O alquimista e as leis da gravidade

Descrever em livro a vida de uma personalidade requer ampla pesquisa bibliográfica e documental. Além disso, entrevistas servem de suporte à reconstrução do perfil do biografado e do ambiente em que viveu. Ao investir no resgate da trajetória do cientista Isaac Newton (1642-1727), o professor Eduardo de Campos Valadares, do departamento de Física do ICEx, não se dedicou apenas à reconstituição da vida do cientista. Ele também procurou revelar ao público, de forma interativa, as principais leis e descobertas do estudioso inglês, um dos pilares da ciência moderna.

O trabalho de Valadares culminou com a biografia Newton – A órbita da Terra em um copo d?água, lançada recentemente pela editora Odysseus. O professor da UFMG detalha os caminhos de Isaac Newton e apresenta diversos experimentos – passíveis de serem realizados pelos leitores -, que ilustram teorias do gênio inglês. “Tentei escrever algo acessível ao grande público”, resume o biógrafo. O livro foi escrito a partir de convite feito pelo físico Marcelo Gleiser, a quem Eduardo entrevistara em 2001 para o jornal O Tempo. Gleiser coordena a coleção Imortais da Ciência, que publica biografias de cientistas como Euclides, Arquimedes, Lavoisier e Darwin.

Contra o tempo

Pouco familiarizado com a trajetória de Newton, Valadares correu contra o tempo. Procurou especialistas da UFMG, viajou ao exterior, leu boa parte da bibliografia clássica sobre o cientista e debruçou-se sobre a obra do físico. Dessas investigações nasceu um livro dinâmico, em que o leitor encontra nos experimentos o ideal das pesquisas empíricas – tão característica de Newton -, e a leve e detalhada descrição de uma existência marcada pela disciplina.

Filho de um rico fazendeiro inglês, Isaac Newton não contou em casa com exemplos que o encaminhassem para a ciência. A família do paí era analfabeta. O apoio para trilhar o caminho das pesquisas científicas veio de um tio materno que estudara em Cambridge. Ainda criança, o solitário Newton já exibia qualidades típicas de um cientista, como a engenhosidade e a curiosidade. Construía os próprios brinquedos e passava horas a observar a natureza.

Na juventude, Newton estudou em Grantham, onde aprendeu grego e latim. Como morava na casa de um farmacêutico, acabou dominando as técnicas da manipulação de remédios, que foram, aliás, suas primeiras experiências químicas. Apesar da origem abastada, o jovem cientista não contou com o apoio financeiro da família. Seu pai morrera cedo, e a mãe não aprovava os rumos profissionais do filho. Ela queria vê-lo administrando as fazendas do clã. Por isso, Newton ingressou, em 1661, na Universidade de Cambridge, como aluno carente. Lá, onde passaria 35 anos de sua vida, ele entraria em contato com as clássicas idéias de Aristóteles, preferidas em Cambridge. Além disso, estudava sozinho as obras dos revolucionários da ciência: Kepler, Hooke, Galileu, Descartes, Wallis e Huygens. Todos exerceram grande influência sobre as pesquisas newtonianas.

Apesar da precariedade de recursos, nunca houve impedimento para que Newton buscasse comprovar suas idéias. A criatividade falava mais alto. Que o diga o período em que passou na fazenda da família por causa do temor da peste negra, que obrigou a Universidade de Cambridge a suspender temporariamente suas atividades. Nessas férias forçadas, vieram-lhe à mente pesquisas como o cálculo diferencial integral, as experiências ópticas fundamentais – como o estudo do arco-íris -, a pesquisa da aberração cromática e a formulação das leis gravitacionais.

De vida reclusa, Newton não se casou nem teve filhos. Toda sua existência foi dedicada à ciência, alcançando grande reconhecimento antes de morrer. Tanto que seu enterro foi acompanhado por milhares de pessoas, fato até então inusitado para um cientista.

Serviço:

Livro: Newton – A órbita da Terra em um copo d?água

Autor:

Eduardo de Campos Valadares

Editora:

Odysseus

Coleção:

Imortais da Ciência

Preço:

RE 25, nas livrarias de Belo Horizonte

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