Promovendo e democratizando a inclusão digital

O Paraná vive, nesta semana, a Semana de Inclusão Digital. Promovido pelo Comitê para a Democratização da Informática do Paraná (CDI-PR), o evento tem como objetivo promover ações para que cada vez mais pessoas, vivendo nas mais diversas condições, tenham acesso aos recursos de informática. Escolas de informática em comunidades pobres, hospitais e, até, para idosos já foram criadas para democratizar esse acesso. Mas, para que o acesso aos recursos digitais seja realmente democrático é preciso que todas as pessoas, sem exceções, possam usufruir de seus benefícios. Por isso, muitas das ações nesse campo estão buscando soluções para que pessoas com algum tipo de limitação física ou mental não sejam impedidas do  contato com a tecnologia.

Assim, o próprio CDI-PR mantém uma parceria com a Fundação Ecumênica de Assistência Social ao Excepcional (Fepe) para levar aulas de tecnologia da informação e comunicação aos alunos com deficiência mental atendidos pela escola, com uma metodologia especial para atender aos alunos com deficiência mental.

A escola usa os recursos tecnológicos para desenvolver as potencialidades cognitivas, socioafetivas e psicomotoras de alunos com necessidades educacionais especiais e com isso torná-los mais autônomos na solução dos próprios problemas. ?O uso da tecnologia é um instrumento que estimula o raciocínio lógico-dedutivo, capacitando-os a uma melhor interação com as pessoas e com seu meio, além de, em alguns casos, prepará-los para um trabalho efetivo?, analisa a coordenadora pedagógica do CDI, Eliane Abel.

A Escola de Informática e Cidadania (EIC) da Fepe (Fundação Ecumênica de Proteção ao Excepcional) foi criada em 2001 e atende a 152 crianças e adolescentes. As aulas de informática fazem parte das atividades curriculares da escola e fazem a alegria de crianças como Giovana Heloise Martins, de 13 anos, portadora da síndrome de Down. ?Eu desenho, jogo e mexo na internet. Até converso com minha tia?, conta. A professora de informática dela, Andressa Freire Scheffer, revelou que, com a ajuda do computador, Giovana já consegue escrever algumas letras e ter noção de números. ?Ela já freqüenta, inclusive, a segunda série de uma escola regular?, comemora.

O objetivo é acelerar o potencial do aluno especial. Além de ensinar a usar o computador, os professores utilizam a tecnologia para que o aluno desenvolva conceitos de números e desperte para a leitura e escrita. ?Muitos alunos que apresentam dificuldades nos métodos formais se beneficiam com os recursos da informática para o desenvolvimento acadêmico. Construindo seus conhecimentos através da interação com softwares e discussões paralelas aos conteúdos de sala de aula, este aluno se torna sujeito do seu processo de aprendizagem e da construção de seus conhecimentos, ficando desta forma mais autônomo até mesmo em relação à solução dos próprios problemas?, explica a pedagoga da escola, Andréa Toniolo Teuber.

Os alunos que têm maior habilidade com o teclado aprendem a digitar textos e a fazer trabalhos no programa Microsoft Office Word. De acordo com a pedagoga, alguns, que não conseguem escrever em função de suas dificuldades motoras, ao verem que podem digitar e que, ao imprimir seu texto fica legível e bonito, sentem-se estimulados a continuar suas tentativas de escrita. Vários deles até se interessam em ter um e-mail. 

Informática usada para facilitar a vida de cegos e surdos

Foto: Anderson Tozato

O professor Antônio Edison Urban desenvolve os projetos para ajudar pessoas especiais desde 1992.

Desde 1992, quando conheceu o caso da filha de um amigo que, por ser surda, tinha dificuldades em falar de forma inteligível, o professor Antonio Edison Urban vem desenvolvendo na Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com o Centro de Reabilitação Sylvino Antonio, da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), projetos para tornar a informática uma ferramenta para auxiliar portadores de deficiências nos sentidos a diminuírem suas dificuldades no dia-a-dia.

