Dejetos de aves vão virar energia elétrica

Um projeto inédito no Brasil deve possibilitar a transformação de dejetos de aves em energia elétrica. O trabalho vem sendo desenvolvido na Unidade Industrial de Aves de Matelândia, pela Cooperativa Agroindustrial Lar, de Medianeira, na região oeste do Estado, com o apoio da Itaipu Binacional (através do Instituto de Tecnologia Aplicada e Inovação da Itaipu e Parque Tecnológico Itaipu).

A Unidade Industrial de Aves de Matelândia contempla um frigorífico que abate cerca de 160 mil aves por dia. Atualmente, os restos destas aves e o esgoto sanitário são tratados pelo processo convencional de tratamento de efluentes, que envolve utilização de flotador e lagoa de tratamento biológico.

Porém, a partir do próximo mês de abril, os dejetos devem dar origem à energia, através de trabalhos que estão sendo desenvolvidos desde o ano de 2006, dentro do Programa de Geração de Energia Distribuída com Saneamento Ambiental.

“Todo o efluente da indústria de aves será acondicionado dentro de dois biodigestores. Estes efluentes contêm metano, que será queimado e servirá de combustível para a produção de energia”, comenta o engenheiro químico da Cooperativa Lar, Ansberto Rodrigues do Passo. “Quando liberado na atmosfera, o metano é 21 vezes mais poluente que o CO  ( gás carbonico). Ele se junta com outros gases e é um dos responsáveis pelo efeito estufa”.

Créditos

Ao reduzir a emissão de gases na atmosfera, o projeto também estará transformando passivos em créditos. Pelo período de dez anos, a organização será compensada por seu trabalho com créditos de carbono, conforme o que é instituído pelo Protocolo de Kyoto.

A estimativa é de que a transformação dos dejetos em energia rendam cerca de 20 mil créditos de carbono por ano, sendo que, também a cada doze meses, irão deixar de ser emitidas 20 mil toneladas de CO .

“A comercialização desses créditos irá gerar uma renda variável, que depende de cotação em bolsa, mas que deverá ser superior a 120 mil euros por ano”, comunica a Itaipu.

Parte da energia produzida será utilizada dentro da própria Unidade Industrial de Matelândia, gerando uma redução de consumo de 20% no horário das 19h às 22h (quando a energia é aproximadamente nove vezes mais cara para as indústrias).

A energia excedente será vendida à Copel, sendo que o contrato de comercialização foi assinado no último mês de fevereiro, em Curitiba. “Entre o economizado e o vendido, a unidade deve economizar R$ 60 mil, fora o que deve render em créditos de carbono. No total, o projeto de transformação de resíduos em energia teve investimento de R$ 4 milhões”, diz Ansberto.

Segundo a Itaipu, no caso da cooperativa Lar, os créditos de carbono foram calculados pela empresa espanhola ZeroEmissions, do grupo Abengoa, e levam em conta três fatores: “O tratamento aeróbico do gás metano (que passa a ser capturado das lagoas de tratamento de efluentes para gerar energia), a cobertura das lagoas de tratamento (antes expostas) e a geração própria de energia limpa, a partir de fonte renovável. Ao deixar de consumir energia da rede pública, a cooperativa também diminui emissões, porque parte da energia disponibilizada pelo sistema elétrico brasileiro é produzida por termelétricas a gás e a carvão”.

Programa já é bem difundido na Europa

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Divulgação
O contrato de comercialização foi assinado com a Copel no último mês de fevereiro, em Curitiba.

O Programa de Geração de Energia Distribuída com Saneamento Ambiental já é bastante conhecido e difundido pelos países da Europa. A ideia é que, no futuro, o trabalho desenvolvido pela Cooperativa Lar passe a ser replicado em outras partes do País. Além da indústria de aves, a transformação do metano em energia pode ser realizada em lixões, dentro da suinocultura, entre outras áreas.

“A Itaipu está participando deste projeto com o objetivo de cumprir seu papel na contenção das mudanças climáticas percebidas no planeta. Acreditamos que a transformação dos dejetos em energia vá beneficiar todo o agronegócio da região de Matelândia, sendo que os resíduos orgânicos produzidos pelo mesmo são poluentes tanto à atmosfera quanto à água. Além de ser realizada na indústria de aves, a produção de energia a partir de efluentes pode ser realizada em outros tipos de produção animal, com o lixo urbano e o esgoto humano”, afirma o superintendente de energias renováveis da Itaipu Binacional, Cícero Bley.

Quando a geração de energia começar a ser colocada em prática, um observatório internacional para observação e divulgação da produção também deve começar a funcionar na região de Matelândia. Além da Itaipu, da Copel e da Zero Emission, participa do projeto a Sanepar.

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