Doenças raras e devastadoras matam milhares de pessoas todos os anos

Há enfermidades por conta das quais a ceifa de vidas se dá aos milhões por ano no panorama mundial, tais como as variadas formas de câncer. Outras doenças, de ocorrência muito mais rara, impressionam também pelo aspecto de morbidade e mortalidade, mas não pela intensidade estatística. É o caso da progéria ou velhice precoce infantil (síndrome de Hutchinson-Gilford ou de Werner) e da elefantíase (filaríase linfática). A progéria (raríssima) ocorre em torno de um caso para cada 8 milhões de nascimentos (o que equivaleria a 20 casos na população brasileira) enquanto a elefantíase, bem mais comum, assola muito países pobres africanos e asiáticos, e é de diferente etiologia, pois tem a mediação patológica de vermes nematóides (Wucheria bancrofti, Brugia malayi e Brugia timori) transmitidos por mosquitos. Enquanto a progéria acomete praticamente toda base molecular do corpo por um defeito da telomerase (enzima que ?capeia? a cabeça dos cromossomos e é responsável por sua duplicação), a elefantíase se limita às pernas (mais raramente aos braços e dorso).

A progéria é a enfermidade das crianças anciãs que raramente chegam, por conta dos terríveis sintomas (doença cardíaca, calvície com perda dos cílios e sobrancelhas, osteoporose, artrite; aterosclerose), aos 15 anos de idade. Ou seja, ocorre a penalização biológica por conta do envelhecimento precoce. O óbito prematuro geralmente decorre de insuficiência cardíaca ou de algum acidente cerebrovascular por conta da aterosclerose progressiva. Mais recentemente, o dr. Mark Taylor e equipe da Escola de Medicina Tropical de Liverpool (Inglaterra), em trabalho de campo na Tanzânia, encontraram uma forma mais eficiente de controlar a elefantíase: os vermes são metabolicamente dependentes de uma bactéria (Wolbacchia), esta por sua vez controlada através do antibiótico doxiciclina. Setenta e dois homens, dos 15 aos 68 anos pacientes de filaríase, foram recrutados na aldeia Kimang, em Pangani, Tanzânia, e metade foi tratada com placebo (água destilada) e a outra, com doxiciclina durante oito semanas. O antibiótico causou a eliminação completa dos vermes no grupo tratado (pré-eliminando a bactéria simbiótica Wolbachia) e resultou na cura do quadro de elefantíase após 14 meses, afastando o risco de conseqüências mórbidas como a elefantíase escrotal ou hidrocele. Mas como agravante, ocorre uma 2.ª forma de elefantíase, independentemente de infecção parasítica: é a podoconiose, a qual se acredita decorre de contato freqüente com cinzas vulcânicas em certas regiões africanas.

José Domingos Fontana (jfontana@ufpr.br) é professor emérito da UFPR, pesquisador 1A do CNPq (1996-2006) e prêmio paranaense em C&T (1996).

Voltar ao topo