Buenos Aires sempre deixa saudades

Buenos Aires é um daqueles destinos que, se houver oportunidade, o turista dificilmente irá uma vez só na vida. Talvez seja por isso que a capital argentina receba sozinha, anualmente, nada menos que 5,25 milhões de turistas. A quantidade e qualidade dos seus atrativos não são os únicos motivos. No caso dos brasileiros, um dos fatores que levam a cidade a ser sempre um destino de viagem é o fato de o turista se sentir em casa. Não é raro encontrar brasileiros onde quer que se vá. Nos shoppings, casas noturnas, ruas, praças, o português é ouvido nos mais diversos sotaques do Brasil.

Além disso, eles são muito bem tratados pelos portenhos que fazem questão de dizer o quanto são bem-vindos. E não é só pelos valorizados reais gastos por lá, há uma relação amistosa, deixando de lado a “rixa” existente quando o assunto é futebol.

Os programas turísticos, como assistir a um espetáculo de tango ou passear no pitoresco Caminito são sempre uma boa pedida mesmo para quem já conhece a cidade. E o melhor é que há sempre uma novidade, nem que seja uma nova casa de tango. Por isso, o Ente de Turismo da Cidade de Buenos Aires recomenda que a estada mínima na cidade seja de cinco dias, principalmente se for turista de primeira viagem.

Novidades

Quem esteve em Buenos Aires em fevereiro deste ano, por exemplo, não teve a oportunidade de conhecer o Tango Porteño, a mais nova casa de espetáculos dedicada à modalidade, inaugurada em março. São 32 artistas em cena, com orquestra ao vivo de 11 músicos, três cantores e oito casais de dançarinos profissionais que, muitas vezes, se apresentam ao mesmo tempo, em coreografias diferentes. O espetáculo, de uma hora e 45 minutos de duração, mostra uma história de amor durante a chamada “época de ouro do tango”, tendo como panos de fundo cenários perfeitos ou gigantescos painéis exibindo cenas de filmes antigos.

Caminito: não há melhor lugar para se sentir verdadeiramente na capital dos argentinos.

O preço para quem quer somente assistir ao show varia entre 170 e 420 pesos por pessoa (R$ 120 e R$ 300), dependendo da localização na platéia. Mas o interessante é também degustar o jantar; os pratos são uma atração à parte e acompanham os bons vinhos nacionais. Com jantar e show o programa custa entre 250 e 600 pesos por pessoa (R$ 180 e R$ 430). Os valores da conversão são aproximados. Além disso, há a chamada propina, ou seja, a gorjeta para o garçom, que deve ser em torno de 10% do valor da conta.

Pontos turísticos tradicionais, como o bairro San Telmo, onde aos domingos acontece a famosa feira e se concentra grande parte das lojas de antiquário, também apresenta novidades. São 14 novas galerias de arte: uma boa pedida para apreciadores que encontram ali também o Museu de Arte Moderna. Em meio a jardins e ruas largas e arborizadas, o extenso bairro de Palermo e suas subdivisões (Palermo Chico, Palermo Viejo, Palermo Hollywood e Palermo Soho) sempre merecem uma visita pela grande concentração de casas noturnas, restaurantes, bares, lojas e o interessante Malba (Museu de Arte Moderna Latino Americana), além do fato de atrair muita gente “descolada”, alternativa e “chique”. Apesar de estar à beira da saturação, Palermo está se revelando um pólo de atração turística também pelas galerias de arte.

Ícones que se tornaram eternos

É interessante ver como a Argentina, principalmente Buenos Aires, ainda cultua alguns mitos. Carlos Gardel e Evita Perón são personagens vivos nos circuitos turísticos e ela ainda deixa saudades em muitos dos cidadãos mais participantes da vida política nacional. Quem visita a capital tem no&ccedi,l;ão de que o tango, o maior produto de divulgação do país, não teria a mesma repercussão internacional se não fosse Carlos Gardel. O artista, sobre o qual até hoje se discute se era argentino, uruguaio ou francês, tornou o tango ainda mais popular no início do século XX, quando colocou o canto acompanhando as melodias de bandoneon e violino. Gravou a primeira canção, Mi noche triste, de Contursi e Castriota, em 1917.

