Novo conceito de organização na internet

Há uma nova forma de organizar objetos – arquivos, fotos, listas de sites favoritos – em sites de internet, que de 2004 para cá está chamando a atenção de muita gente. Muitos usuários têm percebido que com esse novo jeito conseguem ter mais eficácia ao buscarem sites interessantes ou artigos científicos, compartilharem fotos, entre outros mecanismos. Essa classificação pode ser feita por qualquer pessoa que esteja cadastrada nesses sites, usando palavras-chaves definidas pelo usuário. Em pouco mais de um ano já se chamou esse modo de classificação de bookmarks sociais, etnoclassificação, entre vários outros termos. Mas o que pegou mesmo foi ?Folksonomy?, palavra criada por Thomas Vander Wal, que, numa tradução livre, significaria taxonomia popular.

A enciclopédia virtual Wikipedia (http://www.wikipedia.org) define o termo como um ?neologismo para a prática de classificação colaborativa usando palavras-chave livremente escolhidas. Coloquialmente falando, refere-se a grupos de pessoas que espontaneamente organizam informações em categorias de modo completamente diferente dos métodos formais tradicionais?.

O uso de ?folksonomies?, ou folksonomias, em sites em que ocorre interação social, permite que pessoas cadastradas atribuam palavras-chaves a objetos e os compartilhem com outros usuários do sistema. O curioso é que essas palavras, também chamadas em inglês de ?tags? (etiquetas), não são definidas previamente pelo desenvolvedor do site, mas são atribuídas pelos próprios usuários, configurando o que alguns teóricos do universo Web chamam de sistema bottom-up, ou seja, que é classificado de baixo para cima.

As redes sociais que surgem de sistemas que aplicam folksonomia são bem diferentes de páginas como o Orkut, em que pessoas escolhem seus grupos de afinidades explicitamente. Nos sites em que há o uso desse recurso, as relações sociais são implícitas – as redes de relacionamento emergem do compartilhamento da classificação e dos interesses dos usuários.

Um exemplo de site que emprega a folksonomia é o del.icio.us (http://del.icio.us), em que o usuário pode usar tags para classificar seus ?bookmarks?, ou favoritos. As palavras-chaves usadas são compartilhadas por todos os usuários do sistema, que cruza os dados e indica em sua página de abertura, os endereços mais recentes que foram classificados, ou mesmo as palavras-chave mais populares, ou seja, as que são mais usadas no site.

Para ingressar como usuário do del.icio.us, basta se cadastrar. Porém, se o interesse é só fazer uma busca, basta entrar no site e procurar o que se deseja. Na coluna da direita, encontram-se as palavras mais usadas para a classificação. Ao se clicar em ?design?, por exemplo, o sistema vai mostrar as ocorrências cadastradas mais recentemente, além de dar a opção de se visualizar os sites que mais foram classificados pelos usuários com essa ?tag?.

Se no Orkut as pessoas conhecem os outros usuários através de perfis, no Delicious vão conhecê-los através das classificações que fazem e dos bookmarks relacionados. ?Mostre-me os teus sites favoritos e eu te direi quem és?, define Pedro Valente, jornalista e mestrando em Engenharia e Gestão de Conhecimento que tem pesquisado sistemas que usam folksonomias. Ele explica que o del.icio.us permite que se possa ver os ?bookmarks? de outras pessoas e as respectivas palavras-chaves com que foram cadastrados, descobrindo assim os interesses de outros usuários. ?Muitas vezes pode se encontrar pessoas que usam as mesmas palavras-chaves para sites que você usa. Então você começa a observar outros sites que foram classificados por essas pessoas e acaba encontrando informações relevantes para você?.

A tendência recente começa a influenciar grandes corporações. Valente cita Nanci Ordman, da IBM, que reconhece que houve um equívoco em conceber o sistema de intranet para funcionários de ?cima para baixo?, e agora estuda adotar em seu sistema de gestão de conhecimentos ferramentas que utilizam folksonomias como uma forma eficaz de atender aos cerca de 315 mil funcionários espalhados pelo mundo, que, além de falarem idiomas diferentes, possuem funções e interesses diversos.

Autores apontam nova revolução

O jornalista e mestrando em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Pedro Valente, explica que para um sistema possa aplicar a folksonomia são necessários três elementos: ?tags?, ou seja, as palavras-chaves, espécie de ?etiquetas? que são usadas para rotular as coisas; os objetos rotulados com essas etiquetas; e os usuários que irão interagir no sistema colaborativo. Numa olhada rápida, o fato de a pessoa poder escolher livremente as tags para classificar seus objetos deveria resultar num caos informativo. Por que isso não acontece?

Para o pesquisador, o grupo de pessoas que usa o sistema percebe a conveniência de utilizar certas palavras-chaves comuns a outros usuários. ?Poucas palavras são muitíssimas usadas, e muitíssimas palavras diferentes são usadas por poucas pessoas. Ou seja, um número pequeno de tags reúne mais gente?. Valente lembra que, ao se clicar numa tag do delicious, por exemplo, surge uma ?comunidade instantânea? de quem usou essa mesma tag.

Valente afirma que a disseminação dessa forma colaborativa de classificação de informações tem tido um crescimento acelerado e alguns autores vêm sugerindo que uma nova revolução está acontecendo dentro da própria revolução que a internet representa. Ele dá o exemplo da CEO da Adaptive Path, Janice Fraser, que imagina que ambientes baseados em folksonomias estão ajudando a criar um novo idioma local para a web. ?Esse argumento faz sentido quando se percebe que as classificações em um mesmo sistema mudam com o tempo?, explica.

Contudo, para Valente, o compartilhamento de informação relevante entre as pessoas ainda é deficiente, perto do que pode ser alcançado. ?O potencial colaborativo da web ainda está sendo descoberto. O delicious não tem nem dois anos de idade e a maioria dos outros sites que adotaram folksonomia surgiram em 2005. Vai ser interessante assistir o momento em que as tecnologias adaptativas, como o sistema de recomendação da Amazon, por exemplo, os sistemas que permitem ao usuário atribuir nota para alguma coisa e as folksonomias se integrarem em alguma coisa nova?, considera. (RD)

Afinidade com pesquisadores

Da mesma forma que o delicious, o citeulike (www.citeulike.org) permite organizar artigos científicos ao invés de páginas da internet. Segundo o jornalista e mestrando da Universidade Federal de Santa Catarina, José Alexandre de Lacerda, através do citeulike é possível encontrar afinidades com pesquisadores da mesma área e monitorar os artigos que eles acrescentam no sistema.

O citeulike permite acrescentar na ?biblioteca pessoal? do usuário, artigos que outros já trouxeram para o sistema, atribuindo tags próprias se quiser, além de poder navegar no ambiente, clicando em palavras-chaves ou nos nomes de outras pessoas que usam o sistema. ?O interessante é que quanto mais gente usa, eu recebo também as tags que os outros atribuíram aos artigos que estão na minha biblioteca. Disso emerge uma ordem de afinidade entre tags, que me ajuda a encontrar áreas do conhecimento que me interessam?.

Ao encontrar um artigo que interessa, o usuário pode acrescentar o endereço do site à sua ?biblioteca?, e acrescentar informações sobre o trabalho. ?No caso dos papers, as tags estão bem próximas das palavras-chaves de qualquer artigo científico. O sistema de inclusão é inteligente. Em muitos casos, ele descobre o nome dos autores do artigo, o título e o resumo, facilitando o trabalho do usuário?. Na página da Science, ao se encontrar um artigo e clicar em ?post to citeulike?, o sistema já completa o formulário de inclusão com o nome do autor e resumo. (RD)

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