dificuldades para se comunicar. Mas com o good afternoon ou buenas tardes recebidos já na imigração do aeroporto, já se percebe que o diálogo com os moradores locais será bem mais fácil.

Com mais de 90% da população alfabetizada, a maioria dos curaçolenhos domina quatro idiomas. Em casa, eles aprendem o papiamento, um dialeto típico da ilha e que, apesar de ser misturado com o holandês e o espanhol, é bastante fácil de ser compreendido por brasileiros porque tem muitas expressões derivadas do português. Na escola, nos primeiros anos, se aprende o idioma oficial, o holandês, mas, em seguida, o estudante já é introduzido ao espanhol e ao inglês.

Com o treinamento que a Oficina de Turismo de Curaçao oferece às pessoas (comerciantes, comerciários, hoteleiros, taxistas, garçons) que lidam diretamente com o turista, praticamente todas as pessoas com quem o visitante tiver que conversar domina os quatro idiomas. Até mendigos pedem esmola em inglês na ilha. Assim, com um belo portunhol e o básico do inglês, o brasileiro não terá problema nenhum para se fazer entender em Curaçao, e nem para compreender o que lhe dizem os moradores, mesmo que, para isso, ele precise misturar seus quatro idiomas.

O papiamento

Papiamento ou papiamentu é uma língua crioula originada do dialeto português conhecido como guene, falado pelos escravos africanos trazidos à América pelos holandeses para o trabalho na lavoura de cana-de-açúcar. Diz-se que a mistura do guene africano com o português de imigrantes de Cabo Verde e do Nordeste brasileiro (invadido por holandeses) no século XVIII deu origem à língua, que sofreu influência do espanhol por conta da proximidade com países da América Central e, principalmente, da Venezuela.

Bom bini, brasileños!

Foto: Roger Pereira
Os curitibanos Marcito e
Brunna: vantagem a Curaçao.

Com um público formado basicamente por turistas holandeses, colombianos, venezuelanos e americanos, o governo de Curaçao investe para atrair visitantes do Brasil. Novas linhas aéreas, treinamento de pessoal e promoção de visita de agentes de viagens e jornalistas tupiniquins são algumas das estratégias usadas para conquistar os brasileiros, que estão muito mais acostumados a visitar a ilha vizinha, Aruba.

O motivo desta estratégia, Stephen Pomario, da Oficina de Turismo de Curaçao, tem na ponta da língua. ?Brasileiros gastam muito. Mais do que os outros latinos e muito mais que os europeus?, disse, baseado nas informações que tem de Aruba, nos números dos atuais visitantes brasileiros e em um dado histórico: ?Nos anos 1990s (início do Plano Real), quando a moeda do Brasil valia até mais que o dólar, paravam aqui navios lotados de brasileiros que compravam de tudo?, lembrou.

Para se chegar a Curaçao, o turista brasileiro tinha de passar por uma minimaratona: precisava partir de Guarulhos, em um vôo de cinco horas e meia para Bogotá (Colômbia), pela companhia Avianca, para, de lá, depois de passar novamente por todo o rigoroso processo de revista e um bom tempo de espera, embarcar em um vôo de uma hora e meia para a ilha. Mas a partir de setembro, já há outras duas opções. Para quem está no Norte ou Nordeste do País, a TAF Linhas Aérea oferece o vôo a partir de Fortaleza, com escala em Belém e Manaus. Também a partir de Guarulhos, é possível voar de TAM para Caracas e lá fazer conexão com uma das três empresas que operam para Curaçao.

Mas para poder atender os brasileiros que pretende atrair, o governo de Curaçao também precisa investir na ampliação de sua estrutura. Isso porque, mesmo em baixa temporada, a ilha tem, em média, 90% de sua capacidade hoteleira ocupada. ?Há um plano de ação que pretende, até 2009, dobrar o número de leitos de hotel na ilha?, explicou Stephen. Hoje Curaçao tem pouco mais de três mil quartos de hotel, mas grandes redes já estão construindo suas unidades lá.

Comparação

Mas os brasileiros que descobriram Curaçao mesmo antes de a ilha estar pronta para recebê-los se encantam. Foi o caso do casal curitibano Marcito Dombeck e Brunna Veiga, que passou uma semana nas Antilhas, metade do tempo em Aruba e a outra metade em Curaçao. ?Aruba é mais badalada, tem mais vida noturna, mais grife. Aqui (Curaçao) a natureza é mais bonita, as praias são lindíssimas e a qualidade da água impressiona?, disse Bruma. Para Marcito, os sete dias de férias valeram a pena. ?Muito tranqüilo vir para cá. Já começa com a facilidade de não se exigir visto. Aqui, achamos tudo muito fácil, com um povo atencioso e comunicativo. Alugamos um carro e não nos perdemos nenhuma vez?, comentou.

Mas outros brasileiros encantaram-se tanto com a ilha que não saíram mais dela. Foi o caso do artista Rogério Netto, do Rio. Fez apresentações por diversos países e, quando foi a Curaçao, não deixou mais a ilha. Hoje ele é casado com uma curaçolenha e coordena o circo de um grande hotel. ?Artista no Brasil não é reconhecido. Aqui, tenho bom salário, serviço público de qualidade e as portas abertas para a Europa (via Holanda).?

Mas não é tão fácil assim virar um cidadão de Curaçao. Como o passaporte das Antilhas Holandesas dá os mesmos direitos que o passaporte holandês (trânsito livre na Europa), não é qualquer um que consegue obtê-lo. É preciso ser casado com um curaçolenho ou holandês, e, depois de quatro anos morando na ilha e se submetendo a constantes visitas da imigração em sua casa, passar por uma prova de história, holandês e papiamento.

Curiosidades sobre a ilha holandesa

 

Roger Pereira

Foto: Roger Pereira
Os licores de Curaçao são
famosos no mundo inteiro.

A ilha não é mais colônia da Holanda, mas depende financeiramente do país. O governador é escolhido pela rainha da Holanda.

– As finanças da ilha giram em torno do turismo e do comércio, além da Refinaria Islã Royal Duth/PDVSA, da Venezuela, que gera 2,5 mil empregos. A renda per capita é de US$ 8,5 mil anuais e o salário mínimo é US$ 500.

– Crianças aprendem holandês, papiamento, inglês e espanhol na escola. Por isso, todas falam fluentemente os quatro idiomas.

– Os curaçolenhos são cidadãos europeus e, portanto, possuem passaporte da União Européia. Para um estrangeiro residir na ilha precisa obter autorização do governo, seja ela de trabalho ou definitiva.

– O povo é formado, maioritariamente, por negros. A mistura de raças – judeus, holandeses, portugueses e africanos – faz os negros terem traços europeus e, muitas vezes, olhos claros.

Longe das areias, vale uma visita a…

– Museu Kura Hulanda – Conta a história da colonização da ilha, a partir da escravatura, mostra a influência africana na ilha.

– Caverna Hato – Antiga caverna marinha que hoje não é mais atingida pela água, mas preserva as formações características. Foi utilizada como esconderijo por escravos fugitivos, propicia a observação de uma revoada de morcegos.

– Fábrica do licor Curaçao – O licor de Curaçao, feito com a casca do laraha (uma pequena laranja azeda), além de ser uma das bebidas típicas da ilha, é famoso no mundo inteiro. Na fábrica, além de observar o processo de, é possível provar o licor em todas as suas variações de cores e sabores.

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