Saiba o que motiva a depressão pós-parto nas mamães

No momento da chegada do bebê, a mãe passa por um turbilhão de emoções. Surgem as novas responsabilidades em um período difícil de adaptação da vida, voltado principalmente para atender as necessidades da criança. Todos em volta esperam que a mãe esteja contente com o nascimento do filho e com as mudanças que aparecem a partir da vinda desse novo integrante na família. Mas nem sempre a mãe se sente feliz como os outros imaginam.

No pós-parto, a mulher pode passar por um período de tristeza, o que é considerado normal pelos especialistas. No entanto, há mulheres que podem desenvolver a chamada depressão pós-parto, uma doença séria e que deve ser tratada. A psicóloga Anna Mehoudar, autora do livro Da gravidez aos cuidados com o bebê (Summus Editorial), explica que existem diferenças entre essa tristeza que aparece em muitas mulheres e a tão temida depressão pós-parto. “Depois do nascimento do bebê, estima-se que 80% das mulheres entristeçam em algum momento”, afirma.

Este período de tristeza aparece, normalmente, logo após o parto e pode durar alguns dias. Depois disso, este sentimento vai embora e a mãe retoma a sua vida. O médico obstetra Vinícius Pacheco Zanlorenci, credenciado da Paraná Clínicas, esclarece as causas do surgimento dessa tristeza logo após o parto. O principal motivo é a queda acentuada dos hormônios, o que mexe com todo o corpo da mulher. Além disto, há mudanças na rotina da mulher para os cuidados com o bebê. “Ela tem que cuidar do bebê, tem a falta de sono e as mudanças hormonais”, salienta.

Anna lembra que a mãe precisa metabolizar todas estas mudanças e as dúvidas vão surgindo naturalmente. “Ela pensa que agora é responsável pelo filho e o que será da vida dela. Os bebês pedem a disponibilidade de um adulto 24 horas por dia, principalmente nos dois primeiros meses de vida. A mulher pode viver esta oscilação, de tristeza, de chorar sem saber o porquê. Mas a tristeza tem um período intenso e depois passa”, comenta a psicóloga.

Casos mais graves

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Durante a gravidez, a mulher tem uma carga maior de hormônios, que cai abruptamente com o parto, fazendo com que surja uma tristeza natural.

O sinal de alerta acende, entretanto, quando a mulher deixa de se cuidar e esquece a assistência à criança. A falta contínua de alegria e o desinteresse nas atividades do dia a dia podem ser sintomas da depressão pós-parto, que pode vir à tona meses após o nascimento da criança. Estima-se que 5% a 10% das gestantes desenvolvem posteriormente um quadro de depressão. Quem está próximo desta mulher deve ficar atento aos indícios e procurar um médico, que pode ser aquele que acompanhou o pré-natal, para buscar mais informações.

Uma mulher com histórico de depressão durante a vida pode ter mais chances de desenvolver um quadro de depressão pós-parto. “As dificuldades socioeconômicas e a falta de aceitação familiar podem também influenciar”, esclarece Zanlorenci. Para Wagner Barbosa Dias, coordenador do programa Mãe Curitibana, da Rede Cegonha de Curitiba, as questões familiares envolvendo a gravidez e o nascimento da criança podem influenciar no surgimento da depressão pós-parto. “Quem teve uma gravidez planejada, com suporte familiar, tem menos riscos de desenvolver a depressão, durante a gravidez e no pós-parto”, ressalta.

De acordo com ele, as equipes que cuidam da mulher durante o pré-natal também devem prestar atenção em possíveis sintomas. Outra preocupação é com as pacien,tes usuárias de drogas e de remédios antidepressivos. Nestes casos, há mais riscos da depressão aparecer. O tratamento para a depressão pode incluir participações em grupos de apoio, sessões de terapia com psicólogos e até mesmo um acompanhamento de um psiquiatra, com a prescrição de medicamentos. Na rede pública, durante o pré-natal, a mulher e a família podem procurar a unidade básica de saúde, que fará o encaminhamento para um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), dependendo do caso.

No pós-parto, deve-se procurar a maternidade onde a mulher fez o parto. As equipes do hospital também farão o direcionamento. Para Anna, na depressão pós-parto, os familiares devem tomar cuidado da mãe e, muitas vezes, será necessário assumir as funções na atenção à criança. “Quem está ao lado deve oferecer apoio, e não acusar esta mulher”, avalia. A observação e o envolvimento da família são essenciais para que a mãe consiga reverter o quadro de depressão, evitando inclusive consequências para o bebê.