Como minimizar as catástrofes naturais

Há pouco mais de um ano, o terremoto de 26 de dezembro de 2004 causou o deslizamento horizontal de 10 a 15 metros na interface entre as placas da Índia e da Ásia, e uma ruptura da crosta terrestre de 500 a 600 km de comprimento e 150 km de largura. Ao sul e a oeste da ponta norte de Sumatra, o sismo liberou subitamente forças e deformações acumuladas há séculos. Em menos de 4 minutos, as ondas de choque sacudiram toda a província de Aceh, devastando-a quase totalmente, ao mesmo tempo em que provocou o maior tsunami transoceânico em 40 anos.

Seus efeitos destruidores foram sentidos na Índia, Sri Lanka, Maldivas, Sumatra, Tailândia e na Malásia. Por onde passou, deixou um rastro de destruição e morte jamais registrado. Matou mais do que nenhum outro na história.

Nesses últimos doze meses, ocorreu uma onda jamais vista de terremotos, furacões, inundações e alterações climáticas que deixou profundas marcas no meio ambiente. Além da destruição da cidade de Nova Orleans, os furacões Katrina e, em especial o Wilma, arrasaram a parte mais frágil dos ecossistemas, como os recifes de coral da costa mexicana, assim como destruíram mais de 300 hectares de floresta.

Dentro do conceito de ecologia cósmica, segundo o qual somos parte do megaecossistema que constitui o universo, é possível demonstrar que a ausência por um longo intervalo de tempo de um fenômeno sísmico, numa determinada região, não significa que ele jamais vai se repetir de novo neste sítio. Quanto mais tempo a natureza estiver calma, não deve ser esquecida. Algo está sendo preparado. Na realidade, os grandes arquitetos das nossas paisagens terrestres são as forças acumuladas e desencadeadas pelos sismos que constroem e destroem todos os relevos do nosso planeta.

Diante das últimas catástrofes naturais, a única saída capaz de reduzir o número de vítimas e os prejuízos materiais será a decisão dos governos em aplicar mais recursos nas pesquisas em geofísica e, para as alterações climáticas, em meteorologia.

É vital continuar realizando as observações do nosso planeta na fronteira das técnicas existentes, procurando conhecer e compreender o funcionamento das falhas tectônicas e processos climáticos. À medida que melhor o conhecemos, mais confiáveis será o sistema de alerta que deverá ser constantemente alimentado e aperfeiçoado pela pesquisa. Nenhum domínio exige um apoio e um investimento cada vez maior por um período mais longo do que esses setores de pesquisa.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é fundador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins e autor de mais de 76 livros. Consulte a homepage: www.ronaldomourao.com  

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