O que polui também pode gerar energia

Indústrias alimentícias e agroindústrias, com águas predominantemente orgânicas e com alta concentração de carboidratos, podem contar com uma nova forma de produção energética com controle ambiental. Promessa de obtenção de energia limpa, o tratamento do esgoto pode produzir o que vem sendo chamado entre os pesquisadores como biohidrogênio, já que o hidrogênio (H2) não é encontrado de forma isolada na natureza.

O processo é viável para águas predominantemente orgânicas e com concentração de açúcar, como a do refrigerante, por exemplo, segundo aponta um dos brasileiros à frente da pesquisa, o professor da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP), Marcelo Zaiat.

Essa alternativa pode dar sustentabilidade energética à própria estação de tratamento e, em alguns casos, pode-se pensar na produção energética até para venda. “Uma opção são para os carros a hidrogênio, que já são uma realidade, ainda cara, mas que em um futuro próximo estarão no mercado”, observa Zaiat.

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No processo de tratamento do esgoto pode-se obter o biohidrogênio que, posteriormente, será utilizado na produção de energia limpa, beneficiando indústrias e residências e até mesmo virando combustível para carros.

Ainda muito nova, a pesquisa começou a ser desenvolvida há cerca de cinco anos no rastro de intensos estudos principalmente de países asiáticos, como o Japão. Mesmo assim, pesquisadores já dão como certa a viabilidade de se produzir hidrogênio a partir de águas residuárias. “O biohidrogênio produzido por microorganismos como matéria-prima de despejo é viável, dependendo das condições da água e do balanço energético”, explica o pesquisador.

Previsto para ser colocado em prática daqui dez ou 20 anos, o projeto da produção de energia pelo tratamento de águas residuárias depende basicamente da evolução de dois pontos: o trabalho de microbiologia, para entender e melhorar o processo, e de engenharia, para que se faça um equipamento que possa ser implementado em maior escala e que seja seguro em termos de produção, conforme aponta Zaiat. “Não se está mais no escuro. Todos os grupos de pesquisa sobre o assunto sabem que terão um futuro interessante pela frente, embora ainda sejam necessários muitos anos de pesquisa”, estima.

A pesquisa sobre o projeto, apresentado há duas semanas em Curitiba, no 1.º Simpósio de Gestão Ambiental e Mudanças Climáticas, na Universidade Positivo (UnicenP), já rendeu aos professores da EESC-USP, em parceria com pesquisadores do Uruguai, o 5.º Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia, edição 2008.