Você dentro de um chip de armazenamento de dados

Dentro de um ano, o brasileiro poderá eliminar aquela enorme quantidade de documentos de papel que enchem a carteira ou a bolsa.

Carteira de Identidade, Cadastro de Pessoa Física (CPF), Carteira de Trabalho, de Habilitação (CNH) e passaporte virão em um único documento: o Registro Único de Identidade Civil (RIC).

Será um cartão com um micromódulo que contém um chip, como os novos cartões de banco.

Além das informações básicas de cada cidadão, o chip armazenará tipo e fator sanguíneo. Ainda haverá a possibilidade de o titular, caso seja portador de alguma deficiência física, pedir para que esta informação seja incluída na nova carteira de identidade. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou no mês passado a Lei 12.058, que trata sobre o assunto. A intenção com a medida é dificultar a ocorrência de fraudes.

“Acredito que seja uma excelente maneira de entrar no século XXI. Um cartão de identificação eletrônica abre mais oportunidade para as pessoas”, comenta Olivier Piou, CEO da Gemalto, empresa líder mundial em segurança digital que tem uma unidade em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. A Gemalto vai participar da licitação para a implantação do RIC no Brasil.

Piou diz que a lei recentemente sancionada dá força para a criação e instalação do RIC. De acordo com ele, a identificação digital deve realmente começar com as informações básicas de cada cidadão. Mas novas funções e outros dados podem ser acrescentados depois das impressões dos cartões de identidade.

Pelo mundo

O executivo cita o exemplo de Omã, país do Oriente Médio onde existe este tipo de documento. Lá, houve a inclusão de uma função para que o titular pague as multas de trânsito com o próprio cartão. Outro caso relatado por Piou é o cartão de identificação para crianças na Bélgica.

“Para entrar em salas de bate-papo na internet, é preciso colocar o cartão no leitor do computador. Só poderão entrar crianças em determinadas salas. Adultos não terão acesso”, esclarece.

Ele ainda lembra o caso da Estônia, país do Leste Europeu. Os habitantes possuem identificação digital e podem até votar nas eleições em casa, sem qualquer deslocamento.

A Gemalto já implantou algum tipo de identificação por cartão com micromódulo em 50 países, entre carteiras de identidade, carteiras de motorista e passaportes. No caso do Brasil, se a licitação for feita por cada estado e a empresa vencer várias seleções, a Gemalto vai precisar ampliar suas instalações.

Em Pinhais, uma simulação com os equipamentos atuais já foi feita para a impressão do cartão de identidade. “A maior parte dos computadores já tem leitores para os cartões. Será a entrada para uma vida digital eficiente”, acredita Piou.

Leandro Telles

Pinhais incrementará produção

Além dos cartões bancários, outro foco da Gemalto é a produção de cartões GSM para aparelhos celulares. A empresa atende a 500 operadoras em todo o mundo e está investindo R$ 10 milhões para trazer à unidade de Pinhais duas linhas novas. Uma delas vai permitir a produção unitária dos cartões.

O sistema foi desenvolvido em um centro de pesquisas da empresa na França. A outra linha possibilitará a produção própria dos micromódulos, que inicialmente serão destinados aos cartões GSM, mas podem ser utilizados em cartões bancários e em identidades digitais. Atualmente, os micromódulos são importados de outras duas unidades da Gemalto, em Cingapura e na França. (JC)

Segurança: critério básico da ada,ptação

A Gemalto também produz cartões bancários. É muito rígido o controle de segurança na fabricação dos dispositivos. E isso vai de encontro com a necessidade cada vez maior de proteger o cartão contra fraudes. Com o micromódulo no cartão, fica difícil o criminoso copiar as informações do titular da conta bancária, como acontece com a tarja magnética.

“Quando não se tem o chip, é muito mais fácil de falsificar. A segurança do chip é muito grande e ele está programado para nunca revelar dados importantes, como a conta e a senha”, afirma Olivier Piou, CEO da Gemalto.

Ele conta que, diferente do que as pessoas imaginam, quem libera as transações em terminais ou nos caixas eletrônicos é o próprio chip do cartão. A máquina é necessária para existir algum contato com o ser humano, para que este possa digitar a senha ou optar por determinado serviço.

“Existe dentro do chip um software que pode questionar a máquina onde o cartão foi inserido. Quando não existe um nível de confiança, ele não libera para digitar a senha. Tudo é com o cartão. E cada vez mais existe o aperfeiçoamento para que o titular se torne o mais independente possível”, assegura Piou.

Atualmente, pelo uso de sistemas diferentes, os cartões são fabricados tanto com o micromódulo quanto com a tarja magnética, que fica na parte de trás. Os países europeus têm até 2011 para abandonar a faixa magnética e somente utilizar o chip. No Brasil, isto deve acontecer até 2014.

“Somente os Estados Unidos ainda não tomaram esta decisão. Lá, o sistema tem uma base de dados central. As informações ficam mais acessíveis. Qualquer vendedor de carro sabe se você foi no cinema. Mas as fraudes estão indo cada vez mais para dentro do país e antes eram cobertas pelas seguradoras. Agora, eles vão precisar enfrentar o problema”, declara Piou. (JC)

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