Cartagena reverencia García Márquez

Uma cidade perdida no nada, fadada ao enclausuramento eterno. Um suicida envolto numa nuvem amarga de cianureto. Uma menina morta há séculos, mas com cabelo tão comprido como se viva estivera. Cenário e personagens reais que parecem fantasia nos livros de Gabriel García Márquez. A Macondo, de Cem anos de solidão, é a pobre Aracataca do Prêmio Nobel de Literatura colombiano, localidade caribenha que vive de bananas como na época em que ele nasceu, há exatos 80 anos, ou como quando lançou sua obra-prima, aos 40. O túmulo da garota com cabeleira de véu de noiva fica na ensolarada Cartagena de Índias e de muralhas, onde García Márquez também morou.

Para chegar até a história narrada em Do amor e outros demônios, é preciso descer estreitos degraus do convento que virou hospital e depois hotel chique da Rede Sofitel, o Santa Clara. Nas palavras do próprio escritor, os restos mortais de ?três gerações de bispos e abadessas e outros personagens notáveis? foram encontrados lá. A Cartagena cheia de histórias é palco de uma série de eventos em homenagem a García Márquez, que vive em 2007 um momento tão fantástico quanto suas narrativas. Ele completou 80 anos no último dia 6 de março. Em junho, Cem anos de solidão faz quatro décadas. Setembro marcará os sessenta anos da primeira publicação de um conto de Gabo. Em dezembro, serão 25 anos de Nobel.

Homenagens

No último dia 2, começou o 47º Festival Internacional de Cine y TV de Cartagena, com programação que inclui dez filmes com roteiro feito pelo escritor ou inspirados em seus livros, além de vários documentários. Um dos ápices do ano será o relançamento de Cem anos de solidão, edição especial da Real Academia Espanhola. A obra teve revisão do próprio Gabo e promete ser destaque do 4.º Congresso Internacional da Língua Espanhola. O evento ocorre entre os dias 26 e 29, também em Cartagena, onde o Nobel mantém a Fundación para un Nuevo Periodismo Iberoamericano (FNPI), com ajuda de um de seus irmãos, Jaime.

Museu

Aracataca, a cidade que no ano passado chegou a fazer plebiscito para virar Macondo – e não conseguiu, por falta de quórum na votação -, também deve sair um pouco de seu enclausuramento. Isso porque a casa onde García Márquez morou, atualmente um museu acanhado, passará por ampla reforma. As verbas virão dos cofres do governo colombiano. Para entender a importância disso para a cidadezinha pobre e encalorada (onde a temperatura média chega a incríveis 28 graus) basta saber que o escritor é sua única atração turística. E isso se reflete no slogan do município, que se apresenta como ?A terra do Nobel de Literatura?. E onde se vê, aqui e ali, alguma referência ao escritor. Na praça central, na frente da igreja simples, amendoeiras como as que José Arcadio Buendía ?plantou? na Macondo de Cem anos de solidão. Buendía é inspirado no avô de Gabo, o coronel Nicolas Márquez, casado com Tranquilina, a Úrsula Iguarán da ficção. Por lá também viveu Don Emilio, parceiro de xadrez do coronel e suicida, eternizado em O amor nos tempos do cólera como Jeremiah de Saint-Amour.

Serviço – 47.º Festival Internacional de Cine Y TV de Cartagena, informações: www.festicinecartagena.org. 4.º Congresso Internacional da Língua Espanhola, informações: www.congresodelalengua.gov.co. Hospedagem – Hotel Sofitel Santa Clara, informações no site www.hotelsantaclara.com.

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