Tecnologia da Madeira da UFPR pode atestar qualidade

A creditação do Laboratório de Tecnologia da Madeira (LTM) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) pode abrir um nicho de marcado quase que inexplorado no Brasil. A condição do LTM pode atestar a qualidade da madeira produzida no País para a construção de casas de alto padrão, o que atualmente é um ramo quase que exclusivo do setor imobiliário da Europa e dos Estados Unidos.

Em janeiro, o LTM recebeu a creditação do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) para ensaios com madeira. Trata-se de um reconhecimento formal da competência do órgão para desenvolver tarefas específicas de avaliação e certificação de qualidade dos produtos. Com isso, o LTM torna-se, em sua categoria, o primeiro laboratório de instituição de ensino público federal a pertencer à Rede Brasileira de Ensaios do Inmetro.

De acordo com o professor Jorge Luís Monteiro de Matos, coordenador do laboratório, a creditação significa que o laboratório da UFPR está organizado segundo princípios e práticas de gestão internacionais. “Isso nos dá um reconhecimento internacional como um laboratório idôneo e com condições de avaliar produtos para qualquer mercado do planeta”, afirma.

Segundo Matos, além de atestar os produtos, o LTM pode agora certificar também o processo de fabricação dos materiais. Para o coordenador do laboratório, a certificação pode ser um diferencial para um produto que se predispõe a competir no mercado internacional. “O produto certificado é melhor aceito num mercado competitivo. A certificação evidencia que ele cumpre todas as exigências de normas técnicas”, comenta.

Desde que assumiu a posição de órgão creditado, o LTM vem prestando serviços de avaliação e certificação para a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), que envolve 60 produtores que exportam para o mercado norte-americano e europeu. Segundo Matos, a expectativa é de que parte desses produtores que atuam no Paraná e Santa Catarina ganhem mercado, já que passam a contar com um laboratório creditado mais próximo de suas áreas de produção.

Além disso, o professor conta que mecanismos que atestam a qualidade dos produtos podem servir de argumentos para que o setor madeireiro passe a ceder produtos para a construção de casas. Como exemplo ele ressalta o plano do governo federal de construir cerca de 1 milhão de novas habitações até 2014.

“Essa certificação pode dar o subsídio necessário para que esses materiais possam ser aproveitados na construção das moradias”, destaca. Se isso acontecer, segundo Matos, abre-se um novo filão no mercado. “A Caixa Econômica Federal exige material qualificado, que dure pelo menos 20 anos, ou o tempo de financiamento do respectivo imóvel. Por isso a importância da certificação do produto”, diz.

Números

Estima-se que o setor da indústria de base florestal tenha representado, em 2000, cerca de 2% do PIB brasileiro, o que significa aproximadamente US$ 12 bilhões. Quase metade desse valor, cerca de US$ 6,5 bilhões, corresponde ao setor madeireiro. O restante, US$ 6,5 bilhões, é movimentado pelo setor de celulose, papel e papelão. Os números, no entanto, poderiam ser mais positivos ainda, na ótica do coordenador do LTM.

Para Matos, existe um certo preconceito à madeira como produto no País. Matos acredita que deveriam ser investidos não apenas em recursos mas em subsídios que possam alterar o conceito da madeira entre os consumidores brasileiros. “Estamos num país que tem nome de árvore, temos uma das mais importantes florestas do mundo, mesmo assim, existe muito preconceito com casas de madeira. É uma questão cultural.” Para Matos, a garantia da qualidade dos produtos pode ser a ferramenta que falta para quebrar esse paradigma cultural.

Investimentos no espaço chegaram a R$ 800 mil

Daniel Caron
Jorge Luís: “Espaço importante para desenvolver novos produtos”.

De acordo com o coordenador do Laboratório de Tecnologia da Madeira, Jorge Luís Monteiro de Matos, foram necessários cinco anos, desde a entrega do projeto à Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) que cedeu os recursos para a viabilização do espaço, até a emissão do certificado de creditação. Segundo Matos, foram investidos R$ 800 mil para adaptar os espaços e comprar os equipamentos. “Foi preciso investir para que o laboratório ficasse de acordo com as condições técnicas e de infraestrutura necessárias para a creditação”, diz.

Um dos maiores gastos foi para viabilizar a câmara refrigerada, com umidade e temperatura controlada, onde são armazenados os produtos. “Esse espaço, além de guardar produtos de pesquisa de graduação ao doutorado, é importante para o desenvolvimento de novos produtos”, afirma. Como exemplo, Matos cita um material para piso, produzido a partir de uma mistura de madeira e plástico. O coordenador do LTM explica que, para finalizar o processo de creditação, o espaço passou por uma auditoria técnica do Inmetro. Segundo Matos, a auditoria é feita periodicamente pelo órgão, assim como a calibração dos equipamentos, que é feita por uma equipe da Rede Brasileira de Calibração.

Para esse serviço, o laboratório precisa investir semestralmente R$ 25 mil. De acordo com o professor Matos, pelo menos metade desse valor precisa ser pago com recursos oriundos de serviços prestados para as empresas do setor.

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