Locais turísticos como a casa de tango Esquina Carlos Gardel e o bairro Abasto, onde viveu, fazem referência ao artista que, mesmo morto, ainda é um dos maiores divulgadores do turismo portenho. A casa onde morou com sua mãe desde 1927 até sua morte, em 1935, hoje abriga o Museo Carlos Gardel, que tem em seu acervo desde objetos de uso doméstico até quadros, discos e roupas. A visita ao museu, que é municipal, custa apenas 1 peso (R$ 0,70) e, às quartas-feiras, a entrada é gratuita.

Evita Perón

Personagem importante na história política da Argentina, Evita Perón é até hoje lembrada pelas ruas de Buenos Aires. É surpreendente como ainda há manifestações, como pichações em muros, fazendo referência à representatividade da primeira-dama argentina na década de 40. As três janelas de onde discursava na Casa Rosada para milhares de pessoas na Plaza de Mayo continuam fechadas.

A visita ao Museo Evita é dos programas mais interessantes, onde a história é contada desde o nascimento e infância de Eva Maria, a militância ao lado do marido e presidente Juan Perón, as ações sociais em benefício das classes menos favorecidas até a morte precoce, causada por um câncer uterino e as idas e vindas do seu corpo, que foi velado por quatorze dias e enterrado no Cemitério da Recoleta, em Buenos Aires.

O ingresso ao museu de Evita custa 10 pesos (R$ 7). Cortesia para menores de 12 anos. Visitas guiadas custam 15 pesos (R$ 10,70) por pessoa e devem ser agendadas.

Uma curiosidade é que tanto Gardel como Evita morreram cedo: ele com 45 anos; ela, com 33, e ambos no auge de sua atuação.

Museus

Buenos Aires tem mais de 150 museus, cujos ingressos, na maioria, custam entre 5 e 15 pesos (R$ 3,50 e R$ 10,50). No Malba (Museu de Arte Latino-Americana), custa 30 pesos (R$ 21,40) e quarta-feira a entrada é gratuita. Mais informações: www.museos.buenosaires.gov.ar. (DS)

Bairros de muito charme e cores

Casa Rosada na Plaza de Mayo: ícones turísticos e históricos.

Com apenas doze anos de existência, o charmoso Puerto Madero, às margens do Rio de La Plata, virou reduto de gente endinheirada – moradores e turistas. O mais curioso foi sua rápida e total transformação, já que, até o início dos anos 90s era uma região feia e suja, como a maioria das portuárias. Depois de obras e recursos vultosos aplicados na recuperação do local, o bairro atraiu muitos investidores, incluindo hoteleiros que construíram ali empreendimentos grandiosos de estilo bastante moderno. Um exemplo é o Hotel Hilton, com seus 417 apartamentos e que oferece diárias a partir de US$ 329. Pegar um táxi e curtir a noite em Puerto Madero é uma boa dica para qualquer turista. Há sempre um bar ou restaurante novo para se conhecer, afinal, o bairro está em pleno crescimento.

Cores e futebol

Povoado e desenvolvido por imigrantes italianos, La Boca, o bairro mais visitado por turistas, não pode faltar no roteiro. Lá está o Caminito, uma rua estreita de apenas 100 metros de extensão que é, de longe, o local mais fotografado pelos visitantes. E não há lugar melhor para o turista ter realmente a sensação de estar em Buenos Aires.

É como virar um “personagem” naquele cenário de casinhas multicoloridas, tão visto em materiais de divulgação turística. É onde os espetáculos de tango podem ser vistos de graça, ou quase. Muitos dos restaurantes do local oferecem shows em palcos improvisados, possibilitando degustar uma bela parrilla (o delicioso churrasco deles), assisti,ndo e ouvindo tango. Nada mais turístico, por isso, o programa não é dos mais baratos.

Saindo da região do Caminito, La Boca não tem grandes atrativos, aliás, há uma área nada convidativa a passeios por sua infra-estrutura precária. Os apreciadores de futebol, no entanto, não podem deixar de conhecer La Bombonera, o famoso estádio do Boca Juniors. O local oferece tours guiados.

Já o Monumental, estádio do River Plate, o arqui-rival do Boca, fica no bairro de Niño, a cinco quilômetros do centro. É lá que aconteceu a final da Copa do Mundo de 78 e até hoje abriga grandes espetáculos, como o show da Madonna, que acontecerá em dezembro.