?Em relação aos portadores de deficiência auditiva estamos pesquisando formas de representar sons visualmente para gerar elementos de comparação entre a oralização de um ouvinte e de um surdo, oferecendo a este último um retorno de que não dispõe dada a sua condição?, explicou o professor, alegando que o surdo não consegue falar de forma inteligível por não possuir o feedback de ouvir o que está pronunciando. A intenção do projeto é que cada fonema emitido tenha uma representação gráfica. Assim, o surdo poderia pegar as representações do discurso de um ouvinte e treinar sua fala para que ficasse o mais próximo possível desse modelo.

?Inicialmente fizemos representações simples, para verificar se o projeto tinha aplicação e viabilidade para o objetivo. Atualmente estamos estudando os componentes do som oralizado para isolar aqueles que contribuem para a formação dos fonemas daqueles que dependem da estrutura do aparelho fonador do emissor, buscando maior utilidade do gráfico resultante?, explicou, dizendo que, no futuro, pretende introduzir a inteligência artificial para, através de comparação de dados, o computador ser capaz de orientar o usuário sobre o que pode ser feito para que o som emitido se aproxime do ideal.

Para isso, os alunos da UFPR estão desenvolvendo, sob sua orientação, um sintetizador de voz compatível com o português e que roda em software livre, tornando-o acessível a qualquer usuário. ?Alguns desdobramentos já estão previstos: ter o serviço disponível para uso na web e uso de reconhecimento de padrões para apoio ao surdo na correção de sua oralização?, disse o professor.

Como outro desdobramento para esse projeto surgiu uma nova iniciativa, desta vez para beneficiar deficientes visuais. Aproveitando o mesmo sintetizador de voz e os padrões de áudio criados para dar assistência aos surdos, o professor Urban quer criar um sistema para auxiliar cegos a terem acesso a textos, com CDs de áudio. ?Isso já existe na Biblioteca Pública do Paraná, mas se o usuário não entender uma palavra, acaba tendo sua ?leitura? prejudicada. Nossa intenção é criar um dicionário sonoro?. A idéia do professor é, com o recurso da informática, disponibilizar um dicionário digital vinculado aos cds com textos. ?Um texto literário tem cerca de mil palavras diferentes, um livro técnico, um pouco mais. Podemos fazer um CD com o texto e o dicionário apenas com os verbetes contidos nele?, explicou. Com o projeto que está sendo desenvolvido, o cego ?leitor?, no momento de uma dúvida, poderá parar o áudio, ouvir novamente a última frase reproduzida e selecionar a palavra que não compreendeu para ouvir sua definição segundo o dicionário.

Muito mais do que apenas computadores

?Muito mais do que computadores? é o tema deste ano da IV Semana de Inclusão Digital, promovida anualmente pelo Comitê para a Democratização da Informática do Paraná (CDI-PR). O objetivo é alertar para a importância de programas de inclusão digital que visem não apenas fornecer acesso a computadores, mas também formar pessoas e utilizar a máquina como ferramenta de inclusão social.

?A nossa preocupação vai além do acesso à informática. Não adianta apenas oferecer acesso ao computador, é necessário que este acesso esteja acompanhado de formação. Os problemas sociais e econômicos do nosso público são muito maiores que a exclusão digital. Por isso, aliamos o ensino da informática às atividades de cidadania, para incentivar a transformação na realidade e na vida dos nossos alunos?, afirma a coordenadora executiva do CDI-PR, Jacimara Villar Forbeloni.

Para comemorar a semana, a instituição programou uma série de atividades. Eventos de rua em Colombo, Curitiba e Rio Branco do Sul estão recebendo a Caravana da Informática e disponibilizando à população 20 computadores para aprender a dar os primeiros cliques no mouse, fazer consultas de serviços públicos, pesquisa, montar um currículo, acessar a internet e criar um e-mail, entre outras atividades.

Uma campanha publicitária pretende envolver toda a comunidade na semana. O objetivo da campanha, que tem como mote ?Doe computadores e acessórios usados. É o mesmo que doar um futuro melhor para quem precisa?, é arrecadar equipamentos de informática que possam ser usados nas EICs. Quem fizer uma doação recebe uma cartilha sobre o Uso Responsável da Internet.

O CDI-PR avalia os equipamentos doados e o que está em bom estado ou pode ser consertado é utilizado em uma das 22 escolas. O que não dá para aproveitar, a instituição vende como sucata e utiliza o dinheiro arrecadado para comprar peças de difícil reposição, como discos rígidos, memórias, drives de CD-ROM.

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