Pesquisa

Xisto pode ser alternativa na agricultura

Produtos resultantes da extração e do tratamento do xisto estão sendo estudados para o uso na agricultura. O mineral possui propriedades que ajudam na fertilização do solo.

Em combinação com outros nutrientes, pode diminuir o impacto causado pelos fertilizantes – a maioria importados – para o produtor agrícola, além dos custos, já que os gastos com insumos chegam a 40% das despesas com toda a produção.

A água do xisto, que fica armazenada dentro da rocha e possui diversos componentes, é comercializada desde fevereiro deste ano. Em 2009 e 2010, outros subprodutos do xisto também devem entrar no mercado.

As pesquisas são conduzidas desde 2003 em uma parceria entre a Petrobras, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar).

Antes, na década de 1990, a Unidade de Negócio da Industrialização do Xisto (SIX) da Petrobras, localizada na cidade de São Mateus do Sul, região sul do Paraná, começou a estudar a aplicação do xisto na agricultura. Mas foi a partir da parceria que o processo ficou mais estruturado, dentro do projeto batizado de Xisto Agrícola.

Além da água de xisto, podem ser aplicados na agricultura o calcário de xisto (para correção do solo), os finos de xisto (pedras pequenas demais para passar pelo processamento para obtenção de óleo e gás) e o xisto retortado (depois do processamento).

“Com estes produtos, é possível fazer diferentes formulações, atendendo a cada cultura e a cada tipo de solo”, afirma o gerente de comercialização da SIX, Gerson Cesar Souza. Uma das vantagens é a não adição de produtos químicos. Ou seja, os produtos que advêm do xisto são totalmente naturais.

O pesquisador da Embrapa Clima Temperado (unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária com sede em Pelotas, no Rio Grande do Sul) Carlos Augusto Posser Silveira explica que o xisto ajuda a fixar o potássio e o fósforo no solo.

O calcário de xisto, os finos de xisto e o xisto retortado estão em fase de pesquisa e desenvolvimento.

“Existem indicativos positivos para milho, cana e feijão. Mas somente após o relatório final poderemos dizer os resultados em determinadas condições”, acrescenta o pesquisador contratado do convênio entre Embrapa e Petrobras, Luís Henrique Gularte Ferreira.

Para entrar no mercado, estes produtos precisam de liberação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e do Ministério da Agricultura.

A intenção é começar a comercialização do calcário do xisto em 2009 e do restante dos produtos até 2010. Quando chegarem aos produtores, o uso dependerá do acompanhamento de um profissional para saber qual a porcentagem de xisto na composição com outros nutrientes, dependendo do tipo de solo e da cultura.

Produto supre micronutrientes ao solo

Carlos Silveira, da Embrapa, em lavoura experimental de mirtilo.

Normalmente, os produtores utilizam nitrogênio, fósforo e potássio como fertilizantes. Mas pode haver a necessidade de suplementar com outros micronutrientes. E a fonte para isto pode estar no xisto. Naturalmente, o mineral contém calcário, magnésio, silício, enxofre, cobre, manganês e zinco.

A aplicação do xisto pode trazer um melhor resultado na produção e com um custo menor, por ser encontrado no País. “Independente de crise financeira mundial, é interesse do Brasil diminuir a importação e encontrar fontes nacionais”, esclarece o pesquisador da Embra,pa Clima Temperado, Carlos Augusto Silveira.

Os produtos do xisto na agricultura podem ainda criar um novo segmento na cidade de São Mateus do Sul. “A idéia do município é criar um pólo de fertilizantes. Com a grande oferta destes produtos, a cidade pode atrair mais empresas”, lembra Lauro Roberto Roehrig, da gerência de comercialização da SIX.

Atualmente, a produção diária da unidade chega a 300 toneladas de água de xisto; 1,5 mil ton de finos de xisto; 6,6 mil ton de xisto retortado; e 267 ton de calcário de xisto (extraído na mineração da rocha).

A produção hoje atinge dois terços da capacidade total, mas os produtos também possuem outras aplicações. Sendo assim, este volume não vai totalmente para a agricultura.

Do produtor familiar ao agronegócio

Luís Henrique Ferreira pesquisa adaptação de culturas ao mineral aliado a solo e clima específicos.

O projeto Xisto Agrícola possui diversos campos experimentais espalhados pela região Sul do País. Um deles está localizado dentro da SIX. São 15 hectares de área, própria para agricultura, onde são plantadas espécies de grãos, oleaginosas e frutíferas.

Os pesquisadores finalizavam na última semana a colheita de trigo, aveia e nabo forrageiro. E ainda nesta primeira quinzena de novembro plantaram soja, milho e feijão. Entre as frutíferas, estão o mirtilo, a amora e o pêssego.

“A diversidade de culturas abrange tanto a agricultura familiar quanto o agronegócio. Assim, poderemos ver como o produto atende estes dois segmentos e também fazer comparações”, ressalta o pesquisador do convênio Embrapa/Petrobras Luís Henrique Gularte Ferreira. Além de estudar a eficiência dos produtos do xisto, os pesquisadores ainda verificam quais culturas se adaptam ao solo e clima da região.

O mirtilo, por exemplo, foi uma das espécies que teve boa adaptação. No futuro, pode se tornar opção aos produtores do município de São Mateus do Sul. Somente a Petrobras investiu, de 2004 a 2008, R$ 11 milhões no projeto.

Nos dois próximos anos, a empresa vai aplicar mais R$ 7 milhões. As mesmas contrapartidas são dadas pela Embrapa e pelo Iapar, especialmente com pesquisadores, dedicação e estrutura.