Preço deve atrasar lançamento da DTV no Brasil

Nem mesmo a proximidade do início das transmissões da TV digital em São Paulo, no dia 2 de dezembro, foi suficiente para aquecer o mercado dos chamados set top boxes, conversores necessários para sintonizar o novo modelo de sinal nas televisões analógicas.

A inexistência de caixas para venda na semana passada até na Rua Santa Ifigênia, centro de comércio de eletroeletrônicos na capital paulista, pode tornar a inauguração da TV digital (ou DTV) no País parecida com a da própria TV, em 1950. Naquela época, o empresário Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, inaugurou a primeira rede brasileira: a TV Tupi. Mas, com o pequeno número de aparelhos de TV no País, ele foi obrigado a espalhar 200 deles pela cidade de São Paulo para chamar a atenção da população para a novidade.

Um dos motivos para a demora no lançamento dos set top boxes é a discordância entre fabricantes e o governo quando se trata de um preço justo para o produto. Em 2006, quando o padrão japonês foi escolhido como base para o modelo a ser implantado no Brasil, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, chegou a estimar o preço do conversor na faixa de R$ 80 a 100, ?podendo chegar a R$ 30?. O comentário rendeu uma resposta ácida do vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios da Gradiente, Moris Arditt. ?A US$ 15, só se o Papai Noel comprar da Gradiente e distribuir, cobrando um preço simbólico?, rebateu.

No início do mês de novembro, a entidade que representa o setor, a Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), divulgou sua estimativa de preço médio para o receptor em R$ 700. Na ocasião, o presidente do órgão, Lourival Kiçula, disse que uma queda no valor deve demorar entre ?5 e 6 anos?.

Na quarta-feira, a paranaense Positivo Informática anunciou que vai fabricar conversores para televisores de baixa definição a R$ 499. Segundo técnicos da empresa, com possíveis benefícios concedidos pelo governo (leia texto abaixo), este preço cairia para cerca de R$ 250. O conversor da Positivo é um dos poucos produzidos em Manaus. A empresa contratou a Teikon como fabricante terceirizada e, com o aumento da demanda, planeja transferir a produção para a recém-criada Positivo Informática da Amazônia. A empresa paranaense também lançou um modelo mais elaborado com preço sugerido de R$ 699, indicado para TVs de LCD e plasma com resoluções mais altas e saída digital no formato Interface Multimídia de Alta Resolução (HDMI, da sigla em inglês).

Ao contrário da Positivo, a maioria dos fabricantes decidiu importar o equipamento. Segundo Walter Duran, diretor de Tecnologia da Philips na América Latina, isso explica o preço atual de seu produto. ?Quando começarmos a produzir em Manaus, no primeiro semestre do ano que vem, o custo deve cair?, disse.

A empresa anunciou um conversor fabricado na China que custa R$ 1.099, com saída digital, no formato HDMI. A Semp Toshiba também lançou dois conversores, que custam R$ 799 e R$ 1.090. O da Gradiente sai por R$ 799 e o da Sony, que só tem saída digital, tem preço de R$ 999. As três empresas também estão importando o equipamento.

Além de São Paulo, em dezembro, a TV digital estréia, em meados do próximo ano, em Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Nas demais capitais, a previsão é de que o novo sistema seja implantado até o início de 2009.

Governo pode ampliar benefícios

Foto: Lindomar Cruz/Agência Brasil

Hélio Costa: ?tem alguém querendo ganhar dinheiro?.

A estimativa de preço dos fabricantes, anunciada pela Eletros, levou o governo federal a estudar a concessão de benefícios fiscais para a fabricação dos conversores, a fim de permitir a obtenção de preços competitivos em todo o País e não apenas na Zona Franca de Manaus. Segundo o Ministério das Comunicações, a preocupação do governo é garantir que a população possa ter acesso a um conversor barato para usufruir os benefícios da TV digital, como sinais sem chuviscos e melhora na qualidade da imagem.

O preço médio de R$ 700 para as set top boxes foi classificado pelo ministro Hélio Costa, em audiência pública na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados, como uma campanha ?insidiosa? dos fabricantes para evitar que a TV digital fosse um sucesso no País.

Ele contou ter feito uma pesquisa na internet e identificou, no exterior, o set top box por US$ 70 (cerca de R$ 120). ?Tem alguém querendo ganhar dinheiro. Isso é um caso de polícia, é um caso de CPI?, afirmou. Segundo o ministro, no início da implantação da TV digital, serão vendidas caixinhas simples, mas, mais adiante, serão oferecidos set top boxes mais sofisticados, que permitirão a interatividade e, nesses casos, poderão começar a ser vendidos por R$ 500 no Brasil.

A idéia de se estender os benefícios fiscais da Zona Franca de Manaus para todo o País, no caso dos conversores, foi defendida com afinco por Hélio Costa no ano passado. O governo, no entanto, optou pela posição defendida pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio da época, Luiz Fernando Furlan, que queria os benefícios restritos a Manaus. Na época, Costa já alertava para o fato de que sem uma ampla produção em todo o Brasil o preço do conversor poderia ficar muito alto.

Técnicos do setor avaliam que a extensão dos benefícios a todo o País poderia baixar pela metade o preço de conversores, que vêm sendo produzidos fora da Zona Franca. Uma das versões que circulam em Brasília é a de que o conversor produzido na Zona Franca estaria caro porque as empresas instaladas lá estariam mais interessadas em produzir televisores. O governo, no entanto, não descartou a possibilidade de importar conversores, mas para isso teria que reduzir os impostos de importação.

Na mira do governo, os fabricantes brasileiros se defendem. ?É difícil custar menos. Há impostos na importação das peças, custos de produção e de distribuição?, justifica o vice-presidente da Gradiente, Moris Arditt.

Mas a concorrência promete favorecer o consumidor. Fabricantes menos conhecidos, como STB e Encore, afirmam que conseguem cobrar menos. ?Vamos fabricar o receptor básico por R$ 300?, prometeu o diretor industrial da STB, Flávio Brito. Segundo ele, o modelo com alta definição sairá por R$ 600. A empresa explica qual a forma adotada para obter os preços mais baixos: fabricação em escala. ?Estamos fechando a produção de 5 milhões de unidades em 2008. Os aparelhos de alta definição têm menor escala, pois são para TVs compatíveis, raras no País?, explicou.

Uma fonte do Ministério das Comunicações afirmou que os grandes fabricantes prometem cobrar caro para barganhar isenções e financiamentos. Ou seja, correm o risco de ver as caixinhas encalharem nas prateleiras. (FK e AE)

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