Alvear: um luxo só

O clássico Alvear Palace Hotel é opção para quem não se importa com o preço.

Para quem fazer compras é um item importante no seu roteiro de viagem e não economiza para levar para casa produtos de qualidade e marca, a Avenida Alvear, no valorizado bairro da Recoleta, é uma tentação. As lojas que ostentam grifes conhecidas no mundo inteiro estão concentradas lá e em outras ruas próximas como a Ayacucho e a Avenida Quintana.

Claro que o preço é o que menos importa para os freqüentadores, portanto, não é um lugar para se pechinchar ou procurar “descontos”. A região tem também restaurantes finos e edifícios que lembram palacetes. Um deles abriga o hotel mais elegante de Buenos Aires: o Alvear Palace Hotel, que fica na esquina da Alvear com a Ayacucho. Se a estada neste hotel não cabe no bolso – as diárias variam a partir de US$ 800 (US$ 443 para residentes da América Latina) deste mês até 25 de dezembro -, vale a pena pelo menos visitá-lo. Uma dica é sentar-se no bar e degustar um drinque – só para sentir o ambiente intimista e sofisticado do hotel, que é membro do grupo The Leading Hotels of the World.

A Plaza Francia é ponto de partida para vários atrativos no turístico bairro da Recoleta.

Agora, se houver possibilidade de se hospedar lá, é um privilégio. As suítes são em estilo clássico e com muito conforto que permite, por exemplo, um banho de banheira assistindo a um programa em uma TV de plasma estrategicamente instalada. Flores e frutas diariamente, roupões e chinelos personalizados, além de uma linha de amenities com produtos da francesa Hermès fazem parte dos mimos. A presença de um mordomo por andar é garantia de serviço rápido a qualquer momento. O hotel tem ainda spa e fitness center, dois restaurantes abertos ao público e salões para eventos.

Serviço: o Alvear Palace Hotel situa-se na Avenida Alvear, 1891, Recoleta. Mais informações: www.alvearpalace.com ou 54-11-4808-2100.

Ao redor da Plaza Francia

A Recoleta é um bairro com muitos atrativos. Em torno da Plaza Francia está uma série deles. É o caso da Igreja Nossa Senhora do Pilar e, bem ao lado, o Cemitério da Recoleta, que faz parte dos roteiros turísticos tradicionais por conta do mausoléu da família Duarte, onde está enterrada Evita Perón. O jazigo, aliás, não tem nada de ostentação.

No La Biela, tome um café e “veja a vida passar”.

O interessante é que o mesmo cemitério onde está Evita estão também enterrados os maiores inimigos políticos dela e do marido, Juan Perón. A Plaza Francia também é o local de uma feirinha hippie nos fins de semana, onde são vendidas peças de artesanato, bijuterias, etc., e, o mais inusitado, é onde estão algumas das “ciganas” portenhas. E há várias de,las “lendo” o destino das pessoas em meio ao burburinho da feira.

Quem gosta de peças de decoração e ambientes modernos não pode deixar de ir ao Buenos Aires Design Center, que tem uma das entradas pela praça. O local reúne muitas lojas de móveis e objetos de utilidade doméstica e decoração e os preços não assustam.

Depois do passeio, uma dica é experimentar as delícias do La Biela, onde são servidos cafés especiais, cervejas locais como a Quilmes, sanduíches e pratos diversos.
E o cliente pode escolher por sentar-se no interior do café, em meio à decoração inspirada no mundo do automobilismo, ou fora, sob as árvores, onde tudo fica um pouco mais caro pelo privilégio de poder “ver a vida passar”.

Para sentir um pouco como é a Recoleta à noite, uma dica é jantar no simpático La Cabaña, que serve comida tipicamente argentina. O local é frequentado principalmente por estrangeiros, que representam 80% do seu público. Do cardápio, o destaque é um mais-do-que-perfeito bife de chorizo, para nós, um contra-filé grosso que os portenhos sabem assar como ninguém. A carta de vinhos do local inclui mais de 200 títulos. Uma dica para acompanhar o bife? Saint Felicien – Malbec, da Catena Zapata. O jantar custa cerca de US$ 50 por pessoa e vale cada centavo.

A jornalista viajou a convite do Destino Argentina e do Ente de Turismo da Cidade Autônoma de Buenos Aires.