Empresa viabiliza destino de lixo

Gerador de grande passivo ambiental, o lixo doméstico é um dos maiores desafios a serem enfrentados na busca da sustentabilidade. Porém, a idéia representada pelo tão dito e repetido jingle ?Se-pa-re?, formulado na década de 90 pela Prefeitura de Curitiba para estimular a reciclagem, não resolve o problema de forma abrangente. Presente em maior quantidade nos aterros sanitários, o lixo orgânico ainda não recebe a devida atenção por parte da mídia e da população.

Uma das empresas participantes da Feira de Inovação Tecnológica de Curitiba (Fitec), a Kras Ambiental trabalha no desenvolvimento de uma ferramenta para a solução desse entrave socioambiental.

De acordo com o sócio-fundador e diretor de projetos, Wílson Antônio Alberice, hoje os resíduos orgânicos representam 52% do lixo jogado nos aterros sanitários brasileiros. Na decomposição é gerado o chorume, líquido que, em grandes quantidades, pode contaminar rios e lençóis freáticos, prejudicando o abastecimento de água. ?O maior problema é que hoje o sistema de destinação destes resíduos é centralizado. Então, a pessoa descarta o lixo e esquece que ele existe, como num passe de mágica. Porém, a acumulação nos aterros é prejudicial ao meio ambiente. Nossa idéia é trabalhar com descentralização, onde cada residência ou condomínio lida com a parte orgânica produzida pelos seus moradores e ainda se beneficia com isso?, afirmou.

Baseado neste conceito é que surgiu o decompositor biológico (DB-5), um sistema doméstico para destinação de parte do lixo orgânico. Através dele, os rejeitos apropriados são depositados em caixas permeáveis povoadas por minhocas vermelhas da Califórnia (Eisenia foetida). Com a ação delas e o contato com a umidade e o ar, a decomposição ocorre de forma acelerada e o composto resultante, o húmus, pode ser usado em substituição à terra preta para adubar jardins, floreiras e gramados. ?Ao contrário do que se possa imaginar, apenas 25% do que for colocado no decompositor vai virar adubo. E, em comparação com a terra preta, o húmus obtido no decompositor é 60% mais nutritivo para as plantas?, disse o biólogo bolsista da Kras e mestrando em microbiologia do solo na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Herlon Nadolny. Para os preocupados com o possível mau cheiro do processo, ele esclarece que não há risco. ?O mau cheiro é causado pelo chorume. Como a caixa é permeável, o líquido escorre para o solo, mas em pequenas quantidades, inofensivas ao meio ambiente?, explicou. Não podem ser colocados na caixa materiais como carnes, laticínios, excrementos de animais e ervas daninhas.

Ainda sem comercialização, o decompositor está instalado experimentalmente em algumas residências para aperfeiçoar o conceito. ?Um dos nossos objetivos é ver como vai acontecer a decomposição em situações diferentes. Então, experimentamos colocar vegetais inteiros para ver como vai acontecer a formação do húmus e a ação das minhocas?, disse Wílson.

Idéia surgida durante um jantar

Nas discussões de quatro amigos, Wílson Antônio Alberice, Alexandre Schlegel, Roberto Ratzke e Luiz Eduardo Ratzke, reunidos para um jantar é que surgiu a idéia de um sistema integrado de gestão ambiental, ponto central da Kras. Alojada desde 2006 na Incubadora Tecnológica de Curitiba (Intec), a empresa foca sua atuação na redução da captação de resíduos urbanos/dia.

De acordo com o diretor-presidente, Alexandre Schlegel, além da ciclagem doméstica do lixo orgânico, feita através do decompositor biológico, a Kras também atua na formação de associações de agentes de meio ambiente (vulgarmente chamados de catadores de papel) e na incineração de lixo hospitalar. ?Baseado nesse tripé podemos reduzir significativamente a quantidade de resíduos destinados aos aterros sanitários?, disse.

Na formação dos agentes ambientais, um dos principais objetivos é o resgate da cidadania desses indivíduos. ?Hoje há muitos intermediários atuando nesse setor. Eles compram o que é coletado pelos catadores a um preço irrisório e vendem por um valor maior às indústrias de reciclagem. Com a associação, os próprios agentes podem vender o que, coletam com melhores preços além de se organizarem para lutar por seus direitos?, explicou Wilson.

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